PASSASTE COMO A ESTRELA MATUTINA
Passaste
como a estrela matutina,
Que se
some na luz pura da aurora;
Da vida só
viveste aquela hora
Em que a
existência em flor luz sem neblina.
Ver-te e
perder-te! De tão triste sina
Não passa
a mágoa em mim, antes piora;
Sem ver-te
já, minha alma ainda te adora
Em triste
culto que a saudade ensina.
Não vivo
aqui; a vida em ti só ponho,
Na fé, de
Cristo filha, a dor abrigo,
Futuro em
ti no céu vejo risonho!
Neste
mundo, meu mundo é teu jazigo;
Dizem que
a vida é triste e falaz sonho,
Se é sonho
a vida, sonharei contigo.
TRISTEZA AMARGA
Não chames
sonhos a tristeza e dores
Do coração
que chora a mocidade,
Na tarde
triste da tristonha idade,
Que é
tronco seco onde morreram flores.
Sonhos não
são; nem são já sonhadores
Os que da
vida sabem a verdade;
Dor
pungente e real é a saudade
Do tempo
em que de nós fomos senhores.
Nossos não
somos já, senão da morte,
Quando
entre o mundo está e a sepultura
Em fase
derradeira, a nossa sorte;
Quem pode
então lembrar, sem amargura,
Tenha
embora o vigor do ânimo forte,
Que vai da
vida a luz ser noite escura!
SE VOZ CRISTÃ EM TOM HARMONIOSO
Se voz
cristã em tom harmonioso
Dos mortos
à mansão seu hino envia,
Rompe
talvez a morte a letargia,
O espectro
acorda quase esperançoso!
Do teu
benigno metro, tão piedoso,
Minha
descrença ouviu a melodia;
A fé quase
sorriu quando te ouvia!
Deu ao
mundo um olhar quase saudoso!
Desertas
ruínas onde reina a calma
Têm na
tristeza graça e têm doçura
Se ao pé
lhes nasce esbelta e verde palma:
Assim teu
canto de cristão doçura
É, nos
ermos sombrios de minh'alma,
Rosa que
enfeita velha sepultura!....
TRISTEZAS DE MINHA ALMA TÃO SENTIDAS
Tristezas
de minha alma tão sentidas,
Que sois
doces memórias do passado,
Do tempo
já vivido, e tão lembrado,
Ainda me
dais as horas já perdidas!
Horas de
tanto bem, tão bem vividas,
Quando
vivi feliz e descuidado,
Sejam ao
coração desenganado
Sonhos que
enganem dores tão gemidas
Tem hoje o
meu viver tal agonia,
Que é
doçura a tristeza da saudade,
E a
saudade do tempo é poesia.
Flores da
quadra sois da mocidade,
Minha
velhice em vós se refugia,
Tristezas
de minha alma em soledade...
MANHÃ EM PETRÓPOLIS
Que dourada manhã,
que luz mimosa
Enverniza dos
campos a verdura!
Que aura cheirosa
e cheia de brandura!
Será, quem sabe, o
respirar da rosa?
Doura-se em luz a
serra majestosa,
Das flores leva a
Deus a essência pura;
Dos pássaros nos
sons com que doçura,
Canta a floresta antífona
maviosa!
D´alma em ternura
a ti sobem louvores,
Bendito criador da
natureza!
Quem vê sem te
adorar tantos primores?
Que humano rosto
em si tem tal beleza?
De qual beleza
nascem mais amores?
E quais amores têm
tanta grandeza?
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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