TRAJETÓRIA
Ginástica sueca
aeróbica também
movimentos de
qualquer época.
O mesmo vai-e-vem:
endireitar o corpo
levantar a cabeça
deixar cair as
mãos.
Pés lado a lado
como se preparados
para o primeiro
passo.
Ai! que cansaço!
Tanto esforço
para um dia dizer
“eu ainda posso”.
Na mesmice dos
movimentos
alcanço o chão
estendo o braço
estiro a mão
uma para o céu
outra para baixo.
Infinita distância
para o pouco que
faço.
Ai! que cansaço!
Em gestos lassos
o movimento expõe
sua interrogação.
Quando acabar
terá parado o
coração?
A dor e o amor
que caminho
seguirão?
Não quero saber o
que sei.
Agora os gestos
existem.
Um dia me tornarei
incapaz de um
passo.
Estática.
Apenas uma mulher
volatizada no
espaço,
deslizando
numa nuvem
qualquer.
CONTRADIÇÃO
O coração cansado
torna menores os
meus passos.
Mas desatrelada de
limites
sou mulher de
longos braços;
valente e
destemida
hei de prolongar a
vida
no surpreendente
dia-a-dia
de um tempo
indeterminado.
No âmago de cada
instante
hei de reter a
vibração contida
e os cantares de
um novo amor.
Sou uma
aventureira
insisto em
prosseguir viagem
no trote dos
animais jovens
sem paradas até o
sol se pôr.
Mas como chegar
mais além
se meu coração
pede descanso?
Se mal consegue
sustentar
a pequena
respiração
curta e breve
como o perdido
instante?
Se sua batida
hesitante
é apenas um
vai-e-vem
cerceando os
movimentos
na timidez do seu
balanço?
DIZERES DA INUTILIDADE
De que valho eu
agora
na tua frente
parada
sorrindo na minha
hora
como se estar aqui
fosse nada?
Não adianta
mostrar o coração
repetindo a mesma
batida
para fazer de
conta que é vida
o ritmo repetido
em vão.
De que valem
minhas mãos
se não podem te
fazer carinhos?
Não adianta
abrirem-se flores
na beira dos
caminhos
para fenecer em
solidão.
De que valem
minhas palavras
se não chegam aos
teus ouvidos?
Não adianta ao
pássaro ter asas
para alçar vôos
perdidos.
De que valem meus
olhos
se não sabem te
dizer
o sentimento mais
profundo?
Não adianta
mergulhar fundo
para ferir-se
entre abrolhos
e cegar-se no
mundo.
DIZERES DO DESEJO
Quero um novo amor
Ainda que tardio.
Quero estar
contida
no círculo de dois
braços,
meu coração
clamando por outro.
Presa e liberta
das voltas do mundo,
das antigas
lágrimas esquecida,
distante dos meus
cansaços,
quero viver o
momento fugidio
o breve instante
a plenitude
atingida.
Quero o calor dos
gestos
num hausto
profundo
de retorno à vida.
Quero te fazer o
carinho maior
e também o menor,
o carinho mais
desejado
e também o nunca
pressentido.
Quero descobrir um
gesto inusitado
e no teu corpo
inventar
um desenho jamais
percorrido.
Minhas mãos serão
suaves,
minha face há de
roçar
tua fronte e teus
pés,
descendo num único
movimento
até alcançar o
ritmo consentido.
Nesse momento
singular,
ligados pela mesma
cadência,
numa fração de
tempo
chegaremos ao
infinito.
Um no outro será o
nosso espaço.
Jamais haverá
distância
após tão profundo
abraço.
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Fonte:
Revista Brasileira: Fase VII - JULHO-AGOSTO-SETEMBRO 2002 - Ano VIII - N° 32 (Academia Brasileira de Letras)
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