TE DEUM
Nós
Senhor, nós te louvamos,
Nós,
Senhor, te confessamos.
Senhor
Deus Sabaó, três vezes santo,
Imenso é o
teu poder, tua força imensa,
Teus
prodígios sem conta; - e os céus e a terra
Teu ser e
nome e glória preconizam.
E o
arcanjo forte, e o serafim sem mancha,
E o coro
dos profetas, e dos mártires
A turba
eleita – a ti, Senhor, proclamam,
Senhor
Deus Sabaó, três vezes santo.
Na
inocência do infante és tu quem falas;
A beleza,
o pudor – és tu que as gravas
Nas faces
da mulher, - és tu que ao velho
Prudência
dás, - e o que verdade e força
Nos puros
lábios, do que é justo, imprimes.
És tu quem
dás rumor à quieta noite,
És tu quem
dás frescor à imensa brisa,
Quem dás
fulgor ao raio, asas ao vento,
Quem na
voz do trovão longe rouquejas.
És tu que
do oceano à fúria insana
Pões
limites e cobro, - és tu que a terra
No seu vôo
equilibras, - quem dos astros
Governas a
harmonia, como notas.
Acordes,
simultâneas, palpitando
Nas cordas
d’Harpa do teu Rei Profeta,
Quando ele
em teu furor hinos soltava,
Qu’iam,
cheios de amor, beijar teu sólio.
Santo!
Santo! Santo! – teus prodígios
São
grandes, como os astros, - são imensos
Como areia
delgada em quadra estiva.
E o
arcanjo forte e o serafim sem mancha,
E o coro
dos profetas, e dos mártires
A turba
eleita- a ti, Senhor, proclamam,
Senhor
Deus Sabaó, três vezes grande.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha
terra tem palmeiras,
Onde canta
o Sabiá;
As aves,
que aqui gorjeiam,
Não
gorjeiam como lá.
Nosso céu
tem mais estrelas,
Nossas
várzeas têm mais flores,
Nossos
bosques têm mais vida,
Nossa vida
mais amores.
Em cismar,
sozinho, à noite,
Mais
prazer eu encontro lá;
Minha
terra tem palmeiras,
Onde canta
o Sabiá.
Minha
terra tem primores,
Que tais
não encontro eu cá;
Em cismar
–sozinho, à noite–
Mais
prazer eu encontro lá;
Minha
terra tem palmeiras,
Onde canta
o Sabiá.
Não
permita Deus que eu morra,
Sem que eu
volte para lá;
Sem que
disfrute os primores
Que não
encontro por cá;
Sem
qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta
o Sabiá.
CANÇÃO DO TAMOIO
I
Não
chores, meu filho;
Não
chores, que a vida
É luta
renhida:
Viver é
lutar.
A vida é
combate,
Que os
fracos abate,
Que os
fortes, os bravos
Só pode exaltar.
II
Um dia
vivemos!
E o homem
que é forte
Não teme
da morte;
Só teme
fugir;
No arco
que entesa
Tem certa
uma presa,
Quer seja
tapuia,
Condor ou
tapir.
III
O forte, o
cobarde
Seus
feitos inveja
De o ver
na peleja
Garboso e
feroz;
E os
tímidos velhos
Nos graves
concelhos,
Curvadas
as frontes,
Escutam-lhe
a voz!
IV
Domina, se
vive;
Se morre,
descansa
Dos seus
na lembrança,
Na voz do
porvir.
Não cures
da vida!
Sê bravo,
sê forte!
Não fujas
da morte,
Que a
morte há de vir!
V
E pois que
és meu filho,
Meus brios
reveste;
Tamoio
nasceste,
Valente
serás.
Sê duro
guerreiro,
Robusto,
fragueiro,
Brasão dos
tamoios
Na guerra
e na paz.
VI
Teu grito
de guerra
Retumbe
aos ouvidos
D'imigos
transidos
Por vil
comoção;
E tremam
d'ouvi-lo
Pior que o
sibilo
Das setas
ligeiras,
Pior que o
trovão.
VII
E a mãe
nessas tabas,
Querendo
calados
Os filhos
criados
Na lei do
terror;
Teu nome
lhes diga,
Que a
gente inimiga
Talvez não
escute
Sem
pranto, sem dor!
VIII
Porém se a
fortuna,
Traindo
teus passos,
Te arroja
nos laços
Do inimigo
falaz!
Na última
hora
Teus
feitos memora,
Tranquilo
nos gestos,
Impávido,
audaz.
IX
E cai como
o tronco
Do raio
tocado,
Partido,
rojado
Por larga
extensão;
Assim
morre o forte!
No passo
da morte
Triunfa,
conquista
Mais alto
brasão.
X
As armas ensaia,
Penetra na
vida:
Pesada ou
querida,
Viver é
lutar.
Se o duro
combate
Os fracos
abate,
Aos
fortes, aos bravos,
Só pode
exaltar.
POR UM AI
Se me
queres ver rendido,
De
joelhos, a teus pés,
Por um
olhar que me deites,
Por um só
ai que me dês;
Se queres
ver o meu peito
rugindo
como um vulcão,
Estourar,
arder em chamas,
Ferver de
amor e paixão;
Se me
queres ver sujeito,
curvado e
preso à tua lei,
Mais
humilde que um escravo,
Mais
orgulhoso que um rei;
Meus olhos
sobre os teus olhos,
Meu
coração a teus pés;
Por um
olhar que me deites,
Por um só
ai que me dês;
Ouça,
feliz, dos teus lábios
Esta só
palavra - amor! -
Estrela
cortando os ares,
Abelha
sobre uma flor.
Então
verás dos meus olhos,
Que o
pesar me não cegou,
Ebentaram
de alegria
Prantos,
que a dor estancou;
Então
verás o meu peito
Como outra
vez se incendia:
Era a
folha verde e fresca,
Onde o sol
se refletia!
Murcha e
triste pende agora;
Caiu, jaz
solta, está só:
Exposta ao
fogo, arde em chamas,
-
Deixai-a, desfaz-se em pó!
Hei de
sentir outra vida,
Outra vez
meu coração
Escutarei
palpitando
De amor,
de fogo e paixão.
Lascado
tronco sem graça,
Tal fui,
tal me vês agora!
Mas venha
o orvalho celeste,
Venha o
bafejo da aurora;
Venha um
raio de alegria
Dar-lhe às
raízes calor;
Revive de
novo, e brota
Folhas,
galhos e verdor.
Do cimo
erguido e copado
Outra vez
se dependuram
Mil flores
- ali mil aves
Nos seus
gorjeios se apuram.
Não quero
palavras falsas,
Não quero
um olhar que minsta,
Nenhum
suspiro fingido,
Nem voz
que o peito não sinta.
Basta-me
um gesto, um aceno,
Uma só
prova, - e verás
Minha alma
presa em teus lábios,
Como de
amor se desfaz!
Ver-me-ás
rendido e sujeito,
Cativo e
preso à tua lei,
Mais
humilde que um escravo,
Mais
orgulhoso que um rei!
SE SE MORRE DE AMOR
Se se
morre de amor! – Não, não se morre,
Quando é
fascinação que nos surpreende
De ruidoso
sarau entre os festejos;
Quando
luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de
prazer nos raiam n’alma,
Que
embelezada e solta em tal ambiente
No que
ouve e no que vê prazer alcança!
Simpáticas
feições, cintura breve,
Graciosa
postura, porte airoso,
Uma fita,
uma flor entre os cabelos,
Um quê mal
definido, acaso podem
Num engano
d’amor arrebentar-nos.
Mas isso
amor não é; isso é delírio
Devaneio,
ilusão, que se esvaece
Ao som
final da orquestra, ao derradeiro
Clarão,
que as luzes ao morrer despedem:
Se outro
nome lhe dão, se amor o chamam,
D’amor
igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é
vida; é ter constantemente
Alma,
sentidos, coração – abertos
Ao grande,
ao belo, é ser capaz d’extremos,
D’altas
virtudes, té capaz de crimes!
Compreender
o infinito, a imensidade
E a
natureza e Deus; gostar dos campos,
D’aves,
flores,murmúrios solitários;
Buscar
tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o
coração em riso e festa;
E à branda
festa, ao riso da nossa alma
fontes de
pranto intercalar sem custo;
Conhecer o
prazer e a desventura
No mesmo
tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso,
o misérrimo dos entes;
Isso é
amor, e desse amor se morre!
Amar, é
não saber, não ter coragem
Pra dizer
que o amor que em nós sentimos;
Temer
qu’olhos profanos nos devassem
O templo
onde a melhor porção da vida
Se
concentra; onde avaros recatamos
Essa fonte
de amor, esses tesouros
Inesgotáveis
d’lusões floridas;
Sentir,
sem que se veja, a quem se adora,
Compreender,
sem lhe ouvir, seus pensamentos,
Segui-la,
sem poder fitar seus olhos,
Amá-la,
sem ousar dizer que amamos,
E, temendo
roçar os seus vestidos,
Arder por
afogá-la em mil abraços:
Isso é
amor, e desse amor se morre!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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