VICTOR HUGO
Mostras na
fonte os estragos
Dos raios
que a sorte tem;
Na falange
dos teus Magos
Tu és um
mago também.
Joelhas,
quebro da idéia,
Ante a luz
que bruxuleia
Dos
futuros através!
Por
grande, os teus te renegam;
Cem
anátemas fumegam
Sufocados
a seus pés...
O estilo
d'oiro que empunhas,
Foi o
Senhor quem t'o deu.
Leva a
águia a presa nas unhas,
Ninguém
lhe diz: isto é meu!
Estrelas,
mundos, idéias,
Bíblias,
monstros, epopéias,
Tudo que
empolga é teu...
Cabeça que
pesa um astro
Na mente
de Zoroastro,
Na mão de
Ptolomeu!
DOIS DE JULHO
Na frente
dos belos dias
Que trajam
mais viva luz,
Desfilando
entre harmonias
No vasto
império da cruz,
Passa um
dia sublimado,
Qual
guerreiro namorado,
Valente,
bravo e gentil,
Que traz a
glória estampada,
Na face
meio embaçada
Pelo
alento do fuzil.
Neste dia,
sempre novo,
Entre os
aplausos do mar,
Entre os
ruídos do povo,
Vai a
cidade falar...
Atriz majestosa
e bela,
Falando só
e só ela
Diante de
duas nações,
Representa
um alto feito,
Que
arranca brados do peito
De
emudecidos canhões.
A ESCRAVIDÃO
Se Deus é
quem deixa o mundo
Sob o peso
que o oprime,
Se ele
consente esse crime,
Que se
chama a escravidão,
Para fazer
homens livres,
Para
arrancá-los do abismo,
Existe um
patriotismo
Maior que
a religião.
Se não lhe
importa o escravo
Que a seus
pés queixas deponha,
Cobrindo
assim de vergonha
A face dos
anjos seus,
Em seu
delírio inefável,
Praticando
a caridade,
Nesta hora
a mocidade
Corrige o
erro de Deus!...
QUE MIMO!
Tu és
morena e sublime
Como a
hora do sol posto.
E, no
crepúsculo eterno
Que te
envolve o lindo rosto,
O céu
desfolha canduras
De
alvoradas e jasmins,
E passam
roçando n'alma
As asas
dos querubins...
Teu corpo
que tem o cheiro
De cem
capelas de rosas,
Que
t'enche a roupa de quebros,
De
ondulações graciosas,
Teu corpo
derrama essências
Como uma
campina em flor:
Beijá-lo!...
fora loucura;
Gozá-lo!...
morrer de amor...
O BEIJA-FLOR
Era uma
moça franzina,
Bela visão
matutina
Daquelas
que é raro ver,
Corpo
esbelto, colo erguido,
Molhando o
branco vestido
No orvalho
do amanhecer.
Vede-a lá:
tímida, esquiva...
Que boca!
é a flor mais viva,
Que agora
está no jardim;
Mordendo a
polpa dos lábios
Como quem
suga o ressábio
Dos beijos
de um querubim!
Nem viu
que as auras gemeram,
E os ramos
estremeceram
Quando um
pouco ali se ergueu...
Nos alvos
dentes, viçosa,
Parte o
talo de uma rosa,
Que
docemente colheu.
E a fresca
rosa orvalhada,
Que
contrasta descorada,
Do seu
rosto a nívea tez,
Beijando
as mãozinhas suas,
Parece que
diz: nós duas!...
E a brisa
emenda: nós três!...
Vai nesse
andar descuidoso,
Quando um
beija-flor teimoso
Brincar
entre os galhos vem,
Sente o
aroma da donzela,
Peneira na
face dela,
E quer-lhe
os lábios também
Treme a
virgem de surpresa,
Leva do
braço em defesa,
Vai com o
braço a flor da mão;
Nas asas
d’ave mimosa
Quebra-se
a flor melindrosa,
Que rola
esparsa no chão.
Não sei o
que a virgem fala,
Que abre o
peito e mais trescala
Do
trescalar de uma flor:
Voa em
cima o passarinho...
Vai já
tocando o biquinho
Nos beiços
de rubra cor.
A moça,
que se envergonha
De correr,
meio risonha
Procura se
desviar;
Neste
empenho os seios ambos
Deixa ver;
inconhos jambos
De algum
celeste pomar!...
Forte
luta, luta incrível
Por um
beijo! É impossível
Dizer tudo
o que se deu.
Tanta
coisa, que se esquece
Na vida!
Mas me parece
Que o
passarinho venceu!...
Conheço a
moça franzina
Que a
fronte cândida inclina
Ao sopro
de casto amor:
Seu rosto
fica mais lindo,
Quando ela
conta sorrindo
A história
do beija-flor.
---
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário