MINHA MÃE
Beijo-te a
mão, que sobre mim se espalma
Para me
abençoar e proteger,
Teu puro
amor o coração me acalma;
Provo a
doçura do teu bem-querer.
Porque a
mão te beijei, a minha palma
Olho,
analiso, linha a linha, a ver
Se em mim
descubro um traço de tua alma,
Se existe
em mim a graça do teu ser.
E o M,
gravado sobre a mão aberta,
Pela sua
clareza, me desperta
Um grato
enlevo, que jamais senti:
Quer dizer
— Mãe! este M tão perfeito,
E, com
certeza, em minha mão foi feito
Para,
quando eu for bom, pensar em ti.
INOCÊNCIA
Criança
ingênua, o dia inteiro,
com os
meus caniços de taquara,
ficava eu,
ao sol de então,
junto dos
tanques, no terreiro,
soprando a
espuma, leve e clara,
fazendo
bolhas de sabão.
Corando a
roupa, entre cantigas,
as
lavadeiras, que passavam,
interrompiam
a canção...
Riam-se as
pobres raparigas,
vendo as
imagens que brilhavam,
nas minhas
bolhas de sabão.
Cresci.
Sofri. Sonhando vivo.
E, homem e
artista, ainda agora,
me apraz
aquela distração...
E fico, às
vezes, pensativo,
fazendo
versos, como outrora
fazia
bolhas de sabão.
E velho,
um dia, de repente,
sem ter,
de fato, sido nada,
pois tudo
é apenas ilusão,
há de
extinguir-se a alma inocente
que em mim
fulgura, evaporada
como uma
bolha de sabão.
SER PAULISTA
Ser
paulista! é ser grande no passado
E inda
maior nas glórias do presente!
E ser a
imagem do Brasil sonhado,
E, ao
mesmo tempo, do Brasil nascente.
Ser
paulista! é morrer sacrificado
Por nossa
terra e pela nossa gente!
É ter dó
das fraquezas do soldado
Tendo
horror à filáucia do tenente.
Ser
paulista! é rezar pelo Evangelho
De Rui
Barbosa — o sacrossanto velho
Civilista
imortal de nossa fé.
Ser
paulistal em brasão e em pergaminho
É ser
traído e pelejar sozinho,
É ser
vencido, mas cair de pé!
BALADA MADRIGALESCA
À moda
clássica, ao sabor
da antiga
métrica francesa,
venha
brindar um rimador
a uma
princesa portuguesa.
Fulgure a
pedraria acesa
das rimas
rútilas do ideal,
para eu
cantar em Sua Alteza
a
flor-de-lis de Portugal.
Há nos
seus olhos o negror
das noites
cheias de tristeza,
e o vivo e
cálido esplendor
do sol de
Nice ou de Veneza.
E a sua
mão tem, com certeza,
o alvor da
neve boreal:
É o lírio
branco da nobreza,
a
flor-de-lis de Portugal.
Pajem
galante e trovador,
cumpro,
encantado, a doce empresa
de
demonstrar que numa flor
se espelha
a sua gentileza.
E, com
sutil delicadeza,
digo, ao
findar o madrigal:
Dona
Leonor é, na pureza,
a
flor-de-lis de Portugal.
OTELO
Quem minha
angústia suportar, prefira
a morte,
redentora, à desventura
de não
poder, nas vascas da loucura,
distinguir
a verdade da mentira.
Infrene
dúvida, implacável ira,
esta que
me alucina e me tortura!
— Ter
ciúmes da luz, formosa e pura,
do chão,
da sombra e do ar que se respira!
Invejo a
veste que te esconde! a espuma
que,
beijando teu corpo, linha a linha,
toda do
teu aroma se perfuma!
Amo! E o
delírio desta dor mesquinha,
faz que eu
deseje ser tu mesma, em suma,
para ter a
certeza de que és minha!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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