OUVIR ESTRELAS
Ora
(direis) ouvir estrelas!
Certo,
perdeste o senso!
E eu vos
direi, no entanto
Que, para
ouvi-las,
muitas
vezes desperto
E abro as
janelas, pálido de espanto
E
conversamos toda a noite,
enquanto a
Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir
do sol, saudoso e em pranto,
Inda as
procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: "Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas?
Que
sentido tem o que dizem,
quando
estão contigo? "
E eu vos
direi:
"Amai
para entendê-las!
Pois só
quem ama pode ter ouvido
Capaz de
ouvir e de entender estrelas
UM BEIJO
Foste o
beijo melhor da minha vida,
ou talvez
o pior...Glória e tormento,
contigo à
luz subi do firmamento,
contigo
fui pela infernal descida!
Morreste,
e o meu desejo não te olvida:
queimas-me
o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu
gosto amargo me alimento,
e rolo-te
na boca malferida.
Beijo
extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e
extrema-unção, naquele instante
por que,
feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o
ardor, e o crepitar te escuto,
beijo
divino! e anseio delirante,
na
perpétua saudade de um minuto...
VIA LÁCTEA
"Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o
senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para
ouvi-las, muita vez desperto
E abro as
janelas, pálido de espanto...
E
conversamos toda a noite, enquanto
A Via
Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as
procuro pelo céu deserto.
Direis
agora: "Tresloucado amigo!
Que
conversas com elas? Que sentido
Tem o que
dizem, quando estão contigo?"
E eu vos
direi: "Amai para entendê-las!
Pois só
quem ama pode ter ouvido
Capaz de
ouvir e entender estrelas".
MALDIÇÃO
Se por
vinte anos, nesta furna escura,
Deixei
dormir a minha maldição,
_ Hoje,
velha e cansada da amargura,
Minha alma
se abrirá como um vulcão.
E, em
torrentes de cólera e loucura,
Sobre a
tua cabeça ferverão
Vinte anos
de silêncio e de tortura,
Vinte anos
de agonia e solidão...
Maldita
sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal
que fizeste sem querer!
Pelo amor
que morreu sem ter nascido!
Pelas
horas vividas sem prazer!
Pela
tristeza do que eu tenho sido!
Pelo
esplendor do que eu deixei de ser!...
VELHAS ÁRVORES
Olha estas
velhas árvores, mais belas
Do que as
árvores moças, mais amigas,
Tanto mais
belas quanto mais antigas,
Vencedoras
da idade e das procelas...
O homem, a
fera e o inseto, à sombra delas
Vivem,
livres da fome e de fadigas:
E em seus
galhos abrigam-se as cantigas
E os
amores das aves tagarelas.
Não
choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos
rindo. Envelheçamos
Como as
árvores fortes envelhecem,
Na glória
de alegria e da bondade,
Agasalhando
os pássaros nos ramos,
Dando
sombra e consolo aos que padecem!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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