terça-feira, 24 de novembro de 2015

José Moreira da Silva: "5 Poemas"

O NOVO CRISTO

Leva tua cruz obstinadamente
Seja ela signo e bandeira de luta,
Certamente sangrarás pelos caminhos,
Mas os rastros de sangue sejam marcas
De um valoroso e constante labutar.

E quando descansares o madeiro,
Sem mais força do peso sustentar,
É certo que ouvirás da estranha turba
O grito: é manha! A ferros! Crucifiquem-no!

Eis a humanidade a que chegou,
Nos modernos tempos que vivemos:
Pregar honestidade e honradez
É expor-se à sanha dos corruptos,
Abrir feridas e a própria sepultura.

Mas seja tua cruz – bandeira e signo –
O símbolo maior do chamamento,
A poderosa Cruzada dos honestos,
Em novo ciclo e construção de mentes,
Nem que dos cravos o sangue se derrame.



AMADA POESIA

Para habitar um universo poético,
basta estar impregnado de substância lírica...
basta amar
(Patrícia Bins)

Quando a noite baixa
O silêncio se petrifica.
Nas pedras do silêncio
Mora uma saudade imensa
Embarco nela.
A mente é uma corrente
Em busca do teu mundo
Radiante de luz e amor.

Às vezes dormes,
Respeito teu dormir,
Mas se não te acordas
Vou morrendo
Aos poucos...
Aos poucos.



A IRA DA NATUREZA

Um pássaro cantou
um canto santo, na floresta virgem.
Depois vieram os madeireiros,
com serra na mão...
os pássaros atônitos fugiram,
labaredas subiram
e a paz da selva evaporou.

A natureza assim contrariada,
das cinzas fez nascer urtigas,
espinheiros, cobras venenosas
e a víbora de mil pernas
trouxe a morte.

Explodiu no coração da selva
a ira e nada mais brotou.
  


BREUSA

Nunca direi de ti,
o que de fato és,
diáfana mulher,
sublime estátua.

Irás às estrelas
e eu, aqui – pesada carne,
aprisiono o espírito,
enquanto puxa-me
a corda – gravidade
aos páramos do indizível.

Um dia, quem sabe,
na grande obra,
corolário dos sonhos,
possa pegar a tua mão
e beijá-la
em real genuflexão.

Tarde demais?
Talvez,
seguiremos juntos
os caminhos da infinitude.



AO OUTRO

O bem que te faço
é dar-te liberdade.
Quem impõe ao outro
sua individualidade,
contraria a natureza,
aprisiona o livre arbítrio,
parte a lei natural,
deixa na solitude,
o ser agrilhoado
à esfera mínima dos sonhos.

A grandeza diz:
- Dá-lhe asas para voar.
No voo, a experiência
mostra os caminhos.

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Fonte:
Academia Rio-Grandense de Letras

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