É O SILÊNCIO...
É o silêncio, é o
cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante
em cada livro que olha.
E a luz nalgum
volume sobre a mesa...
Mas o sangue da
luz em cada folha.
Não sei se é mesmo
a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o
instinto que a tem presa.
Penso um presente,
num passado. E enfolha
A natureza tua
natureza.
Mas é um bulir das
cousas... Comovido
Pego da pena,
iludo-me que traço
A ilusão de um
sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se
aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido
anima...
E a câmara muda. E
a sala muda, muda...
Áfonamente rufa. A
asa da rima
Paira-me no ar.
Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma
ao som que se aproxima.
Cresce-me a
estante como quem sacuda
Um pesadelo de
papéis acima...
......................................
E abro a janela.
Ainda a lua esfia
últimas notas
trêmulas... O dia
Tarde florescerá
pela montanha.
E ó minha amada, o
sentimento é cego...
Vês? Colaboram na
saudade a aranha,
Patas de um gato e
as asas de um morcego.
NOTURNOS
É o silêncio, é o
cigarro e a vela acesa
Olha-me a estante
em cada livro que olha.
E a luz nalgum
volume sobre a mesa...
Mas o sangue da
luz em cada folha.
Não sei se é mesmo
a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o
instinto que a tem presa.
Penso um presente,
num passado. E enfolha
A natureza tua
natureza.
Mas é um bulir das
cousas... Comovido
Pego da pena,
iludo-me que traço
A ilusão de um
sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se
aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido
anima...
E a câmara muda. E
a sala muda, muda...
Afonamente rufa. A
asa da rima
Paira-me no ar.
Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma
ao som que se aproxima.
Cresce-me a
estante como quem sacuda
Um pesadelo de
papéis acima...
....................................
E abro a janela.
Ainda a lua esfia
Últimas notas trêmulas...
O dia
Tarde florescerá
pela montanha.
E oh! Minha amada,
o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na
saudade a aranha,
Patas de um gato e
as asas de um morcego.
VINHO
Alma presa da
Grécia, em prisão de turquesa!
Vibre a Vida a
cantar nessas taças à Vida,
Como, dentro do
Sangue, a Alma da Natureza
— Num seio nu, num
ventre nu, — ferve incendida!
Vinho de Cós! e
quente! a escorrer sobre a mesa
Como um rio de
fogo, onde vela perdida,
Braço branco,
embalada à flor da correnteza,
Floresce ao sol,
floresce à luz, floresce à Vida!
Oh! bem-vinda;
bem-vinda essa vela que chega!
Nau de rastro que
traz a ilusão de uma grega
Descerrando à
Volúpia a clâmida aquecida...
Vinho de Cós!
vinho de Cós! e os nossos olhos
De Virgílios a
errar entre vagas e escolhos,
Argonautas de Amor
sobre os mares da Vida!
EVOÉ
Primavera! —
versos, vinhos...
Nós, primaveras em
flor.
E ai! corações,
cavaquinhos
Com quatro cordas
de Amor!
Requebrem árvores
— ufa! —
Como as mulheres,
ligeiro!
Como um pandeiro
que rufa
O Sol, no monte, é
um pandeiro!
E o campo de ouro
transborda...
Ó Primavera, um
vintém!
Onde é que se
compra a corda
Da desventura,
também?
Agora, um rio,
água esparsa...
Nas águas claras
de um rio,
Lavem-se penas à
garça
Do riso, branco e
sadio!
E o dedo estale,
na prima...
Que primaveras, e
em flor!
Ai! corações, uma
rima
Por quatro versos
de Amor!
O VERME E A ESTRELA
Agora sabes que
sou verme.
Agora, sei da tua
luz,
Se não notei minha
epiderme...
É, nunca estrela
eu te supus
Mas, se cantar
pudesse um verme,
Eu cantaria a tua
luz!
E eras assim...
Por que não deste
Um raio, brando,
ao teu viver?
Não te lembrava.
Azul-celeste
O céu, talvez, não
pôde ser...
Mas, ora! Enfim,
por que não deste
Somente um raio ao
teu viver?
Olho, examino-me a
epiderme,
Olho e não vejo a
tua luz!
Vamos que sou,
talvez, um verme...
Estrela nunca eu
te supus!
Olho, examino-me a
epiderme...
Ceguei! Ceguei da
tua luz?
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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