A ÁGUA
Eu fui a sombra a
converter-se em luz,
E fui a névoa a
transformar-se em cor,
E fui o pranto a
consagrar a dor,
Quando brilhei nos
olhos de Jesus.
E fui a nuvem a
buscar a altura,
E recebi do Sol a
cor da chama.
Caí na terra e
converti-me em lama
Para a tornar
melhor e menos dura!
Fui pranto de
perdão e de humildade...
E foi nuns olhos
cheios de saudade
Que mais linda me
fiz e desejei!...
E fui rio... e fui
mar... e onda... e espuma...
E, em sonho de
Poetas, fui à bruma...
O vago... o indeciso...
o que não sei....
DIFERENTE
Buscando o vão
Ideal que me seduz,
Sem que o atinja
me disperso e gasto,
E ansiosamente aos
braços duma cruz
Ergo o perfil de
iluminado e casto.
Já tristemente
desdenhoso afasto
O manto de burel
dos ombros nus;
E a noite pisa a
forma do meu rasto,
Se deixo atrás de
mim passos de luz.
Na minha tez suave
e nazarena,
Transparecem
vislumbres dessa pena
Que Deus pelos
estranhos há sentido...
E frio e calmo, a
divergir da Raça,
Mal poiso os
lábios no cristal da taça
Por onde as outras
almas têm bebido!
A MINHA MÃE
Lembra alvuras de
cisne sobre um lago
A minha vida
imaculada e honesta...
Ouço bater meu
coração em festa,
Pela bondade e
amor que nele trago!
Do meu orgulho
olímpico de mago
Só o desdém aos
inimigos resta,
Maior que às
folhas mortas da floresta,
Que nos meus dedos
pálidos esmago.
Mas a piedade
enche o meu peito, e vem,
Em vez de tão
humano e vil desdém,
Ungir meus lábios
de um perdão divino...
Julguei ser Deus!
E choro de cansaço...
Oh, mãe piedosa,
embala no regaço
Meu coração
exausto de menino!...
A JESUS CRUCIFICADO
Volta de novo à
Terra,
Alvo e manso
Cordeiro,
Vem resgatar os
homens
De pecados sem
fim.
O preço do resgate
Só o teu corpo e o
teu sangue
O poderão pagar.
Nesta hora de fé,
Eu te prometo e
juro
Que hás de tornar
a ser
Por nós
crucificado.
Ao cimo do
Calvário,
Maria nossa Mãe,
A açucena da Terra
E o arco-íris do
Céu,
Há de estar a teu
lado.
E o azul do seu manto,
Ao pé de ti, será
O luar refletido
Sobre o esplendor
do Sol.
EXISTO?
Cingindo esta
mortalha de estamenha
Fiz voto e
penitência de morrer,
Sem que os meus
braços numa cruz sustenha,
Quando não baste a
Fé para os suster!
Sigo, pálido
asceta da montanha,
Na bíblia da Minha
Alma absorto a ler
Meditações, sobre
a tragédia estranha
Dos que passam na
vida sem viver…
No meu convento
desolado e frio,
Ecoa pelo claustro
um som vazio:
Apalpo-me…procuro-me…tateio…
Alongo os olhos
pela sombra fora…
- São os passos de
Alguém que Se ignora,
É sempre o mesmo
nada, o mesmo anseio!
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