CRISANTEMAS
Tão longe do
Fúsi-no-Yama,
No nosso outono,
as exiladas
Crisantemas da
terra em chama,
Florescem em
tardes geladas.
Do seu canto natal
de flama
Ainda mal
desacostumadas,
Florescem em
tardes geladas,
Tão longe do
Fúsi-no-Yama!
E uma noite negra
de lama,
As que viam noites
doiradas,
Caem nas charcas,
desfolhadas...
Longe de tudo o
que se chama,
Tão longe do
Fúsi-no-Yama!
ORAÇÃO DO FIM
Sol poente –
coração de gládios trespassado...
Ó luz do entardecer,
ó Senhora das Dores!
Esconde-nos, ó
mãe! O coração magoado
N´um manto
virginal de mortos esplendores.
Salve-Rainha, mãe
d´infinita doçura!
Do azul onde
agoniza a nossa alma sem norte
Lança o místico
olhar de luz e d´amargura
Sobre a eterna
Injustiça, e a podridão da morte.
A ti brindamos, nós,
degradados do mundo
Envolve-nos,
Senhora! em teu manto sereno...
A terra é triste,
e o céu tão distante e profundo
É ruivo e flavo
como o doce Nazareno.
Toda em sangue
ressurge a tragédia divina!...
Ó Jesus, ó Jesus!
Erram já pelos céus
Sobre a tua nudez
purpurada e franzina
Trevas e sombra –
a dor e a maldição de Deus.
A noite vem
descendo, e os seus vagos terrores...
Esconde-nos, ó
luz! n´um manto d´oiro e rosa,
Ó luz de
entardecer, ó Senhora das Dores,
Ó clemente, ó
piedosa, ó dolorosa!
REISEBILDER
E eis-te no fim do
mundo,
Costa verde e
vermelha de Timor!
Mas que divina,
extraordinária cor,
A do teu céu, a do
teu mar profundo!
É d’oiro a manhã
de Dili.
Trilla tão lindo o
corlílli.
Na frescura das
ribeiras.
Murmura
perpetuamente
A verde sombra
virente
Das gaboeiras
À contemplação da
paisagem em Fahi-ten
Saudades são a
lembrança
Dalgum bem que nos
deixou
P’ra sempre, e sem
esperança
De volta, o bem
que passou.
E passa mesmo a
lembrança
De todo o bem que
findou
Depois de uma
viagem de regresso Lahane
Alto vale de
Lahane, ermo e divino,
No murmúrio das
águas! Quantos dias
Por tuas sombras
divaguei, absorto
Na beleza da vida
morredoira,
Face do mundo
misteriosa e vária...
Notas explicativas
de alguns termos.
FULAN NAROMAN
A infinda noite
opalescente
Sobe,
arrebatadoramente,
A fugir de todo o
olhar,
Céu tão claro, tão
surpreendente,
Que sente a alma,
longinquamente,
Como um voo do céu
aflar.
A asa translúcida
e nevada
Roça de leve a
cumeada,
Adeja, e perde-se
a alvejar
Na azulada noite
doirada...
Presença alada
enamorada
Da imensidade do
luar.
À CASUARINAS DO CEMITÉRIO DE DILI
Sonho escuro dos
mortos embalai,
Prece das
casuarinas!
Vozes vagas dos
mortos, ciciai
Nas folhagens
franzinas!
Já no céu,
resplandece esmorecendo
A púrpura do dia.
Passa a aragem do
pântano gemendo
Na romagem
sombria.
Que murmuram as
bocas das raízes
Aos mortos a
sonhar?
Que lhes dizes,
ramagem? Que lhes dizes,
A reza e a
embalar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário