NA FRALDA DE DOIS ÍNGREMES ROCHEDOS
Na fralda de dois íngremes
rochedos,
Que levantam aos Céus
fronte orgulhosa,
Existe de Maxim a
Villa idosa,
Povoada de
escassos arvoredos.
Pelo meio,
alisando alvos penedos,
Desce extensa
Ribeira preguiçosa;
Porém tão crespa
na estação chuvosa,
Que aos Íncolas
infunde espanto, e medos.
Às margens dela ,
em hora atenuada,
Vi a primeira luz
do Sol sereno,
Em pobre sim, mas
paternal murada.
Aos trabalhos me afiz
desde pequeno,
O abrigo deixei da
Pátria amada,
E vim ser infeliz
noutro terreno.
DO VASTO OCEANO FLOR, GENTIL MADEIRA
Do vasto Oceano
flor, gentil Madeira,
Que de murta
viçosa o cimo enlaças,
Sóbria a teu seio
amamentando as Graças
Co'o vítreo suco
da imortal Parreira.
Daquele, que em ti
viu a luz primeira,
Se acaso é crivei
que inda apreço faças,
Entre o prazer das
brincadoras taças,
Recolhe a minha
produção rasteira.
É donativo
escasso, eu bem conheço;
Mas o desejo, que
acompanha a oferenda,
Lhe avulta a
estima, lhe engrandece o preço.
Deixa que a roda o
meu Destino prenda;
Em cessando estes
males, que padeço,
Talvez então mais
altos dons te renda.
PRELADO EXCELSO, O NÓBREGA DOENTE
Prelado Excelso, o
Nóbrega doente,
Cá das margens do
Tejo, onde o remistes,
Vai , sobre as
azas de seus versos tristes,
A beijar-vos
humilde a mão clemente.
Inda se lembra da
tenaz corrente,
Que de seu roto pé
Sábio despistes,
Quando em cárcere
abjeto em luto o vistes
Dos Paes, do Benfeitor,
da Pátria ausente.
Só vós o fado meu
vencer pudestes,
Só vós os agros
dias me adoçastes,
Do vosso
antecessor mimos agrestes.
Conheça o Mundo o
quão diverso andastes:
Aquele me
espancou, vós me acolhestes;
Aquele me prendeu,
vós me soltastes.
CÍCERO FUNCHALENSE, EU TE SAÚDO
Cícero
Funchalense, eu te saúdo,
E grato cá de
longe a voz alçando,
Te agradeço as lições
que bebi, quando
Comecei a gostar o
doce estudo.
Elas escoram o
alentado escudo,
Com que espanto
este mal, que estou passando,
No meio dos
trabalhos recordando
Ditames, que te
ouvi absorto e mudo.
Tu dispuseste o
loiro que me enrama,
Que nem o raio
cresta, nem consome,
Apesar da
desgraça, que me acama.
Com a minha gloria
a tua gloria assome,
Participa também
da minha Fama,
Ouvido seja, a par
do meu, teu Nome.
SEM PAR ELMANO, A QUEM DO PINDO A CHAVE
Sem-par Elmano, a
quem do Pindo a chave
Franqueara o
Pastor do loiro Amfriso,
Quando mal te
apontava ao rosto liso
A sombra, que
afugenta o brinco ignave;
Mana dos lábios
teus néctar suave,
Se copias de Armia
o doce riso;
Falar por tua boca
um Deus diviso,
Se tratas da Moral
sisuda e grave.
Sobre as azas reais,
cria inda implume
Águia possante
pouco a pouco exalta,
‘Té que a faça
encarar de Febo o lume:
Assim teu metro,
que meu Estro esmalta,
Me convida a subir
da Glória ao cume,
E o ensino me dá,
que inda me falta.
Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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