VITÓRIA-RÉGIA
Salve, gloriosa
flor! tu, cujo nome encerra
A vitória e a
realeza! alma flor, que o pistilo
Ergues, enorme, ao
sol! flor deste mar tranqüilo,
Ó flor dos
pantanais da minha verde terra!
Tu me lembras o
loto azul, que além descerra
Sua hierática
flor, sobre as águas do Nilo,
Flor que reflete
os céus no cálice, a tingi-lo,
Flor de mistério e
luz, flor que as trevas desterra.
E ao contemplar-te
assim, ó ninféia robusta,
Eu sonho ver um
dia, em porvir cor-de-rosa,
Tão grande como
tu, tão soberana e augusta,
Toda de fé e
ideais a fronte constelada,
Triunfar das
nações na flora luminosa,
Vitória-régia em
flor, a minha Pátria amada!
CASAS DE TELHA
Aqui foi o
arraial: eis o aterrado,
E ali o antigo
bananal bem perto;
Pires de Campos,
Dom Rodrigo e, certo,
Muitas bandeiras
aqui têm parado.
Mas hoje, em roda,
alarga-se o deserto;
E, se interrogo os
ecos do passado,
Só escuto além, no
Pantanal pasmado,
De brutas aves o
grasnido incerto.
Entanto, eu vou
sonhando a história linda
Dos índios bravos,
das monções em bando,
De tantas gerações
no olvido absortas...
E quem me dera
aqui te ver ainda,
Velha Casa de
Telha, dominando
O velho sambaqui
das tribos mortas!
RIO ARAGUAIA
Rio que rolas
majestosamente,
Sobre diamantes,
na itaipava hirsuta!
Não mais te abala,
na selvagem luta,
Do bravo Ubirajara
o grito horrente!
Não mais, à flor
da lânguida corrente,
Por onde o boto
espalma a cauda bruta,
Não mais o silvo
do vapor se escuta,
Ondeando, além, na
praia alvinitente!
Não mais! Não
mais! Silêncio... a tarde finda,
E as onda beijam
os destroços vagos
De velhas naus,
numa elegia infinda...
Mas do teu fado
nos castelos magos,
A Glória dorme,
com dorme ainda
A pérola na concha
dos teus lagos!
CORUMBÁ
Qual outrora, ao
mirífico arrepio
Da onda azul do
mar Jonio, a deusa Venus,
Assim nasceste,
sob os céus serenos,
À flor do lindo
pantanal bravio.
Tão bela é tu, que
o teu selvagem rio,
Ao morder estes
céspedes amenos,
Dá longas voltas
por que possa, ao menos,
Contemplar teu
mimoso casario.
E uma vez ele viu
(hórrido agouro!)
Ai! Viu-te, como
Andrômeda no oceano,
Amarrada a este
escolho negro e duro.
Mas tu,
calçando-te os talares de ouro
De Mercúrio,
largaste o vôo ufano,
Para este azul
glorioso do futuro!
AS LAVRAS DO SUTIL
Antemanhã, quando
no céu de leste,
Mal se esgarçava
em luz a noite mansa,
Miguel Sutil de
Sorocaba avança,
Rumo ao mistério
do sertão agreste.
Estrada longa e
atroz! Mas ele a investe,
Com redobrado
heroísmo, e não se cansa.
Vão-lhe à frente
dois índios, e a Esperança
Visões de ouro não
há, que não lhe empreste.
E ei-los que chegam a estes sítios belos,
Onde o outro
excede todos os castelos,
Do sonho audaz do
bandeirante. Lá,
Ao longe, em
praias verdes e desertas,
Faiscava o
rio... Estavam descobertas
As minas imortais
do Cuiabá.
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Fonte:
Revista da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras: nº 7 - março de 2005
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