AMORES, AMORES
Não sou eu
tão tola
Que caia
em casar;
Mulher não
é rola
Que tenha
um só par:
Eu tenho
um moreno,
Tenho um
de outra cor,
Tenho um
mais pequeno,
Tenho
outro maior.
Que mal
faz um beijo,
Se apenas
o dou,
Desfaz-se-me
o pejo,
E o gosto
ficou?
Um deles
por graça
Deu-me um,
e, depois,
Gostei da
chalaça,
Paguei-lhe
com dois.
Abraços,
abraços,
Que mal
nos farão?
Se Deus me
deu braços,
Foi essa a
razão:
Um dia que
o alto
Me vinha
abraçar,
Fiquei-lhe
de um salto
Suspensa
no ar.
Vivendo e
gozando,
Que a
morte é fatal,
E a rosa
em murchando
Não vale
um real:
Eu sou
muito amada,
E há muito
que sei
Que Deus
não fez nada
Sem ser
para quê.
Amores,
amores,
Deixá-los
dizer;
Se Deus me
deu flores,
Foi para
as colher:
Eu tenho
um moreno,
Tenho um
de outra cor,
Tenho um
mais pequeno,
Tenho
outro maior.
A CIGARRA E A FORMIGA
Como a
cigarra o seu gosto
É levar a
temporada
De Junho,
Julho e Agosto
Numa
cantiga pegada,
De Inverno
também se come,
E então
rapa frio e fome!
Um Inverno
a infeliz
Chega-se à
formiga e diz:
- Venho
pedir-lhe o favor
De me
emprestar mantimento,
Matar-me a
necessidade;
Que em
chegando a novidade,
Até faço
um juramento,
Pago-lhe
seja o que for.
Mas
pergunta-lhe a formiga:
"Pois
que fez durante o Estio?"
- Eu,
cantar ao desafio.
"Ah
cantar? Pois, minha amiga,
Quem leva
o Estio a cantar,
Leva o
Inverno a dançar!"
MILITARÃO
Um valente
militar
Ficou tão
abarrotado
Num
opíparo jantar
A que fora
convidado,
Que o que
fazia era ímpar,
E estava
dando cuidado.
Diz-lhe
aflita uma das manas:
“Meta dois
dedos na boca,
Provoque
as ânsias, a ver!”
-Dois
dedos na boca...louca?
Se eu os
pudesse meter,
Metia duas
bananas.
BEIJO
Beijo na
face,
Pede-se e
dá-se:
Dá?
Que custa
um beijo?
Não tenha
pejo:
Vá!
Um beijo é
culpa,
Que se
desculpa:
Dá?
A
borboleta
Beija a
violeta:
Vá!
Um beijo é
graça,
Que a mais
não passa:
Dá?
Teme que a
tente?
É
inocente...
Vá!
Guardo
segredo,
Não tenha
medo:
Vê?
Dê-me um
beijinho,
Dê de
mansinho,
Dê!
(BEIJO...)
Talvez te
leve
O vento em
breve,
Flor!
A vida
foge,
A vida é
hoje,
Amor!
Guardo
segredo,
Não tenhas
medo
Pois!
Um mais na
face,
E a mais
não passe!
Dois...
Oh! dois?
piedade!
Coisas tão
boas...
Vês?
Quantas
pessoas
Tem a Trindade?
Três!
Três é a
conta
Certinha e
justa...
Vês?
E que te
custa?
Não sejas
tonta!
Três!
Três, sim:
não cuides
Que te
desgraças:
Vês?
Três são
as Graças,
Três as
Virtudes;
Três.
As folhas
santas
Que o
lírio fecham,
Vês?
E não o
deixam
Manchar,
são... quantas?
Três!
GRAMÁTICA RUDIMENTAR
Aquele Manuel do
Rego
É rapaz de tanto
tino
Que em lírio põe
sempre y grego,
E em lira põe i
latino!
E como a gente diz
ceia
Escreve sempre cear;
Assim como de
passeia
Tira o verbo passear!
Nunca diz senão pior
Não só por ser
mais bonito,
Mas porque achou
num autor
Que deriva de sânscrito.
Escreve razão com
s,
E escreve Brasil
com z:
Assim ele nos quisesse
Dizer a razão
porquê!
Também como diz -
eu soube
Julga que eu pôde
é correto:
Temo que a morte
nos roube
Rapazinho tão
discreto!
É um gramático o
Rego!
É um purista o finório...
Se Camões falava
grego,
E o Vieira latinório!
---
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário