sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Alberto Osório de Castro: "5 Poemas"

CRISANTEMAS

Tão longe do Fúsi-no-Yama,
No nosso outono, as exiladas
Crisantemas da terra em chama,
Florescem em tardes geladas.

Do seu canto natal de flama
Ainda mal desacostumadas,
Florescem em tardes geladas,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!

E uma noite negra de lama,
As que viam noites doiradas,
Caem nas charcas, desfolhadas...
Longe de tudo o que se chama,
Tão longe do Fúsi-no-Yama!



ORAÇÃO DO FIM

Sol poente – coração de gládios trespassado...
Ó luz do entardecer, ó Senhora das Dores!
Esconde-nos, ó mãe! O coração magoado
N´um manto virginal de mortos esplendores.

Salve-Rainha, mãe d´infinita doçura!
Do azul onde agoniza a nossa alma sem norte
Lança o místico olhar de luz e d´amargura
Sobre a eterna Injustiça, e a podridão da morte.

A ti brindamos, nós, degradados do mundo
Envolve-nos, Senhora! em teu manto sereno...
A terra é triste, e o céu tão distante e profundo
É ruivo e flavo como o doce Nazareno.

Toda em sangue ressurge a tragédia divina!...
Ó Jesus, ó Jesus! Erram já pelos céus
Sobre a tua nudez purpurada e franzina
Trevas e sombra – a dor e a maldição de Deus.

A noite vem descendo, e os seus vagos terrores...
Esconde-nos, ó luz! n´um manto d´oiro e rosa,
Ó luz de entardecer, ó Senhora das Dores,
Ó clemente, ó piedosa, ó dolorosa!
  


REISEBILDER

E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor,
A do teu céu, a do teu mar profundo!
É d’oiro a manhã de Dili.
Trilla tão lindo o corlílli.
Na frescura das ribeiras.
Murmura perpetuamente
A verde sombra virente
Das gaboeiras
À contemplação da paisagem em Fahi-ten

Saudades são a lembrança
Dalgum bem que nos deixou
P’ra sempre, e sem esperança
De volta, o bem que passou.
E passa mesmo a lembrança
De todo o bem que findou
Depois de uma viagem de regresso Lahane
Alto vale de Lahane, ermo e divino,
No murmúrio das águas! Quantos dias
Por tuas sombras divaguei, absorto
Na beleza da vida morredoira,
Face do mundo misteriosa e vária...
Notas explicativas de alguns termos.



FULAN NAROMAN

A infinda noite opalescente
Sobe, arrebatadoramente,
A fugir de todo o olhar,
Céu tão claro, tão surpreendente,
Que sente a alma, longinquamente,
Como um voo do céu aflar.
A asa translúcida e nevada
Roça de leve a cumeada,
Adeja, e perde-se a alvejar
Na azulada noite doirada...
Presença alada enamorada
Da imensidade do luar.



À CASUARINAS DO CEMITÉRIO DE DILI

Sonho escuro dos mortos embalai,
Prece das casuarinas!
Vozes vagas dos mortos, ciciai
Nas folhagens franzinas!
Já no céu, resplandece esmorecendo
A púrpura do dia.
Passa a aragem do pântano gemendo
Na romagem sombria.
Que murmuram as bocas das raízes
Aos mortos a sonhar?
Que lhes dizes, ramagem? Que lhes dizes,

A reza e a embalar?

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