APAGADAS LUZES
eu escrevo no
escuro pra não te acordar
acompanho com
pupilas cegas
adivinhando
fileiras de letras
extensões, linhas,
calculando espaços hipotéticos entre,
sem ter a certeza
de onde,
sem saber nem ao
menos se de fato existem
ou se no caminho
entre o movimento dos meus dedos e a ponta de metal
a tinta das minhas
palavras secaram,
deixando apenas o
papel marcado em leve relevo,
frases
transparentes,
quando, ao nascer
do dia,
eu já as tiver
esquecido,
tentarei
recuperá-las.
a caneta dança,
ágil, vaidosa, inútil
e o papel nu,
branco no escuro
e eu , na sombra,
escrevo e escrevo esse fluxo insone
enquanto você
respira suavemente no meu ombro e baba.
PLANOS
o fio d’água
rente a calçada
some entre
as brechas da boca do bueiro
sobra apenas o
delicado som de queda
você ouve o que eu
ouço?
o sangue no vidro
fiapos de espelho
cortando meus
dedos
fileiras de
insulfilm
desencapando o
asfalto
rimos
seguindo as linhas
no retrato
arrastado pela rua
o cimento no seu
riso surdo
de orelha a orelha
todos os retratos
do mundo
são nossos amor
todos os sorrisos
são velhos
todos os risos
perdidos
já vivemos tanto
amor
a luz que rasga
entre
as copas das
árvores
e o farol alto
me procura
flores sobre os
fios
o que lê refletido
no brilho fino
alcalino dos
sorrisos
atrás de ajuda
nos anúncios
coloridos
neon e vidro
rimos, muito, amor
OURO
são poemas que se
perdem
tosses que me
tiram o sono
ideias soterradas
sob
capas de cadernos
que deixei de abrir
sobe, sobe, sobe,
sobe!
são paulo me
esmaga
que sentido teria
se não o fizesse?
tvs desreguladas
refletindo azul
demais nas paredes da sala
as pétalas não
querem abrir
antes disso
as raízes que
racharam o asfalto secam nesse frio
atropeladas
POR QUE NÃO?
Biscoito não serve
Só se diz bolacha
Ah, me deixe
beijos, delegada
Agrados e mais
Os garfos e serras
dos gafanhotos
pra destruir
colheitas e
previsões.
Santos já temos
todos
Feito Bahia e
Pernambuco.
Banana, cacau e
canela.
Café também.
Falta genipapo,
Mas ameixa e
jabuticaba
servem.
E seu nome,
talvez.
À DERIVA
chaves perdidas,
sem serem usadas
Vultos passam,
quem deixa as marcas?
Estendo a mão para
me agarrar em algo
Cartas e búzios
indicam o caminho
Salto no abismo,
Uma corda ao pé
Outra ao pescoço
Em queda
Desato os nós dos
dedos
E com um passar de
mão
As paredes desabam
Uma a uma
E vou-me ao fundo
E vou-me ao longe
E vou-me além
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Fonte:
revista Brasileira: Fase VIII - Julho-Agosto-Setembro 2014 - Ano III - Nº 80
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