CANÇÃO DO MAR ABERTO
Onde puseram teus
olhos
A mágoa do teu
olhar?
Na curva larga dos
montes
Ou na planura do mar?
De dia vivi este
anseio;
De noite vem o
luar,
Deixa uma estrada
de prata
Aberta para eu
passar.
Caminho por sobre
as ondas
Não paro de
caminhar.
O longe é sempre
mais longe…
Ai de mim se me
cansar!...
Morre o meu sonho
comigo,
Sem te poder
encontrar.
A VOZ DO SILÊNCIO
Silenciosa,
A noite calma,
Ó quantas coisas
Me diz à alma!
Cessai, ó fontes
A ladainha;
Deixai a noite
Falar sozinha.
Quanto mistério,
Quanto segredo,
No ar perpassa
Como que a medo...
Ó voz da noite,
Que comoção!
Como o teu, bate
Meu coração.
E a treva funda,
A treva densa
Tem um martírio
De mágoa imensa.
Treva da vida,
Quem não sofreu?
Ó céu azul
Que escureceu...
Por isso ecoa
Dentro da
minh'alma
A voz silente
Da noite calma.
VOZES DA NOITE
Vozes na Noite!
Quem fala
Com tanto ardor,
tanto afã?
Falou o Grilo
primeiro,
Logo depois foi a
Rã.
Pobre loucura dos
homens
Quando julgam
entendê-las…
Só eles pasmam os
olhos
Neste encanto das
estrelas…
Lá no silêncio dos
campos
Ou no mais ermo da
serra,
Na voz das rãs
dala a água,
Na voz dos grilos
a Terra.
Só eles cantam a
vida
Com amor e
singeleza,
Por ser
descuidada, alegre;
Por ser simples,
com beleza.
Pudesse agora
dizer-te,
Sem ser por
palavras vãs,
O que diz a voz
dos grilos,
O que diz a voz
das rãs.
ANOITECER
Ficou o céu
descorado…
E a Noite, que se
avizinha,
Vem descendo ao
povoado,
Como trôpega
velhinha.
Para a guiar com
cuidado
Veio-lhe ao
encontro a Tardinha,
Não fosse a Noite
sozinha
Perder-se em
caminho errado.
Vão as duas
caminhando…
E como o Sol já
não arde,
Para o caminho ir
mostrando
A primeira estrela
brilha…
Então diz a Noite
à Tarde:
– Vai-te deitar
minha filha.
ERGO MEUS OLHOS
Ergo meus olhos
vagos, na distância
Da sombra do meu
Ser...
Pairam de mim
além, e a minha Ânsia
Cansa de me viver.
Meus olhos
espectrais de comoção,
Olhos da alma,
olhando-se a si,
Nimbam de luz a
longa escuridão
Da vida que vivi.
Auréola de Dor,
que finaliza
Na noite do abismo
do meu nada;
Silêncio, prece,
comunhão sagrada,
Sombra de luz que
em Ti me diviniza,
Tortura do meu
fim,
Alma ungida
E perdida
Na grandeza de Si.
E já sem ver-me,
Maceração
crepuscular de Mim,
Agonizo de Ser-me.
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