segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Vera Lúcia de Oliveira: "5 Poemas"

PARA DENTRO

como águas que jorram
para dentro

dei para pisar
o rangido dos ventos

dei para virar
em volta dos passos

dei para lavrar a veia
em que piso

dei para revolver
os ossos



APRENDI O VENTO

aprendi o vento nas traves doendo
aprendi no escuro das traves
aprendi nas telhas
moendo seu sopro
aprendi como um bicho
aprende o uivo
de outro bicho
como a viga
o estalido
de outra viga



AQUI NÃO SÃO

aqui não são músculos de tijolo
aqui já a porta estrala
como de vértebras
aqui as tesouras cortam
os cabelos da casa
aparam as unhas dos mortos
aqui os passos têm fome
aqui a porta bate
cortando no meio a noite
aqui as paredes abrigam
ouvidos de carne



O QUE CARREGA

o que carrega a seiva
que seu musgo de úmido
do seu escuro de bosque
do meu sangue no úmido
do meu corpo no escuro
do meu olho no fundo
do seu nome



MEMÓRIA

abundância de rastros
que não se cancelam
fascinados pelo assombro
de atravessar as esperas
com seus passos abortos
subindo pelas artérias
em busca de outro corpo



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Fonte:
Revista Brasileira: Fase VII - Julho-Agosto-Setembro 2007 - Ano XIII - Nº 52

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