FORA DA BARRA
Adeus! Adeus! Nas cerrações perdida
Vejo-te
apenas, Guanabara altiva...
- Varella.
- Ao Rio de Janeiro.
Já vamos
longe... Os morros benfazejos
Metem na
bruma os cimos alterosos...
Ventos da
tarde, ventos lacrimosos,
Vós sois
da Pátria os derradeiros beijos!
As alvas
plagas, os profundos brejos,
Ficam
além, além! Adeus, gostosos
Tormentos
do passado! Adeus, oh gozos!
Adeus, oh
velhos e infantis desejos!
Na
fugitiva luz do sol poente
Vai se
apagando - ao longe - tristemente
Do
Corcovado a majestosa serra:
O mar
parece todo um só gemido...
E eu mal
sustenho o coração partido,
Oh terra
de meus pais! Oh minha terra!
VISITA À CASA PATERNA
A minha irmã Isabel
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de
um longo e tenebroso inverno,
Eu quis
também rever o lar paterno,
O meu
primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um
gênio carinhoso e amigo,
O fantasma
talvez do amor materno,
Tomou-me
as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a
passo, caminhou comigo.
Era esta
sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da
luz noturna à claridade,
minhas
irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me
em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão
gemia em cada canto,
Chorava em
cada canto uma saudade.
A VOZ DAS ÁRVORES
Enquanto os meus olhares flutuavam,
Seguindo
os vôos da erradia mente,
Sob a
odorosa cúpula fremente
Dos
bosques - onde os ventos sussurravam,
Ouvi
falar. As árvores falavam:
A secular
mangueira fielmente
Repetia-me
a rir o idílio ardente
Que dois
noivos, à tarde, lhe contavam;
A palmeira
narrava-me a inocência
De um
brando e mútuo amor, - sonho que veste
Dos loiros
anos a feliz demência;
Ouvi o
cedro, - o coqueiral agreste,
Mas,
excedia a todas a eloquência
Duma que
não falava: - era o cipreste.
PAULO E VIRGÍNIA
Fomos um
dia alegres, estouvados,
Ao clarão
matinal do sol nascente,
Colher as
flores do vergel ridente
E as
primeiras amoras dos cercados.
Risonhos,
venturosos, namorados,
Cada qual
mais feliz e mais contente,
Esquecemos
a terra inteiramente:
Doidos de
amor, de gozo embriagados.
Seus
cabelos - enquanto ela corria,
Voavam,
loiros com a luz, dispersos!
Eu a
chamava e ela me fugia.
Por fim
voltamos - em prazer imersos:
E das
venturas todas desse dia...
Resta a
saudade que inspirou meus versos.
JOSÉ DE ALENCAR
No teu regaço, oh
Pátria angustiosa,
Oh grande Mãe! oh
Niobe! consente
Que caia minha
lágrima pungente
E suspire minha
alma dolorosa;
Tua serena fronte
majestosa
Curva-se a terra —
lívida e plangente:
Perdeste a nívea
corda, a fibra algente
De tua agreste
Lira luminosa.
Quem cantará agora
esse obscuro
Idílio da
floresta, — ingênuo tema
Que ele criou —
tão mavioso e puro?
Quem guiará as
asas do Poema
Com mais doçura?
Oh Bardos do futuro,
Eu vos pergunto em
nome de Iracema!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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