PANTANAL
Garças levemente
pousadas
Mil cores a voar
Emas espanejosas
Jacarés – parados
–
A imprevisão das
capivaras
Macacos
traquinos...
Chifres de veados
que olham...
O boi no campo a
pastejar...
Pantanal!
Camalotes em flor
Helicônias e
palmeiras uiriri
Jardins flutuantes
nos corixos
Pantanal!
O pantaneiro e o
avião
O vaqueiro e o
cavalo
Mulheres mulheres
na ajuda ou no embalo
Crianças crianças
em arruaças sem ruas
A carne seca e a
calça lee no varal
Pantanal!
Bebedouro de gente
ora é seca ora é
enchente
Terra água pasto
verdejante
às vezes mais água
que terra
outras vezes terra
sem água
Pantanal!
CANTO DA SERIEMA
Catavento dos
quatro ventos
Colhe este canto e
esparze-o
É o lamento
De quem sofre o
sofrer do tempo
Que passa passa
ssa sa...
Catavento dos
quatro ventos
Incita este canto
e este vôo
Intermitente mas
persistente
E vê, se só aqui
venta
E se não venta
também por lá...
Catavento dos
quatro ventos
Quixotesco ou
gigantesco
Será a geada a
seca a enchente
Que desviou o
vento parado
De lá pra cá?...
Catavento dos
quatro ventos
Faz moer seu
grão-de-bico
De-galo ou
de-pulha
Mas tem pena da
sentente Seriema
cansada de
esperar...
Catavento dos
quatro ventos
Puxa água pra
Seriema
Tem dó de sua dor
E espalha o doer
de não saber que dói
Pra saber o quanto
dói saber que dói...
Catavento dos
quatro ventos
Será que venta
também por lá?...
.................................................
.................................................
CA TA VEN TO TO TO TO TO
CA A A TA VEN EN
TO TO TO O O O !
................................................
................................................
A FLOR E A HASTE
A flor na haste
não é mais que a
própria flor
e a própria haste.
A flor da haste
pode cair.
E, caindo
de irmanadas ficam
separadas
perdendo
a própria flor
e a própria haste
seus predicados
de flor
e de haste.
Não é mais flor
nem é mais haste.
É haste sem flor
É flor sem haste.
EIS QUE...
Sou a que vive
trêmula e sussurrante
Sou o patético em
busca da essência
Sou mais o que não
se vê e o que não se vive
mas se aspira
sou e não sou
(engraçado como me
estranho)
mas sou mesmo
aquela que
redemoinha...
redemoinha...
CANTO VI – O ENCANTO DA TERRA
Canto de Amor e Lamento da Mulher Guaicuru
Cantando e
bailando um quarto crescente
Rondei sóis
estrelas mares flora fauna e gentes
O caminho estreito
ia se abrindo
Quando um clarão
prostrou-me extasiada
Encontrei no homem
d’além mar o amor Guaicuru...
Levantei-me nuvem
que parisse outra lua
Sacudi seu pó
brilhante que impregnava meu corpo
E o espaço
encheu-se do infinito...
Uma passarela de
flores no cislunar se estendia
Como um arco-íris
no puro imenso escuro
São Jorge –
fazia-me companhia...
Emprestei-lhe seu
cavalo dourado
Cavalguei no
espaço um passo rebelde
Com pés no estribo
e mãos ferradas na coragem
Embalei um balanço
lunático minguante
Sentindo a força
do universo em meu peito
O vento cheiroso
da crina bateu em meu rosto
Levando-me muito
além dos desejos todos
Divisei dar nome
às coisas e a aquele que me carregava
Dizendo-lhe: Serás
meu Pedevento Dourado!
Tua missão será
levar-me aos confins de todos os lugares
Tocando-o ficarei
dourada veloz e corajosa
Terei e os meus
filhos todos os feitiços teus
Seremos dois num
só galope pela planície infinda...
Foi assim que ao
encarar o homem luso-tropical
Num aceno de amor
e ódio beijando-o em ambas as faces
Conquistei-lhe o
espírito e o corpo no puro embate amoroso
Abracei-o num
tênue e fiel abraço
Entregando-lhe
minha veste e meu cavalo dourado
Para com ele
dividir as terras águas e a descendência
E o ventre livre e
firme de encontro a rouxidão do solo fecundo
Palpitando a um
querer de vida e amor...
O horizonte
infindo dos Confins do Novo Mundo
Rasgava minha boca
e olhos de encanto e espanto
Nuvens feito
plumas me ornavam
Libélulas
esvoaçantes quebravam o azul em vidrilhos
Anunciando a doce
alegria da antevéspera do prazer
E a fria lucidez
de saber que o amor Guaicuru
Que apontava em
minh’alma como náufrago na ilha
Era uma nova forma
de conquista da liberdade e do amor...
Descendo mais além
à fascinação do lago
Envolvente pressiona
uma violência de paixão
Que sorve
impulsiona e se consome
Em ondas gasosas e
vapores pictóricos do Xaraé
Desfazendo-se numa
simbiose com a natureza
Como gaivota de
vôo aberto libertando-se das entranhas da terra
Sendo pássaro e
peixe com as humanidades reunidas
Num sopro d’água e
de vida?!
O inferno e o céu
reunidos
Numa cênica beleza
Confusa clara
existencial
Como orgasmo
luminoso
De virgem na
entrega do amor...
Em gotas cársticas
vão pingando pingando
Sinfonia inacabada
de súplica
A canção da eternidade...
---
Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: nº 4 - junho de 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário