ARS SUPREMA
Este, nos duros
mármores polidos,
Dos deuses animou
a efígie augusta
E aos monumentos
deu a linha justa,
No bronze que
memora os tempos idos.
Este no escrínio
pôs a arte que ajusta
Paciente as gemas,
este áureos tecidos
Broslou, este da
taça os esculpidos
Relevos rebruniu,
este venusta
Imagem nos
painéis, em obras-primas,
A cores debuxou no
molde terso;
Mas este, o sumo
artista, este as opimas
Formas lavrou, na
inspiração diverso,
E perfeito,
elegendo as pulcras rimas,
De pérolas e
estrelas fez o verso.
HORA ESQUISITA
Ressoavam no ar
baladas dolorosas
Quando, ó
mistério, de improviso entraste:
Vencemos dos
destinos o contraste,
Num só rosal
nasceram duas rosas!
Abri-te as mãos
como asas amorosas,
Pálido lírio em
flor na tênue haste,
Dos orvalhos
noturnos estilaste
As pérolas das
lágrimas piedosas.
Hora esquisita,
prêmio e desventura!
Ias partir de
novo, sendo minha,
E em ti levando na
alma quanto eu tinha.
Sorri, choraste, e
amor que inda nos dura,
Um beijo só,
chegada e despedida,
Fez de um minuto
toda a nossa vida!
OS TEMPOS
Este que vai e os
passos indecisos
Trôpego arrasta no
caminho incerto,
Nunca escutou do
tempo os maus avisos,
Cada dia lembrando
o fim tão perto.
Intrêmulo cruzou
mar e deserto,
Dilatadas
planícies e altos visos,
Floreou a espada a
peito descoberto
Colheu nos bailes
graças e sorrisos.
Paixões, trabalhos
e perigos tantos,
Tudo outrora
venceu. Hoje, acurvado,
Fitando a terra
chora os desencantos.
E essa carcaça
lúgubre e medonha,
Levando o extinto
corpo do passado,
Como em suspiros
diz: "Triste quem sonha!"
SÓ
Em torno a mim os
homens falam, freme
A inquieta
multidão, de um e outro lado,
Ânsia, febre,
delírio, ardor, cuidado,
Vida que veio e
vai sem lei nem leme...
Este em cantos
exulta esperançado.
Este sorri, este
entre dores geme.
Eis a virtude, o
vício, o impuro, o estreme,
Feliz ou malfeliz,
cada um seu fado.
Homem sou. Como os
outros, pelo mundo
O caminho comum
percorro e sigo.
Mas, estando, não
estou, só estou comigo:
Do clarão de outro
sol o peito inundo,
De tudo
indiferente me desligo,
Para olhar em
silêncio o céu profundo...
CAMINHOS
Caminhos da minha
vida,
Caminhos do meu
andar...
Errando entre ida
e vinda
Andei a terra,
andei o mar.
Esperança deu-me
alento
E, as asas livres
no azul,
A correr mundo com
o vento
Voei ao norte,
voei ao sul.
Vales, plainos,
bosques, montes,
Caminhos chãos,
campo em flor,
De todos os
horizontes
Vi abrir-se o
resplendor.
Largado pelas
estradas,
Romeiro cheio de
pó,
De sol a sol,
caminhadas,
Peregrinei, crente
e só.
Cruzei o mar,
velas soltas,
Vi o deserto e os
areais
E o rio com as
suas voltas,
Sem duas voltas
iguais.
Entre alegria e
gemidos,
Pelo sonho
divaguei.
Ah, meus caminhos
perdidos
A que não mais
tornarei!
Onde agora,
incerto passo,
Me levas na vida,
ao léu?
Nos infinitos do
espaço,
Deixa-me ir dos
céus ao céu.
Onde a entrada,
onde a saída?
Quem vai não sabe
voltar.
Caminhos da minha
vida,
Caminhos do meu
andar...
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