VENENO
Pequeno
Poema,
Não penses
Que tens
Direito
A ver-me
Contente.
Eis que
Bem seja
A vez.
Não é
Tão certo
Que Eros
Submete
Meu tempo
À métrica
Dos teus
Desejos.
Trouxeste o
Veneno.
E beber
Irei.
É lei.
AGORA
Sonha com o harém
Que virá além.
Quer o paraíso
Acima dos riscos.
Todos, ímpios,
podem
Ser seus inimigos,
Só não esse norte.
Acordou disposto
Às quatro e
dezoito.
Às cinco, pra Meca
Volta-se e assim
reza.
Não tem tanta
pressa.
Não tem mais o
medo
De dar-se a si
mesmo.
O metrô lotado,
Gente a todo lado.
Segue, passo a
passo,
O que lhe foi
dito,
Sem um embaraço.
Pressente até
perto
Ao céu seu ingresso.
Distraído esbarra
Numa mulher árabe.
Diz: ‘Alah bem
sabe!’
Escuta-se a rádio
Local. Tudo calmo.
Dá-se à própria
sorte
E, súbito,
explode.
ELOGIO À IRONIA
Cansado de não ter
respostas, cansado
De inúmeras
perguntas, muito cansado
De ver em cada
verso o termo cansado.
Ora, um soneto
assim para quem importa?
Cansado do já
gasto decassílabo,
(Observa, o verso
prévio vinga quebrado!)
Fiz um com onze
sílabas, para dá-lo
À exigência. Que
bardo bem se comporta?
Deixemos essa arte
torta de lado.
Louvemos os
sinápticos erros práticos
Da escrita
preguiçosa que nos conforta.
Espera! Estou
cansado de só ter (algo
Há que não pode
ser sequer explicado!)
Cansaço: onde há
pra fugas a porta?
PEQUENO CANTO
O quarto, quase
Cúbico cárcere,
Quieto, Abraça-me.
São as lembranças,
As horas máximas
Em que as imagens
Do existir
fazem-se
Plenas no olhar.
Um verso calha
Feito uma lágrima.
Felicidade,
Eu bem sei, quando
Ele vem hábil,
Com sua tática,
Para lançar-me
Além das grades
Do que o pensar
Deseja tanto,
Limites para a
Contemplação,
E pouco sabe.
Eis o meu canto,
Onde me alcanço
Intacto, bardo,
Donde pra o
báratro
Do meu ser parto,
Onde baladas
Componho e quadras
Em ‹a› marcadas
Oferto, claro,
Pra ver o espaço
Preciso e amplo.
Simples recanto,
Fresta lacrada
Que às vezes dá
Pra a vida lá
Fora: que mágica
Engendrar para
Ter tudo,
Atlântidas,
Ítacas, Martes,
Macondos, áureas
Pontes,
Pasárgadas,
Com emoção,
Com as palavras?
ENTENDIMENTO
Para Horácio
diante do que
ainda está
por vir, do raro
entendimento,
sobre o que devo
fazer
neste momento, sem
pressa,
medos, angústias,
sem erro
de cálculo, dar um
passo
adiante do porvir,
desse instrumento
sintático
a invadir-me a
todo instante,
sobre o que além
construir
com o que abrigo
em mim, dentro,
com o arcabouço
cinzento,
se um poema ou o
que bem penso,
admito: quero o
infinito
perto, as musas,
todo canto: um
poema é mais
importante.
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