SONETO DE FIDELIDADE
De tudo ao meu
amor serei atento
Antes, e com tal
zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face
do maior encanto
Dele se encante
mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em
cada vão momento
E em seu louvor
hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e
derramar meu pranto
Ao seu pesar ou
seu contentamento
E assim, quando
mais tarde me procure
Quem sabe a morte,
angústia de quem vive
Quem sabe a
solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer
do amor (que tive):
Que não seja
imortal, posto que é chama
Mas que seja
infinito enquanto dure.
A ROSA DE HIROXIMA
Pensem nas
crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas
mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se
esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de
Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e
inválida.
A rosa com cirrose
A antirrosa
atômica
Sem cor sem
perfume
Sem rosa sem nada.
SONETO DE DEVOÇÃO
Essa mulher que se
arremessa, fria
E lúbrica aos meus
braços, e nos seios
Me arrebata e me
beija e balbucia
Versos, votos de
amor e nomes feios.
Essa mulher, flor
de melancolia
Que se ri dos meus
pálidos receios
A única entre
todas a quem dei
Os carinhos que
nunca a outra daria.
Essa mulher que a
cada amor proclama
A miséria e a
grandeza de quem ama
E guarda a marca
dos meus dentes nela.
Essa mulher é um
mundo! — uma cadela
Talvez… — mas na
moldura de uma cama
Nunca mulher
nenhuma foi tão bela!
SONETO DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto, meu
amor… não cante
O humano coração
com mais verdade…
Amo-te como amigo
e como amante
Numa sempre
diversa realidade
Amo-te afim, de um
calmo amor prestante,
E te amo além,
presente na saudade.
Amo-te, enfim, com
grande liberdade
Dentro da
eternidade e a cada instante.
Amo-te como um
bicho, simplesmente,
De um amor sem
mistério e sem virtude
Com um desejo
maciço e permanente.
E de te amar assim
muito e amiúde,
É que um dia em
teu corpo de repente
Hei de morrer de
amar mais do que pude.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso
fez-se o pranto
Silencioso e
branco como a bruma
E das bocas unidas
fez-se a espuma
E das mãos espalmadas
fez-se o espanto.
De repente da
calma fez-se o vento
Que dos olhos
desfez a última chama
E da paixão fez-se
o pressentimento
E do momento
imóvel fez-se o drama.
De repente, não
mais que de repente
Fez-se de triste o
que se fez amante
E de sozinho o que
se fez contente.
Fez-se do amigo
próximo o distante
Fez-se da vida uma
aventura errante
De repente, não
mais que de repente.
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