SINFONIA
Pedra preciosas!
Para louvar-vos,
Embora em verso
que às vezes peca,
Eu vos engasto nas
claras rimas
Deste
volume-dactioteca!
Eu sei que tendes
almas humanas,
Ora de escravas,
ora de reis,
Sois inconstantes
como as pessoas,
Como as pessoas
envelheceis!
Sei ler em vossas
pupilas frias,
Cousas sisudas, frases
sem nexo...
O velho Plínio vos
dava astucia,
Santo Epifânio vos
dava sexo!
Luzis nos dedos
febris e finos
Da bela dama dos
olhos pretos...
Sois a desdita de
muita gente,
De muita gente
sois amuletos!
Tendes virtudes inexplicáveis:
Dais voz aos
mudos, firmeza aos coxos,
Com vossos raios
medicinais
Vermelhos, verdes,
azuis e roxos...
Seguis estradas
por vários rumos
Agora alegres,
logo sombrios,
Sois para os
poucos que vos entendem
Almas ardentes em
corpos frios...
Conforme o sábio
Jehúda Mosca,
De vós as doze que
brilham mais
São consagradas
aos doses meses
E aos doze Signos
Zodiacais!
Clara turquesa de
deus Apollo
És dos ginetes a
idolatria!
Agua – marinha de
deus Netuno
Curas a própria
melancolia!
Rubi vermelho de
Uisapur,
Teu brilho é
sangue que a vista anima!
Teu curto nome
fosforescente.
É purpurino como
uma rima!
Pedra da Lua que
tens em torno
Uma grinalda de láctea
luz,
Deves ser santa,
tu que pareces
A santa fronte do
deus Jesus!
Alvo diamante, bíblica
estrela,
És a lanterna da
tribo Icázar!
Límpida perola imponderável
Nasces em berços
de róseo nácar!
Verde heliotrópio
de um verde vivo,
Porque é que mudas
a cor do sol?
Porque é que
tombas, qual débil peixe,
Coral dos lagos,
no curvo anzol?
Louro crisólito
opalescente,
És mais dourado do
que ouro em pó!
Pedra bétilo, de
ignota origem,
Sobre teu peito
dormiu Jacó!
Safira – astéria
que tens o berço
Na antiga Pérsia
do norte ao sul...
Como se foras um
firmamento
Derrama estrelas
teu ventre azul!
Olho de gato, volúvel
íris,
És qual pupila que
te dilatas:
És como a fluida
pupila elétrica
Dos trovadores de
quatro patas!
Verde esmeralda do
Mar Vermelho,
Joia ilusória das
amizades,
Quem te contempla
vê lagos dentro,
Cheios de lírios e
de Náiades!
Pedras preciosas!
Para louvar-vos,
Embora em verso
que às vezes peca,
Eu vos engasto nas
claras rimas
Deste volume
dactilioteca!
SONETO ROMÂNTICO
Pousa os olhos nos
meus... deixa voar
Os nossos sonhos
que outro sonho enlaça...
Eu quero ler a
imaculada graça
Dos juramentos que
tu tens no olhar!
Escuta as dores do
profundo mar!
Vê como sofre o
vento quando passa!
E como é triste a
cândida desgraça
Que existe na
eloquência do luar!
E enquanto os
outros vivem padecendo,
No mundo vil, - no
mundo atroz e horrendo -
Nós dois, como os
amantes da balada,
Vamos sofrer de
novo as amarguras
E repetir as
imortais loucuras
Do nosso amor, ó
companheira amada!
PÁLIDA
A palidez que
envolve essa tristeza
É como um véu de
angústia verdadeira...
Devia ser assim a
atroz beleza
De Jeanne d’Arc
entrando na fogueira!
Por isso ó bela, ó
bela gondoleira,
Que tens no olhar
as noites de Veneza,
E tens nos lábios
a saudade inteira
De uma manhã de
beijos de princesa...
Por isso eu amo a
doce luz que veste
O teu martírio de
tristezas feito,
Como um manto de
luar por Deus tecido...
E vejo em ti a
palidez celeste
Que a Virgem
tinha... quando uniu ao peito
Os lábios de Jesus
recém-nascido!
O CORAÇÃO E A ESTRELA CADENTE
Dizia o coração à
estrela do infinito:
- Treme de inveja,
ó luz, que o teu poder invado!
Pois se brilha em
teu seio um mundo iluminado,
Dentro de mim
resplende um grande amor bendito
Como um órfão sem
lar, um triste réu proscrito,
Vives tu no
silêncio, ó astro abandonado!
Ao passo que
feliz, risonho e enamorado,
Eu vivo para
alguém! Eu por alguém palpito!
A cada instante
sinto o olhar sereno dela
Encher-me de uma
luz mais límpida e mais bela
Do que essa com
que Deus o seio iluminou-te...
Mas tu que tens
além do etéreo brilho teu?
- Eu tenho a
liberdade!... (a estrela respondeu
Sumindo-se no
abismo esplêndido da noute...)
COROA DE SAUDADES
(IN MEMORIAM DE EÇA DE QUEIRÓS)
I
Curva a lívida
fronte e cobre-te de dor
Junto ao triste
caixão do Príncipe imortal...
Ali vai para
sempre o irônico Escultor,
- Rei da Forma e
da Luz, dos Timbres e da Cor -
Terra de Portugal!
II
Veste de pranto e
luto o pavilhão que trazes
- Como um dossel -
cobrindo o esquife magistral...
Já não brilha o
cinzel das construções audazes
No marmóreo
esplendor sinfônico das frases,
Terra de Portugal!
III
A caminho do
triste e derradeiro asilo
Lá vai...
pausadamente... o negro funeral...
Ah! curva a
fronte!... adora esse caixão tranquilo!...
E beija as mortas
mãos do semideus do Estilo
Terra de Portugal!
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