sábado, 21 de novembro de 2015

Múcio Teixeira: "5 Poemas"

AS MÃES

Ó Mais! da Mãe de Deus vós despertais lembranças,
Nessa augusta missão—tão cheia de poesia;
Quando embalais ao colo as tímidas crianças,
Eu penso ver Jesus nos braços de Maria!

Vós sois uns anjos bons! de amor e de piedade
Tendes um ninho em flor nos seios virtuosos;
— Nos filhos refletis a vossa f’licidade,
Como em límpido espelho os corpos luminosos.

Vós sois a inspiração primeira dos poetas,
Vós sois o pensamento extremo dos doentes.
Quem antes osculou a fronte dos profetas,
Vindo a cerrar mais tarde os olhos dos videntes?...

Ó Mãe! de minha Mãe vós me trazeis lembranças...
Encheis-me de saudades!... Eu amo-vos por isto,
Quando embalais, cantando, aos seios as crianças,
Eu sonho ver Maria acalentando o Cristo!...

Meu Deus! não sei dizer o que há de mais ungido
Desbalçamos do céu, si há mais sublime cousa
Que a Mãe que embala ao berço o filho adormecido,
Ou si o filho que reza ante a materna lousa!...



O SONHO DOS SONHOS

Quanto mais lanço as vistas ao passado,
Mais sinto ter passado distraído,
Por tanto bem — tão mal compreendido,
Por tanto mal — tão bem recompensado!...

Em vão relanço meu olhar cansado
Pelo sombrio espaço percorrido :
Andei tanto — em tão pouco... e já perdido
Vejo tudo o que vi, sem ter olhado!

E assim prossigo, sempre audaz e errante,
Vendo, o que mais procuro, mais distante,
Sem ter nada — de tudo que já tive...

Quanto mais lanço as vistas ao passado,
Mais julgo a vida — o sonho mal sonhado
De quem nem sonha que a sonhar se vive!..



EVOLUÇÃO

Morri no mineral, para nascer na planta
Fui pedra e fui semente;
Brilhei no diamante e no cristal luzente,
E fez em mim seu ninho o pássaro que canta.

Na planta adormeci, e despertei um dia
No animal, que move os músculos e anda;
Percorri apressado urna senda sombria,
Vendo indistintamente urna luz na outra banda.

Do animal passei para as formas do homem,
E sendo homem estou muito perto do Anjo;
Só assim chegarei aos círculos que abranjo
Com a razão, que ainda as dúvidas consomem.

Poderei amanhã voar, batendo as asas
Pela vasta amplidão constelada dos céus:
Faísca, que desceu às cinzas e às brasas,
Ascenderei mais tarde a eterna luz que é Deus.



A MULHER
Ao conselheiro Franklin Dória

Quando a Mulher é bela, pôde a rosa
Ser comparada à formosura dela;
Nem há na terra cousa mais preciosa
Do que a Mulher, quando a Mulher g bela!

Quando a Mulher é casta, ao vê-la, a gente
Os pensamentos maus p'ra longe afasta...
E as almas vão, n'um êxtase eloquente,
Cair-lhe aos pés, quando a Mulher é casta!

Quando a Mulher é boa, irmã ou filha,
Esposa ou Mãe; o pássaro — que voa,
A flor — que aromatiza, a luz — que brilha,
Tudo é melhor, quando a Mulher é boa!

E tu, que vês na esposa virtuosa
Tão peregrinos dons, Bardo! por ela
Vibra constante a cítara gloriosa!



PRIMEIRA AUSÊNCIA

Porque não vejo os olhos sedutores
Que me ferem a vista quando os vejo?
E os seios, onde dorme o meu desejo,
Num leito de perfumes e de ardores?...

Onde dos lábios rubros os licores,
Que embriagam no êxtase de um beijo?
E essa volúpia, disfarçada em pejo,
Das horas em que mostra — só primores!..

— Sou tua! — ela me disse: e nesse instante
Deu-se-me em corpo e alma, delirante,
Por me ver doudo por seguir-lhe os passos...

Deu-se-me assim... para roubar-me a calma:
Pois, tendo-a dia e noite na minh'alma,
Não posso tê-la sempre nos meus braços!

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