DANÇA DO VENTO
O vento é bom
bailador,
Baila, baila e
assobia.
Baila, baila e
rodopia
E tudo baila em
redor.
E diz às flores,
bailando:
- Bailai comigo,
bailai!
E elas, curvadas,
arfando,
Começam, débeis,
bailando.
E suas folhas,
tombando,
Uma se esfolha,
outra cai.
E o vento as
deixa, abalando,
- E lá vai!...
O vento é bom
bailador,
Baila, baila e
assobia,
Baila, baila e
rodopia,
E tudo baila em
redor.
E diz às altas
ramadas:
Bailai comigo,
bailai!
E elas sentem-se
agarradas
Bailam no ar
desgrenhadas,
Bailam com ele
assustadas,
Já cansadas,
suspirando;
E o vento as
deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom
bailador,
Baila, baila e
assobia
Baila, baila e
rodopia,
E tudo baila em
redor!
E diz às folhas
caídas:
Bailai comigo,
bailai!
No quieto chão
remexidas,
As folhas, por ele
erguidas,
Pobres velhas
ressequidas
E pendidas como um
ai,
Bailam, doidas e
chorando,
E o vento as deixa
abalando
- E lá vai!
O vento é bom
bailador,
Baila, baila e
assobia,
Baila, baila e
rodopia,
E tudo baila em
redor!
E diz às ondas que
rolam:
- Bailai comigo,
bailai!
e as ondas no ar
se empolam,
Em seus braços nus
o enrolam,
E batalham,
E seus cabelos se
espalham
Nas mãos do vento,
flutuando
E o vento as
deixa, abalando,
E lá vai!...
O vento é bom
bailador,
Baila, baila e
assobia,
Baila, baila e
rodopia,
E tudo baila em
redor!
O SAPO
Não há jardineiro
assim,
Não há hortelão
melhor
Para uma horta ou
jardim,
Para os tratar com
amor.
É o guarda das
flores belas,
da horta mais do
pomar;
e enquanto brilham
estrelas,
lá anda ele a
rondar...
Que faz ele? Anda
a caçar
os bichos destruidores
que adoecem o
pomar
e fazem tristes as
flores.
Por isso, ficam
zangadas
as flores, se se
faz mal
a quem as traz tão
guardadas
com o seu cuidado
leal.
E ele guarda as
flores belas,
a horta mais o
pomar;
brilham no céu as
estrelas,
e ele ronda, a
trabalhar...
E ao pobre sapo,
que é cheio
de amor pela terra
amiga,
dizem-lhe que é
feio
e há quem o mate e
persiga
Mas as flores
ficam zangadas,
choram, e dizem
por fim:
- «Então ele
traz-nos guardadas,
e depois pagam-lhe
assim?»
E vendo, à noite,
passar
o sapo cheio de
medo,
as flores, para o
consolar,
chamam-lhe lindo,
em segredo...
O SEGREDO DO MAR
A “Flor do Mar”
avançando
Navegava,
navegava,
Lá para onde se
via
O vulto que ela
buscava.
Era tão grande,
tão grande
Que a vista toda
tapava.
E Bartolomeu
erguido
Aos marinheiros
bradava
Que ninguém
tivesse medo
Do gigante que ali
estava.
E mais perto agora
estão
Do que procurando
vão!
Bartolomeu que
viu?
Que descobriu o
valente?
- Que o gigante
era um penedo
que tinha forma de
gente?
Que era dantes o
mar? Um quarto escuro
Onde os meninos
tinham medo de ir.
Agora o mar é
livre e é seguro
E foi um português
que o foi abrir.
LINDA INÊS
Choram ainda a tua
morte escura
Aquelas que
chorando a memoraram;
As lágrimas
choradas não secaram
Nos saudosos
campos da ternura.
Santa entre as
santas pela má ventura,
Rainha, mais que
todas que reinaram;
Amada, os teus
amores não passaram
E és sempre bela e
viva e loira e pura.
Ó Linda, sonha aí,
posta em sossego
No teu moimento de
alva pedra fina,
Como outrora na
Fonte do Mondego.
Dorme, sombra de
graça e de saudade,
Colo de Garça,
amor, moça menina,
Bem-amada por toda
a eternidade!
LEVE, LEVE, O LUAR
Leve, leve, o luar
de neve
goteja em perlas
leitosas,
o luar de neve e
tão leve
que ameiga o seio
das rosas.
E as gotas finas
da etérea
chuva, caindo do
ar,
matam a sede
sidéria
das coisas que
embebe o luar.
A luz, oh sol, com
que alagas,
abre feridas, e a
lua
vem pôr no lume
das chagas
o beijo da pele
nua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário