O BALOIÇO
Na minha quinta,
em pequeno,
Tive um inquieto
baloiço
Que ainda o vejo
sereno
E nele os meus
gritos oiço.
Longas horas
baloiçava
Meu frágil corpo
menino.
E ora subia ou
baixava
Num constante
desatino.
Neste baloiço, à
distância,
Chama por mim
minha infância
E eu chamo p'lo
que passou.
E sem haver quem
me oiça
O baloiço me
baloiça
Entre o que fui e
o que sou.
BALADA DAS HORA VELHAS
Olho. Passa na
alameda
Tua Alma de mãos
erguidas
De tarde a rezar
por mim.
E entre camélias
vencidas
Tuas rezas são de
seda,
Teus pedidos de
marfim.
E no teu passar
acordam
Os lírios
estremunhados
P'ra beijar os
dedos teus...
E ao ver os
lírios, recordam
Rolhas de frascos
cansados
De guardar
perfume-Deus.
Deus te abençoe
nos lírios
E te conduza entre
círios
Ao jardim do meu
Sonhar.
Que os lírios num
gesto exangue
Sei que são gotas
de sangue
Que perdeu
Jesus-Luar.
E eu sinto que
rezam cor
Os lábios da minha
Dor...
Cor, religião dos
olhos.
Desmaia a tarde,
envelhece.
É quando a cor
endoidece
E quer fugir p'ra
os teus olhos
É quando sonho de
ver-te.
E quando meu
coração
Te lembra a forma
morena
Dum boneco que em
pequena
Deixaste cair no
chão
E se quebrou de
perder-te.
É quando os montes
são quietos,
Quando não há quem
se afoite
Com medo de
encontrar Deus.
É quando os lábios
são pretos,
Deus só se sente
na Noite
E é Noite só para
Deus.
OUTRORA
Outrora alguém
olhou com os meus olhos
E alguém sentiu
também com meus sentidos.
Alguém foi Eu em
sonhos derruídos,
Alguém viveu de
mim ante os teus olhos.
Por isso se me
vejo, me conheço
De me ter visto
outrora no meu Eu.
O meu passado é
tudo que adormeço
Tudo o que envolvo
em mim e me esqueceu.
E as minhas mãos
que no teu sonho exaltas,
Outrora para Deus
as elevei...
Não tocavam em
Deus, eram mais altas.
Minha presença é
alma que se ausenta
E o meu passado
que ante mim deixei.
Uma cadeira onde
ninguém se senta.
ANTE DEUS
Quando te vi eu
fui o teu voar
E desci Deus pra
me encontrar em mim.
Voei-me sobre
pontes de marfim
E uma das pontes,
Deus, em meu olhar!
Aureolei-me de
oiro em sombra fria
E meus voos caíram
destruídos.
Foram dedos de
Deus os meus sentidos.
Meu Corpo andou ao
colo de Maria.
Agora durmo Cristo
em véus pagãos.
São tapetes de
Deus as minhas mãos.
Regresso Ânsia pra
alcançar os céus.
Ergo-me mais. Sou
o perfil da Dor.
Sobre os ombros de
Deus olho em redor
E Deus não sabe
qual de nós é Deus!
ANTE A PAISAGEM
Eu fujo da
Paisagem. Tenho medo.
Os pinheirais são
em marfim bordados.
Sou paisagem-cetim
num olhar quedo,
Oiro louco
sonhando cortinados.
Fujo de mim porque
já sou Paisagem.
Procura-me Satã no
meu chorar...
Seus passos, o
ruído da folhagem.
Cimos de lírios
velhos de luar.
As tuas mãos
fechadas e desertas,
Janelas pra o
jardim, jamais abertas,
Fiam de mármore um
correr de rios...
E os teus olhos
cansados de saudades.
Eunucos possuindo
divindades...
Hora-luar a de
teus olhos frios...
Nenhum comentário:
Postar um comentário