sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Guimarães Júnior: "5 Poemas"

FORA DA BARRA

Adeus! Adeus! Nas cerrações perdida
Vejo-te apenas, Guanabara altiva...
- Varella. - Ao Rio de Janeiro.
Já vamos longe... Os morros benfazejos
Metem na bruma os cimos alterosos...
Ventos da tarde, ventos lacrimosos,
Vós sois da Pátria os derradeiros beijos!
As alvas plagas, os profundos brejos,
Ficam além, além! Adeus, gostosos
Tormentos do passado! Adeus, oh gozos!
Adeus, oh velhos e infantis desejos!
Na fugitiva luz do sol poente
Vai se apagando - ao longe - tristemente
Do Corcovado a majestosa serra:
O mar parece todo um só gemido...
E eu mal sustenho o coração partido,
Oh terra de meus pais! Oh minha terra!



VISITA À CASA PATERNA
A minha irmã Isabel

Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.



A VOZ DAS ÁRVORES

Enquanto os meus olhares flutuavam,
Seguindo os vôos da erradia mente,
Sob a odorosa cúpula fremente
Dos bosques - onde os ventos sussurravam,
Ouvi falar. As árvores falavam:
A secular mangueira fielmente
Repetia-me a rir o idílio ardente
Que dois noivos, à tarde, lhe contavam;
A palmeira narrava-me a inocência
De um brando e mútuo amor, - sonho que veste
Dos loiros anos a feliz demência;
Ouvi o cedro, - o coqueiral agreste,
Mas, excedia a todas a eloquência
Duma que não falava: - era o cipreste.



PAULO E VIRGÍNIA

Fomos um dia alegres, estouvados,
Ao clarão matinal do sol nascente,
Colher as flores do vergel ridente
E as primeiras amoras dos cercados.
Risonhos, venturosos, namorados,
Cada qual mais feliz e mais contente,
Esquecemos a terra inteiramente:
Doidos de amor, de gozo embriagados.
Seus cabelos - enquanto ela corria,
Voavam, loiros com a luz, dispersos!
Eu a chamava e ela me fugia.
Por fim voltamos - em prazer imersos:
E das venturas todas desse dia...
Resta a saudade que inspirou meus versos.



JOSÉ DE ALENCAR

No teu regaço, oh Pátria angustiosa,
Oh grande Mãe! oh Niobe! consente
Que caia minha lágrima pungente
E suspire minha alma dolorosa;

Tua serena fronte majestosa
Curva-se a terra — lívida e plangente:
Perdeste a nívea corda, a fibra algente
De tua agreste Lira luminosa.

Quem cantará agora esse obscuro
Idílio da floresta, — ingênuo tema
Que ele criou — tão mavioso e puro?

Quem guiará as asas do Poema
Com mais doçura? Oh Bardos do futuro,

Eu vos pergunto em nome de Iracema!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.

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