O HOMEM E A FELICIDADE
O homem era uma
flor no jardim do céu...
Numa tarde bonita,
de um sol bonito,
uma mulher divina,
chamada Felicidade,
passeando no
sossego e na calma do jardim celeste,
encontrou-a, a
sorrir,
feliz entre as
outras flores da roseira,
encantada,
brincando,
disfarçada,
levou as suas mãos
macias, veludosas,
para a furtar...
Mas, que
infelicidade! O jardineiro,
um velho de
cabelos brancos, o Destino,
assistiu a cena do
roubo...
E a Felicidade,
coitada, toda nervosa
e sem graça, com
um sorriso frouxo nos lábios
deixou que a flor
caísse no chão...
É por isso que a
Felicidade vive presa lá no céu
e que o homem anda
rolando aqui na terra...
CATIVO
A uma mulher que já passou...
Maria –
sorriso do meu
sonho!
Foi numa tarde
fosca de janeiro
que te conheci...
quando passavas
assim
toda grácil
e heril
como um sonho, uma
ilusão,
nesse poema
inteiro do meu coração.
Maria –
lágrima da minha
vida!
Foi numa sala
modesta
cheia de riso e de
festa
que nem olhaste
indiferente
no meio daquela
gente...
Nos teus olhos
redondos e pretinhos
pude ver quando me
viste,
um caminho de
rosas e de espinhos...
Maria –
mistério do meu
amor!
Foi numa noite
argêntea, de luar,
Que ouvi o teu
falar...
A tua voz olímpica
de santa,
ficou eternamente
presa
dentro de
minh’alma.
Maria... não te
queria falar...
Mas, foi naquela
tarde fosca de janeiro,
quando passaste
ligeira,
toda vestida de
branco,
com um sorriso nos
lábios,
sem ressabios,
que eu te
conheci...
e desde então,
Maria,
ficaste no meu
coração!...
ELEVAÇÃO
O céu recamado em
oiro diluído,
as nuvens
flutuando na beleza das alvoradas,
as estrelas nas
noites de luar,
o luar nas noites
estreladas;
a Terra coberta de
folhas e de pétalas,
as paisagens soberbas
e tranqüilas,
as florestas
selvagens e ondulantes;
as montanhas
vestidas de verde,
os campos
floridos, verdejantes,
os árvores
ramadas;
tudo, tudo isso,
enche de alegria
os meus olhos...
O sussurro leve do
vento,
o gemido vago da
noite,
o silvo da viração
silente,
a melodia mágica
dos ninhos;
os zumbidos das
abelhas,
o ruído suave das
asas,
a festa lírica do
passaredo que canta,
o eco de um
violino que chora, em surdina;
o murmúrio de um
beijo dado em silêncio,
o abraço de duas
almas que se encontram,
o múrmuro
cascatear das fontes,
a exaltação de uma
prece;
a sonoridade das
águas que passam cantando,
a palavra
carinhosa dos namorados,
a sinfonia
estranha das ondas bravias do oceano;
tudo, tudo isso,
enche de ternura
os meus ouvidos...
e você, criança
loira,
enchendo de luz a
minha vida,
enche de amor meu
coração...
INCERTEZA
Que será que
sinto?!... Que será que tenho?!...
Não sei explicar
aos homens,
nem o que sinto...
nem o que tenho!...
Ah! se eu
pudesse...
Mas, não sei se os
homens me compreendem,
nem se sentem o
que estou sentindo
nesta alma que
sonha, que sofre, e que padece!...
Nem sei se amor ou
se ódio
esta calma serena,
esta revolta funda,
que quando mais
perto das feras me coloca,
quanto mais dos
homens me separa.
Oh! Força
invisível que me faz pensar
na incerteza de
tudo... na incerteza de tudo...
Nem sei se é dor
ou se prazer
este grito mudo,
este riso amargo,
que quanto mais
perto da Vida me coloca,
quanto mais da
Vida me separa.
Oh! Força
invisível que me faz sofrer
na incerteza de
tudo... na incerteza de tudo...
Que será que
tenho?!... Que será que sinto?!...
MATO GROSSO
Mato Grosso dos
índios bororos
de arco na mão e
coragem no peito!
Mato Grosso das
paisagens antigas
e das matas
vestidas de verde!
Dos bois pastando
nas estradas
e dos bezerros
berrando nos currais.
Das ovelhas beatas
de papo crescido
e das mulatas
barrigudas lavando roupa.
Das onças sonhando
nas capoeiras
e dos caçadores
roncando nos galpões.
Da rapadura
gostosa de coco
e do milho tostado
na cinza do fogo.
Dos vaqueiros
gaúchos com o laço na mão
e dos buracos de
tatu amedrontando os vaqueiros.
Do churrasco
quente assado na fogueira
e da farofa
guardada no sapicuá.
Mato Grosso de
tudo isso é meu também.
Quando te lembro,
meus olhos
ficam assim, como
os teus campos,
no tempo das
enchentes – cheinhos d’água!
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Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: n. 4 - junho de 2004.
Muito interessante este espaço,que permite a nós do Pantanal novos olhares sobre o "poeta desconhecido" Lobivar Matos.
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