A DANAÇÃO DA PALAVRA
A palavra fica
tatuada no corpo
Inscrita em
movimentos cabisbaixos
Dança esquisita de
corpos desajeitados
Ritmos
desencontrados
Fuligem da cana e
assombro
Esse é o meu
lugar: um reino onde as flautas desafinam
Os navios
naufragam
E a inocência
implora animação de palhaços
ABISMOS
Ele sumiu no
silêncio da existência
Sua mãe gritou
como se quisesse explodir o mundo.
Fios de linha
podre entrelaçam miséria e morte.
Meu olhar
verde-oculto a tudo assiste
pelo espelho da
escuridão da infância,
Nas mãos carrego
sementes
E o meu amor se
enfeita toda vez que a dor é infinita.
PARA ALGUNS POETAS
Liberta-te
aleivoso poeta
Liberta-te de
tanta amargura
Que te aprisiona
no sarcasmo
Olha a dor do
mundo
A realidade
implorando poesia
Liberta-te
Ou cala-te para
sempre
PROTEÇÃO
Não perca a senha
Que te livra
Da danação da
palavra
Não escute os
assobios
Dos fantasmas que
te chamam
O sonho possui a
chave dos mistérios
Que te salvarão
Dos rivais
Da vida e da
poesia
DICOTOMIA
Do lado de lá as
melodias brotavam
E o perfume do
silêncio exalava suas folhas recém nascidas
Do lado de lá o
amor prometido caía sobre mim como cai
a complacente
delicadeza sobre a brutalidade dos dias
Do lado de lá eu
cantava como quem reza uma oração da tarde
Do lado de lá a
luz do sol me saudava em promessas de primavera
Do lado de cá as
minhas mãos estavam vazias
E eu contemplava
essas feridas
Que jamais se
transmutariam em cicatrizes
Do lado de cá eu
espreitava, proibida, o lado de lá
E descobria, em
mim, um desatinado coração
Amoroso e louco,
vislumbrando o infinito
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Fonte:
Revista Brasileira: Fase VII - Julho-Agosto-Setembro 2009 - Ano XV - Nº 60 - (Academia Brasileira de Letras - ABL)
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