LIPARI,
ilha estéril donde
Héracles partira. mar aberto
ao de lá das
Colunas. ah, não pouse o Albatroz
no frágil bordo –
distam as terras minhas
do assomado
verso!... escarpas
a grande altura,
fadigas do atleta, marca do seu cansaço
não do êxito – o
pomo sempre avante
que portam as
deusas para além do Hespério. estância dos pássaros,
acordoando Aurora.
assim te conheci!
corte – que a
memória costura
com a linha gasta
do tempo. pulso da hora
em retardo. fala,
ou dize nada, que ouço os teus silêncios
ANTÍGONA-I
A Regina Zilberman
o sintagma – que
inteira me organiza –
é plantal, colho-o
da descalça terra
ANTÍGONA-II
A Maria da Glória Bordini
leio o signo que
pespontam os deuses
em cada coisa.
tresleio a letra
que aos ventos
avessa. na aspereza da pedra
instrui-me o tato
[da gnose]
do pó dos caminhos
lavei teu corpo
e do roxo espírito
libei-o, que o espírito rebusca
desprendido. e
enterro-te, irmão meu [do ethos]
das salsas águas
do mar hei bebido
vomitórias: do mal
me não curam
de meu sangue –
não de mim. e descalça
e desnuda, toda eu
mesma [da liberdade]
ANTÍGONA-III
A Susana Vernieri
da goteira do
penhasco, tua voz tão fria
escuto adormida
cantantes os teus
dedos e despertam-me,
finos tal o vento
que cicia na prateada faia
e me acalantam,
tersos (não são
tersos os anademas do meu luto?) e calcários,
do passo
quebradiço de quem parte
SÍSIFO, teu sentir é táctil,
malsão?
insone... por que
não dormiste?
dormente,
deixavam-te no teu só
a rede
traspassaste que tendem os deuses
ante os homens.
fina a malha,
saltaste-a?
aclive,
o teu aresto. –
roda a pedra
sem queixumes
Sísifo, teu sentir
é táctil,
malsão?
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Fonte:
Revista Brasileira: Fase VII - Janeiro-Fevereiro-Março 2010 - Ano XVI - Nº 62 - (Academia Brasileira de Letras - ABL)
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