quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Paulo Ronalth: "5 Poemas"

A VOZ E O VENTO

Com o vento fazem-se a voz
e as palavras
que viajam e são
facas afiadas
ou plumas de algodão.

Vibração, transformação,
Calma, fogo na alma
insistente desejo
Persistente sonho
por sobre a pele morna,
tenra, límpida.

O brilho de
mil girassóis filtrando
teu rosto, teus seios e a bela
paisagem nua de teu ventre.

Com a voz e as palavras,
que faço?
Nestes dias intensos
em declive de gume de mil facas.

Voz e vento, ambos passam
mas as palavras, ah! as palavras ficam
facas afiadas
ou plumas de algodão?

Sei não!



MUCURIPE

Pedi ao Mucuripe, o farol
Não deixasse afundar navio
Na noite, no dia ou no frio
Que fosse luz no arrebol.

Pedi um pouco mais:
Pedi que iluminasse o ar
Pedi foram os seus sinais
Ao vento qu`irá chegar.
Para ao abrigo do cais,
Navio encontrar um lugar.

É o segundo farol,
Aviso à navegação.
No ponto onde nasce o Sol,
Não me deu resposta não.

Mas a o navio ancorou,
Como sinal de confiança,
Por entre os morros na barra,
Falou-me, sem me dizer nada:
Que devo ter esperança!



O ESPELHO

Quem me olha e é sempre bem
[mais velho do que eu?
Contudo, o meu rosto...
Torna-se cada vez menos estranho...
Deus! Deus! Acho que este é meu pai!
Meu pai que há pouco morreu!
Somos assim...
Duros, os meus olhos querem saber:
“O que foi feito de nós?!”
Vagarosamente concluo, face a face, a
[cada sulco na face.
Eu sou a ti idêntico,
Vagarosamente concluo, face a face, a
[cada sulco na face.
Aquela teimosia, sempre...
Nossos enganos, por fi m, os mesmos.
Mas sei que o vi, um dia em mim
No espelho, face a face.
Vi-o sorrir, lágrimas nos olhos,
Sem o velho orgulho.
“O que foi feito de nós?!”

  

AMOR AO EXTREMO

Me solta a pele das lembranças,
Desde quando perdemos a cabeça!

Desde quando perdemos o jeito à desculpa,
Nasceu uma dor profunda!

E esta dor da ausência em mim é outono,
Esta dor ausência torna-me árvore desfolhada

Esqueço que todos nós esquecemos,
E a nossa história fica estagnada, parada...
Se deixarmos os sonhos e as saudades
Ficar colados na pele que se perde todos os dias.
Aos poucos nos vamos se desfazendo,
Então falta uma carícia, uma lágrima,
Um poema, falta uma canção
Umas palavras de amor ou mentiras,
Então quando as bocas se juntam num beijo,
Fica o mel do abraço, fica a beleza do sonho.
Para mim o amor tem que ser assim:

Explodimos de alegria
Ou nos despedaçamos de dor!

Para que amor que não vai ao extremo?

  

POEMA DE LUISA

Luisa de branco é a nata, a escol.
Belo botão a desabrochar...
É o prodígio da vida
E o de ser mulher...
Sopro suave do vento.
Cabelos de mel
Derramados do céu!
Veio trazer alegria
E inspirar poesia!
Sinto teu perfume.
Doce fragrância!
Te vejo iluminada.
Igual a uma criança...
Passeias descalça em meu sonho.
Luisa é o sal,
Que dá sabor a vida
E o doce que anestesia as feridas!
É luz na escuridão!
Um conforto, o alivio da dor.
Luisa é o sossego em flor!


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Fonte:
Revista Acadêmica da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes, edição IV, ano 2013, Fortaleza, 2013.

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