PÔS-SE O SOL
Pôs-se o
sol... Como já, na sombra feia
Do dia,
pouco a pouco, a luz desmaia!
E a parda
mão da Noite, antes que caia,
De grossas
nuvens todo o ar semeia!
Apenas já
diviso a minha Aldeia;
Já do
cipreste não distingo a faia:
Tudo em
silêncio está. Só, lá na praia,
Se ouvem
quebrar as ondas pela areia.
Com a mão
na face, a vista ao Céu levanto,
E cheio de
mortal melancolia,
Nos
tristes olhos mal sustenho o pranto;
E se inda
algum alívio ter podia
Era ver esta
Noite durar tanto,
Que nunca
mais amanhecesse o dia!
EU VI UMA PASTORA
Eu vi uma
Pastora em certo dia
Pelas
praias do Tejo andar brincando,
Os
redondos seixinhos apanhando,
Que no
puro regaço recolhia.
Eu vi nela
tal graça, que faria
Inveja a
quantas há; e o gesto brando,
Com o
sereno rosto levantado,
Parece
namorava quanto via.
Eu vi o
passo airoso, a compostura,
Com que
depois me pareceu mais bela,
Guiando os
cordeirinhos na espessura.
Eu o digo
de todo; vi a Estélia:
De graça,
de candor, de formosura
Só poderei
ver mais, tornando a vê-la.
SONETO
Nesta Aldeia, onde
estou meu bom Fileno,
Graças Deus,
alegremente passo;
Pesco umas vezes,
outras vezes caço:
ar é são, é fértil
terreno.
Não bebo aqui de
amor cruel veneno,
Nem ouço as vis
escusas de hum escasso;
Não ando as cortesias;
se as faço,
É aquém me não tem
por mais pequeno.
Os homens são
fieis; há temperança
No vestir, comer;
paz, alegria
Viverão sempre
nesta vizinhança,
idade de ouro
pouco mais seria;
Só me falta uma
bem-aventurança,
Que era ter-vos na
minha companhia.
SONETO
Depois que linda
Altéia destes prados
Ditosa foi fazer
outra espessura,
Já não vemos
correr fonte pura
Só se for dos
olhos magoados.
Tudo nestes
contornos são cuidados
Nascidos de
tamanha desventura,
Pisa sem dono gado
semeadura,
Já se não ver na
Aldeia entrar cajados,
As pastoras
deixarão de irão rio,
As abelhas fugirão
da colmeia
rebanho se fez
magro bravio
Andam todos
dizendo: Altéia, Altéia,
Onde estás? Torna
vir, que teu desvio
Tem-nos feito mais
perda que uma cheia.
SONETO
Passa o frio
Janeiro, o ardente Agosto,
Torna Janeiro vir,
e Agosto passa,
Lança-se, cresce
arranca-se a linhaça,
E tu maltratar-me
por teu gosto.
Se te falo em amor
voltas-me o rosto,
Fazes-me quando
muito uma negaça
Sem ser possível
que te caia em graça,
Por mais forças
que nisto tenha posto.
Até os mais pastores,
que vem isto,
Dizem fazendo mofa
do meu trato:
Bem tem zombado Brazia
de Calisto,
E se ateima teu gênio
ser-me ingrato,
Olha Brazia, eu
então deixo-me disto,
Que
não quero passar por insensato.
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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