A MINHA FLOR!
Trago no peito uma
flor
Nesta amena
soledade —
É a flor que nasce
d’alma
É a cândida
saudade.
Tirei-a de sobre
um túmulo
Onde tão bela
brilhava —
E de cor tão roxa
— roxa
Que o meu peito
roxeava.
Tinha o mago
sentimento
Qu’em minha alma
exp’rimentava —
Ao colhê-la a sós
com ela
O meu fado
consultava.
Era triste e merencória
Nestes desertos
lugares —
Qual peito que
geme aflito
Na soidão os seus pesares!
Chorou lagrimas
comigo
Tão d’alma e tão
pungentes
Que, qual Fada, me
dizia
Minhas desgraças
pendentes.
E era tão meigo
esse som
Que no peito m’ecoava
—
Que julgava anjo
do céu
Quem nest’hora me
falava:
Porque triste,
triste sentes
Da existência o
dissabor?
Porque choras
gemebundo
Teus tormentos,
tua dor?
Queres que eu Fada
soletre
Tuas magoas — tua dor?
—
São apanágios da
terra —
É saudade — é
desamor!
Descrido assim no
mundo
Não sejas — crê e
espera;
Pois que o tempo
nas saudades
Muitas vezes as
tempera!
Eu sou planta e também
sinto
Da saudade o cru
rigor —
Quanta vez de
balde espero
P’ra regar-me o
horticultor?
Quanta vez era
dias turvos —
Anelo os raios do
Sol —
E quais núncios
desta vinda
Os cantos do
rouxinol? —
Quanta vez d’alma
suspiro
No inverno p’la
primavera,
Que tanta vida me
dá —
Nesse tempo em
qu’ela impera?
Infeliz não és tu
só
Neste mundo d’ilusão:
—
Eu também sofro —
e não tenho,
Como tu — um
coração.
Cala pois os teus
tormentos
Em teu peito
amargurado —
Neste teu cruel
penar —
Sê crente e
resignado!»
E assim a florinha
Tão meiga falou —
Su’alma tão minha
Na minha roçou,
Que os prantos da
terra
No peito calando —
Com ela cismando,
Meu pranto findou!
UM PEDIDO
Jônia tirana
Fere o meu peito
Que contrafeito
Vive a gemer,
Deixa que prestes
Teu trovador
D’insana dor
Vá a morrer!
Porém se queres
Que ele viva
Chama altiva
Vai-lhe acender
Dá-lhe o amor
Porque delira,
E só suspira
Até morrer! —
O SEU RETRATO!
Miserable destin — Quoi vivre sans son âme
Méconnaître l’amour et toujours le rêver;
Parler sans s’émouvoir un langage de flamme
Peindre un bonheur sans l’éprouver.
Ml.e Dephine Gay.
Ó imagem d’encanto
e primor
Ó do mundo o meu único
ideal, —
Ó das virgens a —
virgem d’amor,
Ó Deidade p’ra mim
sem igual,
Recebe o meu canto
Qu’encerra só
pranto
Despido do encanto
Do meigo trovar; —
Mas d’alma sentido
Por ela tão
qu’rido,
No acento pungido
Que sabe exalar!
És a imagem mais
querida
Formada por Deus
no mundo —
És o sorriso da
vida
Mesmo em báratro
profundo —
És a flor mais
primorosa
Sempre, sempre tão
viçosa
Nesse teu
desabrochar; —
Que nunca terás na
vida
O nome d’emurchecida
Porque nunca hás
de murchar!
Teu rosto exprime
a doçura
Do lírio no
despontar,
Quando se ostenta
vaidoso
Em seu ramo a balouçar:
—
E teus olhos quais
estrelas
Tem mais fulgor do
que elas
No firmamento a
brilhar —
Porqu’infiltram em
minh’alma
Com transporte e
doce calma —
—Quanto vale um
casto olhar! —
Teus lábios de
rubra cor
São do mais belo
carmim
Quando discerram
mimosos —
Murmurando um
terno — sim! —
Tem a subida magia
Que transporta e
m’extasia
Mesmo na vida a
carpir —
Porque esmaga
esses profanos
Que se tornarem tiranos
Descrendo do teu
sorrir!
O teu níveo seio —
é belo,
E da mais alta
brancura,
Quando meigo arfa
constante
A mais cismada
ventura: —
Teus cabelos da cor
do oiro
São do mundo o meu
tesoiro —
Quando soltas a
brilhar; —
Pois será sempre o
teu rosto
O mais divino
composto
Que na terra hei
de adorar!
TENHO FÉ!
Tenho fé na meiga
aurora
No horizonte a
despontar —
Quando junto a
altivas rochas
Eu contemplo o argênteo
mar.
Tenho fé n’uma
estrelinha
Lá nos céus só a
brilhar —
Quando em noite
escura e feia
Vem-me a mente
acalentar.
Tenho fé também na
lua
Mesmo a pino a
fulgurar —
Quando a sós e merencório
Vou na lira a
descantar.
Mas quando diviso
uns olhos
Negros — negros a
mirar
Minha fé inda é
mais pura
Porque nunca ha de
acabar.
Porque uns olhos
negros — negros
De tão doce e mago
olhar
Tem mais brilho do
que os astros
No firmamento a
brilhar!
A UMA JOVEM!
És perla doirada,
Por Anjo
engastada,
De brilho famada
No mundo a luzir;
És alva pombinha,
És meiga estrelinha
Que o céu
acarinha,
No céu a fulgir!
És flor primorosa,
No viço radiosa,
No cheiro mimosa
Na terra a florir:
És trova singela,
Tão pura e tão bela
De meiga donzela
De casto sorrir!
És eco sentido
Por Anjos sabido
Por mim tão
querido,
No peito a vibrar:
És doce harmonia,
Qu’enleva, extasia
Com forte magia
No teu decantar!
Gemido de serra,
Suspiro da terra,
És tudo qu’encerra
A terra, céu, mar!
És sopro divino
Tão puro e tão
dino,
Que sabes n’um hino
O mundo extasiar!
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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