quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Flora Egidio Thomé: "5 Poemas"

FERROVIA X RODOVIA

Lá vem um trem
correndo vem
fazendo curva
jogando apito
cheio de trem...

Eu vejo um trem
um outro trem.
Trem. Mais trem.

É trem que chega
trazendo gente
cheia de trem.
Trem. Muito trem.

Que tenho eu
com esse trem
que longe vem
se não me traz
nenhum alguém?



ESTAÇÃO FERROVIÁRIA X RODOVIÁRIA

Era um bonito prédio
altivo soberbo imponente
- próprio para encontros e despedidas -

lembrava até um pássaro branco branco
prestes a voar

Erguido no vértice de duas avenidas
como se estivesse a namorar
noite e dia a bucólica confluência
de nossas praças e ruas
que pareciam franjas
trilhadas e bordadas...

De um lado
por caminhos de areia
e de outro
por trilheiros de aço
que se estendiam ao longo da vida...
Tinha voz tinha silvo tinha eco
para os encontros e despedidas.
...............................



AREIA X ASFALTO

“... areia da grossa, areia da fina... areia me faça ficar pequenina”. Palavras mágicas da fada do Sininho, do livro PETER PAN, não povoaram meu universo fantasioso de criança, mas areias quentes e escaldantes, sulcadas por rodas de carroça, carros-de-boi, cruzando preguiçosamente as ruas e avenidas que permearam nossa infância:

Olhando pra rua
me vejo criança
me vejo menina
deitada na areia
brincando na areia
fazendo castelos
castelos de areia...

Me sinto mulher
e olho pra rua...
Ah eu tenho desejos
( ah! desejos impossíveis)
de ser outra vez criança
de deitar na rua
de brincar na areia
de fazer castelos
castelos de areia...

Hoje só me restam os castelos de areia!

... areia, como o sonho e vontade, parecia não ter fim e, aos poucos, vieram a pedra, o pedrisco e betume tomando o lugar da grossa areia das ruas e avenidas. Era o progresso chegando, mudando o cenário, a paisagem e o próprio chão... E a memória silenciosa tem um poder que muito nos fala:

“Ontem, Avenida Central
Hoje, Antônio Trajano
90 anos de passarela:

......................
 e nesse mosaico
de apitos acenos ponteiros
reces cânticos
árvores areia pedras
e silhuetas
humana, animais e vegetais
90 anos de passarela!
Ontem, Avenida Central,
Hoje, Antônio Trajano”



RIO SUCURIÚ X RIO PARANÁ

Rio caudaloso
espia e espelha velha ponte.
Pedaço de nós.
e
De assalto em assalto
acabaram-se os saltos
de Itapura e Urubupungá



TRÊS LAGOAS – EM PROSA E VERSO

Entre agora e depois
o instante é ponte
que me leva ao amanhã.


Quanto tempo se passou desde que a história de um povo era transmitida pelos mais velhos a seus descendentes. Contada e recontada, preservaram-se os costumes de um grupo, região ou comunidade. Hoje nesse mundo globalizado, as máquinas, e-mails, faxes, telefones e webcans aproximam pessoas e entidades nos mais distantes lugares, tornando o processo mais rápido e eficiente. Poucos, bem poucos conheciam o ontem de sua família, cidade ou país. Parece que memorizar são coisas de antigamente... Mesmo assim, muitos mal vivem o hoje e o hoje é véspera do futuro... e a humanidade está mais voltada para o amanhã. Ao trazer alguns aspectos marcantes do início de nossa cidade, não o faço por saudosismo, mas para oferecer aos estudantes e jovens, leitores e amigos, um pouco desse passado tão esquecido ou pouco divulgado. Tentamos fazê-lo esperando contribuir, em parte, para resgatar, vultos, fatos ou eventos da (ex) Caçula de MS. “A memória não é útil somente para dar erudição. Também o é para a conduta da vida...”


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Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: nº 4 - junho de 2004.

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