quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Péricles Prade: "5 Poemas"

SÚPLICA COM PLUMAS

Não só tua máscara
é de plumas,
pacífica Serpente
asteca gravada nos sarcófagos.

Duplo do Coyote,
outras plumas de pássaro
em teu corpo nascem
quando o sono precede
o sonho
tecido no fundo do poço.

Eu sou,
agora,
o plasma das dobras
que enrolas e desenrolas
inspirada por Montezuma.

Suplico:
volte às origens,
inventora do zero, astrônoma suicida,
estrela ascendida
pelas eternas agulhas do fogo.



MOTOR SELVAGEM

Volátil Serpente
do quinto dia,
arquétipo de gêmeos,
zodiacal matriz que os sexos
e os princípios aproxima.

Motor selvagem,
o negativo
&
o positivo
paridos pela luz divina.

Na Ursa Maior
um triângulo
oblongo
outra Constelação
reflete no espelho.

Com penas verdes
na cauda e na cabeça
podia ser Onda Marinha
mas o inimigo sabe que não é.

Entre as ruínas
do Castelo
nos moveremos melhor.



SOB O OLHAR DE SALOMÃO

Deus-serpente,
Senhor da manhã,
a imortalidade celebro
após tua doce carne comer.

Neste ninho,
cidade
em movimento,
sou um dos filhos amados
atraídos pela fonte central.

Cristo-serpente,
Serpente-Cristo,
a divindade é o sangue
guardado na redoma de ouro.

Moisés-serpente,
Serpente-Moisés,
mesmo não sendo de bronze

levantado quero ser.
Levantado
pela espinha
sob o olhar de Salomão.



OUTRA É A ÁRVORE

Não é aos pés
de qualquer árvore
que a sabedoria cresce.

Outra é
a Árvore
pousada pelo pássaro certo
quando o saber é gerado
pelo número secreto.

Não quero o poder
de as águas dividir.
Basta-me o amor
de à Emplumada servir.

Sem regalias,
as ordens do Rei Perdido
com devoção cumprirei.

Assim,
no vaso escolhido,
sem deixar uma gota cair
o néctar colocarei.



ANTES DO APOCALIPSE

Amuletos
de prata pura
nas orgias de Agosto.

Tomou absinto.

Depois,
retornou à planície
de mãos vazias.
Nela permanece,
confortado pelo profeta
do nada Absoluto.

Sem memória,
os nós das lembranças
não desata.

E assim no Caos
substituiu o Deus ausente.


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Fonte:
revista Brasileira: Fase VIII - Outubro-Novembro-Dezembro 2014 - Ano III Nº 81

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