A UMA ROSA
Como tens
tão pouca vida?
Quem tão
depressa te mata?
Flor do
mais ilustre sangue,
Que deu de
Vênus a planta?
Uma Aurora
só que vives,
Flores te
chamam Monarca:
Na mesma
terra do império,
Que foi
berço, tens a campa.
Lástima da
tarde chamam
A ti doce
mimo da alva,
Gentil
pérola nascida
Entre
concha de esmeralda.
Águia nos
voos florentes
Estendes
ao Sol as asas,
Mas quando
os raios lhe logras,
Fênix em
raios te abrasas.
Em quanto
em verde clausura
Te fecha o
botão as galas,
Para os
logros, que desejas,
Te dão
vida as esperanças.
Mas quando
a púrpura bela
Te serve
já de mortalha,
Sentido o
Sol chora raios,
Buscando a
morte nas águas.
De
fermosura tão rica
Não sei
quem foi o pirata
Tão
atrevido, que rouba
A joia da
madrugada.
LAMPADÁRIO DE CRISTAL
(Extratos)
Ao rigor
de Lísi
Mais dura,
mais cruel, mais rigorosa
Sois,
Lísi, que o cometa, rocha ou muro
Mais
rigoroso, mais cruel, mais duro,
Que o Céu
vê, cerca o mar, a terra goza.
Sois mais
rica, mais bela, mais lustrosa
Que a
perla, rosa, Sol ou jasmim puro,
Pois por
vós fica feio, pobre e escuro,
Sol em
Céu, perla em mar, em jardim rosa.
Não viu
tão doce, plácida e amena,
(Brame o
mar, trema a terra, o Céu se agrave),
Luz o Céu,
ave a terra, o mar sirena.
Vós
triunfais de sirena', luz e ave,
Claro Sol,
perla fina, rosa amena,
Mor
cometa, árduo muro, rocha grave.
SONHANDO QUE VIA A MÁRCIA
Pintais,
sono gentil, com belo ornato
Meu claro
sol na vossa sombra escura,
Que posto
que da morte sois retrato,
Retrato
sabeis ser da fermosura.
Eu, vendo
o grato rosto e peito ingrato,
Quando
fermosa a sigo a temo dura;
Porém
firme no amor, fácil no trato,
Me coroa a
esperança, a fé me jura.
Cante pois
por tal glória, por tal sorte,
Cante
vosso louvor, minha Talia
No Ocaso,
no Oriente, Sul e Borte;
Chame-vos
clara luz, não sombra fria,
Causa da
vida, não irmão da morte,
Filho da
noite não, mas pai do dia.
A UMA TRANÇA DE CABELOS NEGROS
Diversa em
cor, igual em bizarria
Sois, bela
trança, ao lustre de Sofala,
Luto por
negra, por vistosa gala,
Nas cores
noite, na beleza dia.
Negra,
porém de amor na monarquia
Reinais
senhora, não servis vassala;
Sombra,
mas toda a luz não vos iguala;
Tristeza,
mas venceis toda a alegria.
Tudo sois,
mas eu tenho resoluto
Que sois só
na aparência enganadora
Negra,
noite, tristeza, sombra, luto.
Porém na
essência, ó doce matadora,
Quem não
dirá que sois, e não diz muito,
Dia, gala,
alegria, luz, senhora?
MANDANDO EL-REI D. PEDRO ENTERRAR O CORAÇÃO DO MARQUÊS
DE MARIALVA AO PÉ DO TÚMULO DE EL-REI D. JOÃO IV
Ceda ó
Jove na paz, Marte na guerra,
Pedro o
primeiro, a Pedro sem segundo,
Pois este
humano, aquele furibundo
Corações
tira, mortos desenterra:
Adonde
expira Inês Pedro se encerra,
Um medo ao
Reino, o outro amor ao mundo,
Pois faz a
um morto, a outro moribundo,
Grave este
o fogo, leve aquele a terra.
Três
corações, dous Janos, e um Mavorte,
Entregue
ao Letes um, outro à memória,
Um coroa o
amor, outro a consorte.
Mas ai com
tanto excesso, alta vitória,
De Pedro a
Pedro, o que da gloria à morte,
Ele é
morte de dous, vós de um sois glória.
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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