sábado, 21 de novembro de 2015

José Neres: "5 Poemas"

A PROFECIA

Um dia linda negra aqui virá
Para livrar seu povo da escravidão.
Moça virgem, o céu merecerá
Pois ela ao prazer sempre dirá não.

Touro encantado aqui enfrentará
Nua, com punhal de prata não mão.
Poderá para sempre se calar
Mas livrará do tronco seu irmão.

A luta só terá um vencedor
E a negra só poderá vencer
Se realmente toda virgem for.

Mesmo assim, algo pode acontecer
E tudo, tudo cedo acabar
Sem a palavra se realizar.



PUNHAL E LUA CHEIA

Prata de branco punhal virou
Tudo o que faltava chegou

O banho Rosa foi tomar
A lua cheia já vai chegar

O povo o canto já entoou
Bem forte e perto soa o tambor

Pega o punhal de prata co’a mão
E o beija cheia de emoção

O povo da senzala todo chora
Todos sabem que é chegada a hora

Rosa parte rumo ao destino

E a moça de tão tenra idade
Busca pra seu povo a liberdade



A SEMENTE

Tal e qual o lavrador
Que bem cedo planta uva
E depois colhe limão,
Vou semear Amor
Pela estrada, a cada curva,
Pelo céu e pelo chão,
Para quando mais velho eu for
Colher após uma chuva
Uns ramos de solidão



NO FUNDO DO ABISMO

No meio do caminho,
Nenhuma pedra,
Um abismo
Nenhuma ponte...

No fim do abismo,
Nenhuma pedra, um fim
Nenhum caminho



AS MÃOS DE ONÃ

Tuas calejadas mãos
Da qual a vida escorre
Não tocam a linda pele
Da criança não gerada
Do sangue derramado
No seio daquela noite
Tão longamente esperada
Sob a luz da estrela fria.

Nessas tuas sujas mãos
A vida não brotará
No fogo adubo não gera
Mais que uma crepitação
Teu sêmen no chão também
Não produz felicidade
Onã, teu sangue no chão
Não trará mais esperanças.

Tuas mãos viciadas
Do prazer continuado
Úteros jamais serão
Onã, planta uma semente
Numa carne verdadeira
Colha aquele doce fruto
Que um dia também foste
Com tuas mãos inda puras

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