AS DUAS FLORES
São duas
flores unidas
São duas
rosas nascidas
Talvez do
mesmo arrebol,
Vivendo,no
mesmo galho,
Da mesma
gota de orvalho,
Do mesmo
raio de sol.
Unidas,
bem como as penas
das duas
asas pequenas
De um
passarinho do céu...
Como um
casal de rolinhas,
Como a
tribo de andorinhas
Da tarde
no frouxo véu.
Unidas,
bem como os prantos,
Que em
parelha descem tantos
Das
profundezas do olhar...
Como o
suspiro e o desgosto,
Como as
covinhas do rosto,
Como as
estrelas do mar.
Unidas...
Ai quem pudera
Numa
eterna primavera
Viver,
qual vive esta flor.
Juntar as
rosas da vida
Na rama
verde e florida,
Na verde
rama do amor!
AMAR E SER AMADO
Amar e ser
amado! Com que anelo
Com quanto
ardor este adorado sonho
Acalentei
em meu delírio ardente
Por essas
doces noites de desvelo!
Ser amado
por ti, o teu alento
A
bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus
olhos mirar meu pensamento,
Sentir em
mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão
puro e celeste sentimento
Ver nossas
vidas quais dois mansos rios,
Juntos,
juntos perderem-se no oceano,
Beijar
teus lábios em delírio insano
Nossas
almas unidas, nosso alento,
Confundido
também, amante, amado
Como um
anjo feliz... que pensamento!?
O LAÇO DE FITA
Não sabes,
criança? 'Stou louco de amores...
Prendi
meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde?
No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias,
prendi-me
Num laço
de fita.
Na selva
sombria de tuas madeixas,
Nos negros
cabelos da moça bonita,
Fingindo a
serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso
enroscava-se
O laço de
fita.
Meu ser,
que voava nas luzes da festa,
Qual
pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de
repente cativo, submisso
Rolar
prisioneiro
Num laço
de fita.
E agora
enleada na tênue cadeia
Debalde
minh'alma se embate, se irrita...
O braço,
que rompe cadeias de ferro,
Não quebra
teus elos,
Ó laço de
fita!
Meu Deus!
As falenas têm asas de opala,
Os astros
se libram na plaga infinita.
Os anjos
repousam nas penas brilhantes...
Mas tu...
tens por asas
Um laço de
fita.
Há pouco
voavas na célere valsa,
Na valsa
que anseia, que estua e palpita.
Por que é
que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te
apenas...
Teu laço de
fita.
Mas ai!
findo o baile, despindo os adornos
N'alcova
onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da
cadeia libertes as tranças
Mas eu...
fico preso
No laço de
fita.
Pois bem!
Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me
a cova... formosa Pepital
Ao menos arranca
meus louros da fronte,
E dá-me
por c'roa...
Teu laço
de fita.
O "ADEUS" DE TERESA
A vez
primeira que eu fitei Teresa,
Como as
plantas que arrasta a correnteza,
A valsa
nos levou nos giros seus
E amamos
juntos E depois na sala
"Adeus"
eu disse-lhe a tremer co'a fala
E ela,
corando, murmurou-me: "adeus."
Uma noite
entreabriu-se um reposteiro...
E da
alcova saía um cavaleiro
Inda
beijando uma mulher sem véus
Era eu Era
a pálida Teresa!
"Adeus"
lhe disse conservando-a presa
E ela
entre beijos murmurou-me: "adeus!"
Passaram
tempos séc'los de delírio
Prazeres
divinais gozos do Empíreo
... Mas um
dia volvi aos lares meus.
Partindo
eu disse - "Voltarei! descansa!... "
Ela,
chorando mais que uma criança,
Ela em
soluços murmurou-me: "adeus!"
Quando voltei
era o palácio em festa!
E a voz
d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam
de amor o azul dos céus.
Entrei!
Ela me olhou branca surpresa!
Foi a
última vez que eu vi Teresa!
E ela
arquejando murmurou-me: "adeus!"
A CANÇÃO DO AFRICANO
Lá na
úmida senzala,
Sentado na
estreita sala,
Junto ao
braseiro, no chão,
Entoa o
escravo o seu canto,
E ao
cantar correm-lhe em pranto
Saudades
do seu torrão...
De um
lado, uma negra escrava
Os olhos
no filho crava,
Que tem no
colo a embalar...
E à meia
voz lá responde
Ao canto,
e o filhinho esconde,
Talvez pra
não o escutar!
"Minha
terra é lá bem longe,
Das bandas
de onde o sol vem;
Esta terra
é mais bonita,
Mas à
outra eu quero bem!
"O
sol faz lá tudo em fogo,
Faz em
brasa toda a areia;
Ninguém
sabe como é belo
Ver de
tarde a papa-ceia!
"Aquelas
terras tão grandes,
Tão
compridas como o mar,
Com suas
poucas palmeiras
Dão
vontade de pensar...
"Lá
todos vivem felizes,
Todos
dançam no terreiro;
A gente lá
não se vende
Como aqui,
só por dinheiro".
O escravo
calou a fala,
Porque na
úmida sala
O fogo
estava a apagar;
E a
escrava acabou seu canto,
Pra não
acordar com o pranto
O seu
filhinho a sonhar!
***
O escravo
então foi deitar-se,
Pois tinha
de levantar-se
Bem antes
do sol nascer,
E se
tardasse, coitado,
Teria de
ser surrado,
Pois
bastava escravo ser.
E a cativa
desgraçada
Deita seu
filho, calada,
E põe-se
triste a beijá-lo,
Talvez
temendo que o dono
Não
viesse, em meio do sono,
De seus
braços arrancá-lo!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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