CÍRCULO VICIOSO
Bailando
no ar, gemia inquieto vaga-lume:
- Quem me
dera que fosse aquela loura estrela,
que arde
no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a
estrela, fitando a lua, com ciúme:
- Pudesse
eu copiar o transparente lume,
que, da
grega coluna á gótica janela,
contemplou,
suspirosa, a fronte amada e bela!
Mas a lua,
fitando o sol, com azedume:
- Misera!
tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade
imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol,
inclinando a rutila capela:
- Pesa-me
esta brilhante aureola de nume...
Enfara-me
esta azul e desmedida umbela...
Porque não
nasci eu um simples vaga-lume?
NO ALTO
O poeta
chegara ao alto da montanha,
E quando
ia a descer a vertente do oeste,
Viu uma
cousa estranha,
Uma figura
má.
Então,
volvendo o olhar ao subtil, ao celeste,
Ao
gracioso Ariel, que de baixo o acompanha,
Num tom
medroso e agreste
Pergunta o
que será.
Como se
perde no ar um som festivo e doce,
Ou bem
como se fosse
Um
pensamento vão,
Ariel se
desfez sem lhe dar mais resposta.
Para descer
a encosta
O outro
lhe deu a mão.
O GRITO DO IPIRANGA
Liberdade!...
Farol divinizado! -
Sob o teu
brilho a humanidade e os séculos
Caminham
ao porvir. Roma as algemas
Quebrou
dos filhos que a opressão lançara
Dentre a
sombra de púrpura dos Césares,
Que
envolvia Tarquínio em fogo e sangue,
Cheia de
tua luz e estimulada
Por teu
nome divino - essa palavra
Imensa
como as vozes do Oceano.
Sublime
como a ideia do infinito!
Tal como
Roma a terra americana,
Um dia
alevantando ao sol dos trópicos
A fronte
que domina os estandartes,
Saudou teu
nome majestoso e belo -
E o brado
imenso - Independência ou morte! -
Soltado lá
das margens do Ipiranga.
Foi nos
campos soar da eternidade.
Desenrola
nas turbas populares
Dos livres
a bandeira o herói tão nobre,
Digno dos
louros festivais que outrora
Roma dava
aos heróis entre os aplausos
Do povo
que os levava ao Capitólio!
Ele foi
como o César de Marengo;
Sua voz
como a lava do Vesúvio
Levada
pela voz da imensidade
Foi do
Tejo soar nas margens, onde
Estremeceu
de susto o lusitano!
Ipiranga!...
Ipiranga!... A voz das brisas
Este nome
repete nas florestas!
Caminhante!
Eis ali onde primeiro
Soou o
brado - Independência ou morte! -
O homem
secular levando as águias
Por entre
os turbilhões de pó, de fumo,
Ostentando
nos livres estandartes
O lúcido
farol de um século ovante,
Mais
sublime não foi nem mais valente
Que Pedro
o herói, da América travando
Do farol
da sagrada liberdade,
E
acordando o Brasil, escravizado,
Sob
férreos grilhões adormecido.
Somos
livres! - Nas paginas da história
Nosso nome
fulgura - ali traçado
Foi por
Deus, que do herói guiando o braço,
Nas folhas
o escreveu do eterno livro.
Somos
livres! - No peito brasileiro
A ideia da
opressão não se acalenta!
Somos já
livres como a voz do oceano,
Somos
grandes também como o infinito,
Como o
nome de Pedro e dos Andradas!
Seja
bendito o dia em que Colombo
César dos
mares, afrontando as ondas,
À Europa
revelou um Novo Mundo;
Ele nos
trouxe o cetro das conquistas
Nas mãos
de Pedro - o fundador do Império!
O herói
calcando os pedestais da história,
Ergue
soberbo aos séculos vindouros
A fronte
majestosa! Imenso vulto!
É ele o
sol da terra brasileira!
Neste dia
de esplêndidas lembranças
No peito
brasileiro se reflete
O nome
dele - como um sol ardente
Brilha
dourado no cristal dos prismas!
Tomando o
sabre, dominou dois mundos
O herói
libertador, valente e ousado!
Ele, o
tronco da nossa liberdade,
Foi como o
cedro secular do Líbano,
Que
resiste ao tufão e às tempestades!
Ipiranga!
Inda o vento das florestas
Que as
noites tropicais respiram frescas
Parecem
murmurar nos seus soluços
O brado
imenso - Independência ou morte!
Qual o
trovão nos ecos do infinito!
Disse ao
guerreiro o Deus da Liberdade:
Liberta o
teu Brasil num brado augusto,
E o herói
valente libertou num grito!
A CAROLINA
Querida,
ao pé do leito derradeiro
Em que
descansas dessa longa vida,
Aqui venho
e virei, pobre querida,
Trazer-te
o coração do companheiro.
Pulsa-lhe
aquele afeto verdadeiro
Que, a
despeito de toda a humana lida,
Fez a
nossa existência apetecida
E num
recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te
flores - restos arrancados
Da terra
que nos viu passar unidos
E ora
mortos nos deixa e separados.
Que eu, se
tenho nos olhos malferidos
Pensamentos
de vida formulados,
São
pensamentos idos e vividos.
ERRO
Erro é
teu. Amei-te um dia
Com esse
amor passageiro
Que nasce
na fantasia
E não
chega ao coração;
Não foi
amor, foi apenas
Uma
ligeira impressão;
Um querer
indiferente,
Em tua
presença, vivo
Morto, se
estavas ausente,
E se ora
me vês esquivo
Se, como outrora,
não vês
Meus
incensos de poeta
Ir eu
queimar a teus pés
É que -
como obra de um dia,
Passou-me
esta fantasia.
Para eu
amar-te devias
Outra ser
e não como eras.
Tuas
frívolas quimeras,
Teu vão
amor de ti mesma.
Essa
pêndula gelada
Que
chamavas coração,
Eram bem
fracos liames
Para que a
alma enamorada
Me
conseguissem prender;
Foram
baldados tentames,
Saiu
contra ti o azar,
E embora
pouca, perdeste
A glória
de me arrastar
Ao teu
carro... Vãs quimeras!
Para eu
amar-te devias
Outra ser
e não como eras...
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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