MINHA MUSA
Minha musa é a
lembrança
Dos sonhos em que
eu vivi,
É de uns lábios a
esperança
E a saudade que eu
nutri!
É a crença que
alentei,
As luas belas que
amei
E os olhos por
quem morri!
Os meus cantos de
saudade
São amores que eu
chorei,
São lírios da
mocidade
Que murcham porque
te amei!
As minhas notas
ardentes
São as lágrimas
dementes
Que em teu seio
derramei!
Do meu outono os
desfolhos,
Os astros do teu
verão,
A languidez de
teus olhos
Inspiram minha
canção...
Sou poeta porque
és bela,
Tenho em teus
olhos, donzela,
A musa do coração!
Se na lira
voluptuosa
Entre as fibras
que estalei
Um dia atei uma
rosa
Cujo aroma
respirei...
Foi nas noites de
ventura,
Quando em tua
formosura
Meus lábios
embriaguei!
E se tu queres,
donzela,
Sentir minh’alma
vibrar,
Solta essa trança
tão bela,
Quero nela
suspirar!
E dá repousar-me
teu seio...
Ouvirás no
devaneio
A minha lira
cantar!
NO BANHO
Ninfas do bosque,
Naiades formosas,
Sátiros, Faunos,
vinde vê-la agora,
Nua, no banho,
esta ideal senhora,
Que em beleza e
frescura excede as rosas.
Vinde todos
depressa!... Ei-la que cora,
Ei-la que solta as
tranças graciosas
Sobre as espáduas
níveas, capitosas...
Ei-la que treme à
loura luz da aurora...
Tinge-se o céu de
cores purpurinas,
O sol desponta; as
tímidas boninas
Mostram à luz os
cálices dourados.
Vêde-as, Ninfas,
agora: os nacarados
Lábios, os seios
túmidos, nevados,
Segredam coisas
ideais, divinas.
ZÉ PACATO
Ora bolas!... Ora
balas!
Eis-me aqui as
cabriolas,
Posso agora, sem
virá-las,
Minhas balas,
minhas bolas...
Deu-me agora nas
violas,
Inventar esta
secção,
Para balas... para
bolas...
Carambolas... que
me dão!
O meu programa
É este sem mais:
Fazer versos
Que deem-me fama.
E sendo, leitor
assim
Quero que a elas
leitora
Rimando a canção
sonora,
Bondosa, goste de
mim.
E eu fugindo agora
dela
Mais ligeiro do
que um gato
Humilde, sem mais
aquela
Me assino de
ZÉ PACATO.
ÊXTASE
Quando às horas
silentes da noite,
Doce flauta
descanta no ar,
Quando as vagas
soluçam baixinho
Sobre a praia que
alveja o luar!...
Solta o vate das
cordas da lira
Mil canções
deleitosas, d’amor
Que se orvalham
nos puros fulgores
Do luar que
inebria o cantor...
Sobre as cândidas
vestes da brisa
Que se imerge no
bosque sombrio,
Manda o vate
canções deleitosas
Que se espalham
nas ondas do rio.
E as donzelas que
escutam de longe
Sentem gozo, porém
de matar!...
E o cantor que
soluça seus trenos
De saudade lhes
manda um adeus!...
Em presença dos
astros que dormem
Sob as brumas
cerradas dos céus!...
E as donzelas
saudosas suspiram
Para o lado que
foge o cantor...
E lhes mandam mil
beijos na brisa
Mil suspiros
banhadas de amor
A CRIANÇA SUICIDA
Pobre criança!...
Pobre... Um pensamento impuro
apagou-te da mente
os sonhos infantis...
Quanta dor! quanto
amor no teu semblante puro
ao ver-te só no
mundo entregue aos homens vis!...
E um dia a
sociedade, esse vampiro enorme,
que o sangue chupa
ao justo e poupa a tirania,
essa ave negra, viu-te,
arroxeado e informe,
o corpo de criança,
a alma... já não via!...
Como era triste o
quadro! A boca se entreabria
como s’inda quisesse
um ai! Soltar ao mundo.
A negra multidão
te olhava e parecia
tocada de pavor e
de um ódio profundo!
Via-se em cada
rosto um riso de ironia,
como desafiando os
céus e o mundo inteiro.
Uma criança loira
os lábios entreabria
e apontava
sorrindo o corpo do caixeiro!...
E o corpo, já sem
vida, o vento balouçava!
Era como uma lâmpada
sombria, negra,
alumiando o
povo... A multidão cismava
e ouvia-se
distante a voz da tontinegra...
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário