INVOCAÇÃO À SAUDADE
Tu, que
n’alma te embebes magoada,
Melancólica
dor, e gota a gota
Vertes no
coração tóxico acerbo,
Que
entorpece a existência, e a vida rala!
Tu, tirana
da ausência, que retratas
Em
fugitiva sombra, em negro quadro
A imagem
do passado;
Que ao
filho sempre a mãe anosa antolhas,
A pátria
ao peregrino, o amigo ao amigo,
O esposo à
esposa; e ao malfadado escravo,
Que sem
futuro pelo mundo vaga,
Mostras a
liberdade, e o lar paterno;
E a cada
simulacro que apresentas,
Com
farpado aguilhão rasgas o peito
Do triste
que te sofre;
E nos
olhos sanguíneos, encovados,
Não
lágrimas distilas,
Mas fel,
só atro fel, bárbara, espremes.
Oh
saudade! Oh martírio de alma nobre!
Malgrado o
teu pungir, como és suave!
Como a
rosa de espinhos guarnecida
Aguilhoa,
e apraz co’o doce aroma,
Tu feres,
e mitigas com lembranças.
Mas ah! o
teu espinho ainda é mais duro;
E essas
tuas lembranças são falazes,
Flores são
que o punhal de Harmódio cobrem.
Para agora
oprimir-me tudo se ergue;
Tudo agora
de encantos se reveste,
Para mais
agravar minha saudade.
Sítios
qu’eu desdenhei, sítios que amava,
Templos
que orar me viram respeitoso,
Estes céus
de safira, estas montanhas
Cobertas
de cocares de palmeiras,
Pais,
amigos, irmãos, ah! tudo, tudo
Me está
representando a fantasia,
Como que
pouco a pouco quer matar-me.
Que cena
há aí que mais encantos tenha,
Que ver
lânguida virgem, pudibunda,
Pálida a
fronte, as faces desbotadas,
Baixos os
olhos, revoando a coma,
E uma
terna expressão de oculta angústia
Que
lavra-lhe as entranhas?
Que cena
há aí que mais encantos tenha,
Que vê-la
num baixel, segura ao mastro,
Suspiros
exalar, longos suspiros,
Que voam
murmurando, e se misturam
Co’os
ventos que sibilam nas enxárcias?
De vez em
quando olhar, e só ver nuvens,
Nuvens que
o céu encobrem, retratando
Fugitivas
imagens, que recordam
Terras da
pátria; quem, meu Deus, quem pode
Resistir a
tal cena?
Tu matas,
oh saudade!... Às crespas ondas,
Delirante
Moema, e quase insana,
Por ti
ferida se arremessa.... e morre...
Que não
pode a mesquinha
Longe
viver do fugitivo amante,
Que tanto
amor pagara com desprezos
Lindóia,
entregue à dor, desesperada
N’ausência
de Cacambo, mal lhe soa
Do caro
esposo o último suspiro,
Também
suspira, odeia a vida,... e morre...
E tu,
Clara infeliz, filha dos bosques,
Gerada
entre palmeiras,
Nada pode
aprazer-te, nada pode
Extinguir-te
a lembrança
Da rústica
cabana, onde embalada
Em berço
foste de tecidas varas.
De
diurnas, domésticas fadigas
Descansada,
lá quando alveja a lua
Em fundo
azul, mil vezes te enxergaram
Num tronco
de coqueiro reclinada,
Cantar da
infância tuas árias saudosas,
Árias
bebidas nos maternos lábios:
Ai...
minha mãe, dizias.
Ai...
minha mãe... quem sabe se ainda vives!
Aldeia
onde nasci, pobre cabana,
Rede que
me embalavas, eu vos choro!
Oh terra
do Brasil, terra querida,
Quantas
vezes do mísero Africano
Te regaram
as lágrimas saudosas?
Quantas
vezes teus bosques repetiram
Magoados
acentos
Do cântico
do escravo,
Ao som dos
duros golpes do machado!
Oh bárbara
ambição, que sem piedade,
Cega e
surda de Cristo a lei postergas,
E
assoberbando mares, e perigos,
Vais
infame roubar, não vãs riquezas,
Mas
homens, que escravizas!
Mil vezes
o Senhor, para punir-te,
Opôs ao
teu baixel ondas e ventos;
Mil vezes,
mas embalde,
Nas
cavernas do mar caiu gemendo.
À voz do
Eterno obediente a terra
Se mostra
austera e parca,
Que a
lágrima do escravo esteriliza
O terreno
que orvalha.
A Natureza
preza a Liberdade,
E só
franqueia aos livres seus tesouros.
Oh suspirada,
oh cara Liberdade,
Descende
asinha do Africano à choça,
Seu pranto
enxuga, quebra-lhe as cadeias,
E
adoça-lhe da pátria a dor saudosa.
Oh
palavras! oh língua! quão sois fracas,
Para
d’alma narrar os sentimentos!
Oh
saudade, aflição dura e suave!
Oh
saudade, que o rosto me descoras,
Saudade
que me apertas, que nos lábios
Secas-me o
almo riso,
E o
pensamento meu absorves todo,
Como uma
esponja o líquido, e o repartes
Co’o
passado, o presente, e co’o futuro.
Oh
saudade! Oh saudade!
Minhas
endechas mal carpidas colhe;
Dá-me um
lúgubre som, como o das vagas
Que nas
praias se quebram
Sem ordem,
como os meus chorados cantos;
Uma voz
sepulcral, como o da rola
Que em
solitária selva se lamenta;
Um acento
funéreo, um eco lúgubre,
Como o eco
das grotas, quando a chuva
Goteja
reboando.
Ah! corram
minhas lágrimas, ah! corram
A quantos
meus gemidos escutarem.
Oh
saudade! Oh saudade!
Pois que
em minha alma habitas,
E sem
cessar me lembras pais, e Pátria,
Minhas
tristes endechas serão tuas,
Saudade,
serei teu... Saudade, és minha.
A BELEZA
Oh Beleza!
Oh potência invencível,
Que na
terra despótica imperas;
Se vibras
teus olhos
Quais duas
esferas,
Quem
resiste a teu fogo terrível?
Oh Beleza!
Oh celeste harmonia,
Doce
aroma, que as almas fascina;
Se exalas
suave
Tua voz
divina,
Tudo, tudo
a teus pés se extasia.
A velhice,
do mundo cansada,
A teu
mando resiste somente;
Porém que
te importa
A voz
impotente,
Que se
perde, sem ser escutada?
Diga
embora que o teu juramento
Não merece
a menor confiança;
Que a tua
firmeza
Está só na
mudança;
Que os
teus votos são folhas ao vento.
Tudo sei;
mas se tu te mostrares
Ante mim
como um astro radiante,
De tudo
esquecido,
Nesse
mesmo instante,
Farei tudo
o que tu me ordenares.
Se até
hoje remisso não arde
Em teu
fogo amoroso meu peito,
De estóica
dureza
Não é isto
efeito;
Teu
vassalo serei cedo ou tarde.
Infeliz
tenho sido até agora,
Que a meus
olhos te mostras severa;
Nem gozo a
ventura,
Que goza
uma fera;
Entretanto
ninguém mais te adora.
Eu te
adoro como o anjo celeste,
Que da
vida os tormentos acalma;
Oh vida da
vida,
Oh alma
desta alma,
Um teu
riso sequer me não deste!
Minha lira
que triste ressoa,
Minha lira
por ti desprezada,
Assim
mesmo triste,
Assim
malfadada,
Teu poder,
teus encantos pregoa.
Oh Beleza,
meus dias bafeja,
Em teu
fogo minha alma devora;
Verás de
que modo
Meu peito
te adora,
E que
incenso ofertar-te deseja.
A CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIOS
Como da
pira extinta a labareda,
Ainda o
rescaldo crepitante fica,
Assim do
ardente moço a mente acesa
Na
desusada luta que a excitara,
Ainda,
alerta e escaldada se revolve!
De um lado
e de outro balanceia o corpo,
Como após
da tormenta o mar banzeiro;
Alma e
corpo repouso achar não podem.
Debalde os
olhos cerra; a igreja, as casas,
A vila,
tudo ante ele se apresenta.
Das preces
a harmonia inda murmura
Como um
eco longínquo em seus ouvidos.
Os
discursos do tio mutilados,
Malgrado
seu, assaltam-lhe a memória.
No
espontâneo pensar lançada a mente,
Redobrando
de força, qual redobra
A rapidez
do corpo gravitante,
Vai
discorrendo, e achando em seu arcanos
Novas
respostas às razões ouvidas.
Mas a noite
declina, e branda aragem
Começa a
refrescar. Do céu os lumes
Perdem a
nitidez desfalecendo.
Assim já
frouxo o Pensamento do índio,
Entre a
vigília e o sono vagueando,
Pouco a
pouco se olvida, e dorme, sonha,
Como
imóvel na casa entorpecida,
Clausurada
a crisálida recobra
Outra vida
em silêncio, e desenvolve
Essas
ligeiras asas com que um dia
Esvoaçará
nos ares perfumados,
Onde
enquanto réptil não se elevara;
Assim a
alma, no sono concentrada,
Nesse
mistério que chamamos sonho,
Preludiando
a vista do futuro,
A póstuma
visão preliba às vezes!
Faculdade
divina, inexplicável
A quem só
da matéria as leis conhece.
Ele
sonha... Alto moço se lhe antolha
De belo e
santo aspecto, parecido
Com uma
imagem que vira atada a um tronco,
E de setas
o corpo traspassado,
Num altar
desse templo, onde estivera,
E que
tanto na mente lhe ficara,
—
"Vem!" lhe diz ele e ambos vão pelos ares.
Mais
rápidos que o raio luminoso
Vibrado
pelo sol no veloz giro,
E vão
pousar no alcantilado monte,
Que
curvado domina a Guanabara.
Cerrado
nevoeiro se estendia
Sobre a
vasta extensão de espaço em torno,
Cobertando
o verdor da imensa várzea;
E o topo
da montanha sobranceiro
Parecia um
penedo no Oceano.
Mas o
velário de cinzenta névoa
Pouco a
pouco, subindo adelgaçou-se,
E
rarefeito enfim, em brancas nuvens.
Foi
flutuando pelo azul celeste.
Que
grandeza! Que imensa majestade!
Que
espantoso prodígio se levanta!
Que quadro
sem igual em todo o mundo,
Onde o
sublime e o belo em harmonia
O
pensamento e a vista atrai, enleva
E f az que
o coração extasiado
Se dilate,
se expanda, e bata, e impila
O sangue
em borbotões pelas artérias!
Os olhos
encantados se exorbitam,
Como as
vibradas cordas de uma lira,
De almo
prazer os nervos estremecem;
E o
espírito pairando no infinito,
Do belo
nos arcanos engolfado,
Parece
alar-se das prisões do corpo.
Niterói!
Niterói! como és formosa!
Eu me
glorio de dever-te o braço!
Montanhas,
várzeas, lagos, mares, ilhas,
Prolífica
Natura, céu ridente,
Léguas e
léguas de prodígios tantos.
Num todo
tão harmônico e sublime,
Onde olhos
o verão longe deste Éden?
NAPOLEÃO EM WATERLOO
Tout na manqué que quand tout avait
Réussi
.
.
Napoleão
em S. Helena (memorial).
Eis aqui o
lugar onde eclipsou-se
O Meteoro
fatal às régias frontes!
E nessa
hora em que a glória se obumbrava,
Além o Sol
em trevas se envolvia!
Rubro
estava o horizonte, e a terra rubra!
Dous
astros ao ocaso caminhavam;
Tocado ao
seu zênite haviam ambos;
Ambos
iguais no brilho; ambos na queda
Tão grandes
como em horas de triunfo!
Waterloo!...
Waterloo!... Lição sublime
Este nome
revela à Humanidade!
Um Oceano
de pó, de fogo, e fumo
Aqui
varreu o exército invencível,
Como a
explosão outrora do Vesúvio
Até seus
tetos inundou Pompéia.
O pastor
que apascenta seu rebanho;
O corvo
que sanguíneo pasto busca,
Sobre o
leão de granito esvoaçando;
O eco da
floresta, e o peregrino
Que
indagador visita estes lugares:
Waterloo!...
Waterloo!... dizendo, passam.
Aqui
morreram de Marengo os bravos!
Entretanto
esse Herói de mil batalhas,
Que o
destino dos Reis nas mãos continha;
Esse
Herói, que c’oa ponta de seu gládio
No mapa
das Nações traçava as raias,
Entre seus
Marechais, ordens ditava!
O hálito
inflamado de seu peito
Sufocava
as falanges inimigas,
E a
coragem nas suas acendia.
Sim, aqui
‘stava o Gênio das vitórias,
Medindo o
campo com seus olhos de águia!
O infernal
retintim do embate de armas,
Os trovões
dos canhões que ribombavam,
O sibilo
das balas que gemiam.
O horror,
a confusão, gritos, suspiros,
Eram como
uma orquestra a seus ouvidos!
Nada o
turbava! — Abóbadas de balas,
Pelo
inimigo aos centos disparadas,
A seus pés
se curvavam respeitosas,
Quais
submissos leões; e nem ousando
Tocá-lo,
ao seu ginete os pés lambiam.
Oh! por
que não venceu? — Fácil lhe fora!
Foi
destino, ou traição? — Águia sublime
Que
devassava o céu com vôo altivo
Desde as
margens do Sena até ao Nilo!
Assombrando
as Nações co’as largas asas,
Por que se
nivelou aqui c’os homens?
Oh! por
que não venceu? — O Anjo da glória
O hino da
vitória ouviu três vezes;
E três
vezes bradou: — É cedo ainda!
A espada
lhe gemia na bainha,
E inquieto
relinchava o audaz ginete,
Que soía
escutar o horror da guerra,
E o fumo
respirar de mil bombardas.
Na pugna
os esquadrões se encarniçavam;
Roncavam
pelos ares os pelouros;
Mil
vermelhos fuzis se emaranhavam;
Encruzadas
espadas, e as baionetas,
E as
lanças faiscavam retinindo,
Ele só
impassível como a rocha,
Ou de
ferro fundido estátua equestre,
Que
invisível poder mágico anima,
Via seus
batalhões cair feridos,
Como muros
de bronze, por cem raios;
E no céu
seu destino decifrava.
Pela
última vez c’oa espada em punho,
Rutilante
na pugna se arremessa;
Seu braço
é tempestade, a espada é raio!...
Mas
invencível mão lhe toca o peito!
É a mão do
Senhor! barreira ingente;
Basta,
guerreiro, Tua glória é minha;
Tua força
em mim ‘stá. Tens completado
Tua
augusta missão. — És homem; — pára.
Eram
poucos, é certo; mas que importa?
Que
importa que Grouchy, surdo às trombetas,
Surdo aos
trovões da guerra que bradavam:
Grouchy,
Grouchy, a nós, eia, ligeiro;
O teu
Imperador aqui te aguarda.
Ah! não
deixes teus bravos companheiros
Contra a
enchente lutar, que mal vencida
Uma após
outra em turbilhões se eleva,
Como vagas
do Oceano encapelado,
Que
furibundas se alçam, lutam, batem
Contra o
penedo, e como em pó recuam,
E de novo
no pleito se arremessam.
Eram
poucos, é certo; e contra os poucos
Armadas as
Nações aqui pugnavam!
Mas esses
poucos vencedores foram
Em Iena,
em Montmirail, em Austerlitz.
Ante eles
o Tabor, e os Alpes curvos
Viram
passar as águias vencedoras!
E o Reno,
e o Manzanar, e o Adige, e o Eufrates
Embalde à
sua marcha se opuseram.
Eram os
poucos que jamais vencidos
Os dias
seus contavam por batalhas,
E de cãs
se cobriram nos combates;
O sol do
Egito ardente assoberbaram,
A peste em
jafa, a sede nos desertos,
A fome, e
os gelos dos Moscóvios campos;
Poucos que
se não rendem; — mas que morrem!
Oh! que
para vencer bastantes eram!
A terra em
vão contra eles pleiteara,
Se Deus,
que os via, não dissesse: Basta.
Dia fatal,
de opróbrio aos vencedores!
Vergonha
eterna à geração que insulta
O Leão que
magnânimo se entrega.
Ei-lo
sentado em cima do rochedo,
Ouvindo o
eco fúnebre das ondas,
Que
murmuram seu cântico de morte:
Braços
cruzados sobre o largo peito,
Qual
náufrago escapado da tormenta,
Que as
vagas sobre o escolho rejeitaram;
Ou qual
marmórea estátua sobre um túmulo.
Que grande
idéia ocupa, e turbilhona
Naquela
alma tão grande como o mundo?
Ele vê
esses Reis, que levantara
Da linha
de seus bravos, o traírem.
Ao longe
mil pigmeus rivais divisa,
Que
mutilam sua obra gigantesca;
Como do
Macedônio outrora o Império
Entre si
repartiram vis escravos.
Então um
riso de ira, e de despeito
Lhe
salpica o semblante de piedade.
O grito
ainda inocente de seu filho
Soa em seu
coração, e de seus olhos
A lágrima
primeira se desliza.
E de
tantas coroas que ajuntara
Para dotar
seu filho, só lhe resta
Esse Nome,
que o mundo inteiro sabe!
Ah! tudo
ele perdeu! a esposa, o filho,
A pátria,
o mundo, e seus fiéis soldados.
Mas firme
era sua alma como o mármor,
Onde o
raio batia, e recuava!
Jamais,
jamais mortal subiu tão alto!
Ele foi o
primeiro sobre a terra.
Só, ele
brilha sobranceiro a tudo,
Como sobre
a coluna de Vendôme
Sua
estátua de bronze ao céu se eleva.
Acima dele
Deus, — Deus tão-somente!
Da
Liberdade foi o mensageiro.
Sua
espada, cometa dos tiranos,
Foi o sol,
que guiou a Humanidade.
Nós um bem
lhe devemos, que gozamos;
E a
geração futura agradecida:
Napoleão,
dirá, cheia de assombro.
O ANAGRAMA
Dos vates
a antiga usança
Quis
respeitoso seguir,
Ensaiando
em anagrama
Teu doce
nome exprimir;
Mas a
mente em vão se cansa,
No desejo
que me inflama
Nada me
vem acudir.
Não
desistindo da idéia,
Volto a
ela sem cessar;
Diversos
nomes invento,
Sem nenhum
poder achar,
Que seja
nome de idéia,
E se
preste ao meu intento,
Sem o teu
muito ocultar.
Vendo
alfim que não podia
Teu
anagrama fazer;
Que
quantos eu inventava
Nada
queriam dizer;
Uma idéia
à fantasia,
Quando já
nada esperava,
Me veio
enfim socorrer.
Foi idéia
luminosa,
Direi
quase inspiração,
Pois que
senti de repente
Palpitar-me
o coração.
Sua força
imperiosa
Foi tal,
qu'eu obediente
Dei-lhe
pronta execução.
De papel
em uma fita
Teu lindo
nome escrevi;
Pondo as
letras separadas,
Co'a
tesoura as dividi.
Cada solta
letra escrita
Enrolei, e
baralhadas,
Numa
caixinha as meti.
Tudo ao
acaso deixando,
Da sorte o
cofre agitei;
E
tirando-as de uma em uma,
Uma após
outra as tracei.
Oh
prodígio! Oh pasmo! Quando
Esta
maravilha suma
De um mero
acaso esperei?
Já Urânia
— escrito estava!
Foi Amor
quem o escreveu!
Não, não
foi obra do acaso;
Teu nome
veio do céu!
Aquele —
já — me ordenava
Que da
Urânia do Parnaso
Fosse o
nome agora teu.
Que para
mim renascida
A Musa
Urânia serás.
Que ao céu
e a Deus minha mente
Tu sempre
levantarás.
Musa real,
não fingida,
Unida a
mim ternamente,
Celeste
amor me terás.
---
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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