GUILHERME DE ALMEIDA
Vejo a ciranda das
horas,
moças lindas a
cantar...
doze vestidas de
branco,
umas de flores na
testa,
outras de flores
na mão...
E, no balanço da
dança,
quando uma vem,
outras vão...
Horas do dia e da
noite...
Ó vocês! ...
Lindas que são! ...
Qual será mesmo a
minha Hora,
minha hora de
Redenção?!...
Será das doze de
branco,
ou das que de
negro estão?!...
Qual virá, vindo o
meu dia,
pousar a mão no
meu peito,
parando o meu
coração?!...
MISTÉRIO
"Conheço um coração, tapera escura."
Bilac. (Tarde)
A Clementino Fraga
Que voz foi essa
em meu ouvido?
Alguém falou no
meu ouvido...
Que doce e
estranha vibração
toma-me, agora, o
coração?...
- Ninguém falou no
teu ouvido...
Esses rumores
todos são,
mistério sem
explicação,
coisas de velho
coração...
Mas esse aroma
revivido
ao meu olfato? A
exalação
que estou
sentindo, de um vestido,
que era o jasmim
do seu vestido,
que me não mente o
coração?
- Oh, nada
sentes!... Nada... Não...
Esses perfumes
todos são,
do teu espírito
abatido,
mera, fugaz
perturbação.
Coisas de velho
coração...
Ah que bem disse
um Poeta, um dia,
que o triste,
humano coração,
quando com o tempo
envelhecia,
era também casa
vazia,
de assombração...
A CIDADE DE RECIFE
Pátria do meu
amor! Recife linda,
como te guarda o
meu saudoso olhar!
Velas ao longe...
Os coqueirais de Olinda,
e uma terra a
nascer da água do mar...
Um céu de estrelas
que entrevejo ainda.
Sob as pontes, o
rio a se estirar...
Noites de lua...
que saudade infinda...
brancas... que dão
vontade de chorar...
Filho ingrato,
parti... Mas nem um dia,
deixei de te
lembrar, por mundo alheio,
onde me trouxe a
glória fugidia.
Pátria, quando eu
morrer, piedosa e boa,
dá que eu durma o
meu sono no teu seio,
como um seio de
Mãe que ama e perdoa...
JÚLIO DANTAS
Todo amor dura,
apenas, um segundo,
ou quando dura
muito, - uma estação.
É como a Primavera
o amor no mundo,
querê-lo,
eternamente, uma ilusão.
Chega... Perfuma
tudo... O charco imundo
faz em jardim, e
passa... É um sonho vão.
- Mas o
amor-sofrimento?!... O amor-profundo,
lá da raiz do
nosso coração?!...
Amor que sendo
angústias sufocadas,
ama cada vez mais,
sereno e forte,
e acha encanto nas
lágrimas choradas?!...
- Esse, há de
eterno, pelo seu sofrer,
arder por toda a
vida, até a Morte,
para no além da
Morte, reviver...
SERENIDADE
Nunca de mim se
ouviu um só protesto
de maldição, de
cólera aturdida,
sequer uma
palavra, ou mesmo um gesto
de malquerer a
quem mais quis na vida.
Arrasto como a um
fardo, a alma ferida,
e a dor que me
crucia, manifesto,
sem jamais
inculpar de fementida,
aquela que em meu
sonho amo, e requesto.
Em perdendo-a,
perdi toda a alegria
do coração que em
mágoas apunhalo.
Perdi a luz!...
Fechou-se o sol que eu via!...
Tudo abateu com a
queda desse amor,
tão forte, que
ainda sinto o seu abalo,
tão grande, que
ainda escuto o seu fragor.
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