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sábado, 21 de novembro de 2015

Aloísio de Castro: "5 Poemas"

ARS SUPREMA

Este, nos duros mármores polidos,
Dos deuses animou a efígie augusta
E aos monumentos deu a linha justa,
No bronze que memora os tempos idos.
Este no escrínio pôs a arte que ajusta
Paciente as gemas, este áureos tecidos
Broslou, este da taça os esculpidos
Relevos rebruniu, este venusta
Imagem nos painéis, em obras-primas,
A cores debuxou no molde terso;
Mas este, o sumo artista, este as opimas
Formas lavrou, na inspiração diverso,
E perfeito, elegendo as pulcras rimas,
De pérolas e estrelas fez o verso.


  
HORA ESQUISITA

Ressoavam no ar baladas dolorosas
Quando, ó mistério, de improviso entraste:
Vencemos dos destinos o contraste,
Num só rosal nasceram duas rosas!
Abri-te as mãos como asas amorosas,
Pálido lírio em flor na tênue haste,
Dos orvalhos noturnos estilaste
As pérolas das lágrimas piedosas.
Hora esquisita, prêmio e desventura!
Ias partir de novo, sendo minha,
E em ti levando na alma quanto eu tinha.
Sorri, choraste, e amor que inda nos dura,
Um beijo só, chegada e despedida,
Fez de um minuto toda a nossa vida!

  

OS TEMPOS

Este que vai e os passos indecisos
Trôpego arrasta no caminho incerto,
Nunca escutou do tempo os maus avisos,
Cada dia lembrando o fim tão perto.
Intrêmulo cruzou mar e deserto,
Dilatadas planícies e altos visos,
Floreou a espada a peito descoberto
Colheu nos bailes graças e sorrisos.
Paixões, trabalhos e perigos tantos,
Tudo outrora venceu. Hoje, acurvado,
Fitando a terra chora os desencantos.
E essa carcaça lúgubre e medonha,
Levando o extinto corpo do passado,
Como em suspiros diz: "Triste quem sonha!"

  


Em torno a mim os homens falam, freme
A inquieta multidão, de um e outro lado,
Ânsia, febre, delírio, ardor, cuidado,
Vida que veio e vai sem lei nem leme...
Este em cantos exulta esperançado.
Este sorri, este entre dores geme.
Eis a virtude, o vício, o impuro, o estreme,
Feliz ou malfeliz, cada um seu fado.
Homem sou. Como os outros, pelo mundo
O caminho comum percorro e sigo.
Mas, estando, não estou, só estou comigo:
Do clarão de outro sol o peito inundo,
De tudo indiferente me desligo,
Para olhar em silêncio o céu profundo...



CAMINHOS

Caminhos da minha vida,
Caminhos do meu andar...
Errando entre ida e vinda
Andei a terra, andei o mar.
Esperança deu-me alento
E, as asas livres no azul,
A correr mundo com o vento
Voei ao norte, voei ao sul.
Vales, plainos, bosques, montes,
Caminhos chãos, campo em flor,
De todos os horizontes
Vi abrir-se o resplendor.
Largado pelas estradas,
Romeiro cheio de pó,
De sol a sol, caminhadas,
Peregrinei, crente e só.
Cruzei o mar, velas soltas,
Vi o deserto e os areais
E o rio com as suas voltas,
Sem duas voltas iguais.
Entre alegria e gemidos,
Pelo sonho divaguei.
Ah, meus caminhos perdidos
A que não mais tornarei!
Onde agora, incerto passo,
Me levas na vida, ao léu?
Nos infinitos do espaço,
Deixa-me ir dos céus ao céu.
Onde a entrada, onde a saída?
Quem vai não sabe voltar.
Caminhos da minha vida,
Caminhos do meu andar...