quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Guimarães Rocha: "5 Poemas"

DESCONHECIDO PANTANAL

Sou o pensamento
O vento soprando forte
O barco da sorte
O sorriso da alegria
A força da magia
A dor do fraco
O segredo do forte
O medo da vida
A façanha da morte

Sou desconhecido
Um artista
Um enredo
E a sua fama
O corte da grama
O empenho e o engenho
Que medra em face
Com a corte da arte
Desconhecida...

Sou desconhecido...
Um pobre rico calado
Que canta... canta... canta...
Mas não tem canção
E vive em lágrimas
Com a tragédia da destruição.



PANTANAL – AMOR – DESTRUIÇÃO

No ecossistema
Pantaneiro
A fauna está em festa

O tom da dança é o biguá
Com seu frenético jeito
De pescar
Querendo ser arara
Na cor da beleza

Araras de diversos matizes
Azuis-vermelhos-dourados

O misto de luz e água
– ao fundo a vegetação
Combina com a plumagem das aves
Num quadro de infinita beleza

É o florescer das espécies
Mais encantadoras do mundo
Beleza
Toxina
Abuso
Descuido

Corixos dos tempos idos
Aguapés de eternidade
Sonho vivido
Às margens do Pantanal
Pureza que guardo
Na visão do tempo

O cerrado incendiado
Os guavirais tostados
A ganância dos avarentos
Tomba e mata
Os sonhos das crianças

Em nome do cultivo da soja
De replantar pastagem
Só pensam em bois
E não respeitam os limites
Definidos em lei

Por causa da ação predadora
Quando chove a terra vai
Parar no fundo dos rios

Agrotóxicos
Restos da exploração
Por inúmeras viagens
Do turismo muita vez inconsciente
Pessoas desavisadas que não cuidam
E não respeitam
O nosso Pantanal.



DESCONHECIDO

Sou o pensamento
O vento soprando forte
O barco da sorte
O sorriso da alegria
A força da magia
A dor do fraco
O segredo do forte
O medo da vida



A FAÇANHA DA MORTE

Sou desconhecido
Um artista
O enredo
E a sua fama
O corte da grama
O empenho e o engenho
Que medra em face
Com a corte da arte
Desconhecida...

Sou desconhecido...
Um pobre-rico calado
Que canta... canta... canta...
Mas não tem canção
E vive sempre em lágrimas
Com a tragédia da destruição
  


SERTANEJO

O Sertanejo é cabra forte
Rijo e de bom coração
Não tem sobroço de morte
Nem pede aumento ao patrão.

Vive Calado e tem fé
Os pés descalços no chão
Tem carinhos na mulher
Cuida bem de plantação.

Não sabe falar bonito
Mas faz bela louvação
Reza ao seu São Benedito
Pra chover no seu sertão.

Se chove é homem feliz
Rico de milho e feijão
A ninguém um não não diz
Garante o pão da Nação.

Mesmo assim é desprezado
Sofre troça e mangação
Vive só e abandonado
Curtindo a desilusão.

Sertanejo fala manso
Ninguém lhe dá atenção
Vive apenas de esperança
Pois ninguém lhe estende a mão.



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Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: nº 7 - março de 2005

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