AS MÃES
Ó Mais! da Mãe de
Deus vós despertais lembranças,
Nessa augusta
missão—tão cheia de poesia;
Quando embalais ao
colo as tímidas crianças,
Eu penso ver Jesus
nos braços de Maria!
Vós sois uns anjos
bons! de amor e de piedade
Tendes um ninho em
flor nos seios virtuosos;
— Nos filhos refletis
a vossa f’licidade,
Como em límpido
espelho os corpos luminosos.
Vós sois a
inspiração primeira dos poetas,
Vós sois o
pensamento extremo dos doentes.
Quem antes osculou
a fronte dos profetas,
Vindo a cerrar mais
tarde os olhos dos videntes?...
Ó Mãe! de minha
Mãe vós me trazeis lembranças...
Encheis-me de
saudades!... Eu amo-vos por isto,
Quando embalais,
cantando, aos seios as crianças,
Eu sonho ver Maria
acalentando o Cristo!...
Meu Deus! não sei
dizer o que há de mais ungido
Desbalçamos do céu,
si há mais sublime cousa
Que a Mãe que
embala ao berço o filho adormecido,
Ou si o filho que
reza ante a materna lousa!...
O SONHO DOS SONHOS
Quanto mais lanço
as vistas ao passado,
Mais sinto ter
passado distraído,
Por tanto bem —
tão mal compreendido,
Por tanto mal —
tão bem recompensado!...
Em vão relanço meu
olhar cansado
Pelo sombrio
espaço percorrido :
Andei tanto — em
tão pouco... e já perdido
Vejo tudo o que
vi, sem ter olhado!
E assim prossigo,
sempre audaz e errante,
Vendo, o que mais
procuro, mais distante,
Sem ter nada — de
tudo que já tive...
Quanto mais lanço
as vistas ao passado,
Mais julgo a vida
— o sonho mal sonhado
De quem nem sonha
que a sonhar se vive!..
EVOLUÇÃO
Morri no mineral,
para nascer na planta
Fui pedra e fui
semente;
Brilhei no
diamante e no cristal luzente,
E fez em mim seu
ninho o pássaro que canta.
Na planta
adormeci, e despertei um dia
No animal, que
move os músculos e anda;
Percorri apressado
urna senda sombria,
Vendo
indistintamente urna luz na outra banda.
Do animal passei
para as formas do homem,
E sendo homem
estou muito perto do Anjo;
Só assim chegarei
aos círculos que abranjo
Com a razão, que
ainda as dúvidas consomem.
Poderei amanhã
voar, batendo as asas
Pela vasta
amplidão constelada dos céus:
Faísca, que desceu
às cinzas e às brasas,
Ascenderei mais
tarde a eterna luz que é Deus.
A MULHER
Ao conselheiro Franklin Dória
Quando a Mulher é
bela, pôde a rosa
Ser comparada à
formosura dela;
Nem há na terra
cousa mais preciosa
Do que a Mulher,
quando a Mulher g bela!
Quando a Mulher é
casta, ao vê-la, a gente
Os pensamentos
maus p'ra longe afasta...
E as almas vão,
n'um êxtase eloquente,
Cair-lhe aos pés,
quando a Mulher é casta!
Quando a Mulher é
boa, irmã ou filha,
Esposa ou Mãe; o
pássaro — que voa,
A flor — que aromatiza,
a luz — que brilha,
Tudo é melhor,
quando a Mulher é boa!
E tu, que vês na
esposa virtuosa
Tão peregrinos
dons, Bardo! por ela
Vibra constante a cítara
gloriosa!
PRIMEIRA AUSÊNCIA
Porque não vejo os
olhos sedutores
Que me ferem a
vista quando os vejo?
E os seios, onde
dorme o meu desejo,
Num leito de
perfumes e de ardores?...
Onde dos lábios
rubros os licores,
Que embriagam no êxtase
de um beijo?
E essa volúpia,
disfarçada em pejo,
Das horas em que
mostra — só primores!..
— Sou tua! — ela
me disse: e nesse instante
Deu-se-me em corpo
e alma, delirante,
Por me ver doudo
por seguir-lhe os passos...
Deu-se-me assim...
para roubar-me a calma:
Pois, tendo-a dia
e noite na minh'alma,
Não posso tê-la
sempre nos meus braços!
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