AO CAIR DA NOITE
Não sei
que paz imensa
Envolve a
Natureza,
N’ess’hora
de tristeza,
De dor e
de pesar.
Minh’alma,
rindo, pensa
Que a
sombra é um grande véu
Que a
Virgem traz do Céu
Num raio
de luar.
Eu junto
as mãos, serena,
A murmurar
contrita,
A saudação
bendita
Do Anjo do
Senhor;
Enquanto a
lua plena
No azul,
formosa e casta,
Um longo
manto arrasta
De lúrido
esplendor.
Minhas saudades
todas
Se vão
mudando em astros...
A mágoa
vai de rastros
Morrer na
escuridão...
As
amarguras doidas
Fogem como
um lamento
Longe do
Pensamento,
Longe do
Coração.
E a noite
desce, desce
Como um
sorriso doce,
Que em
sonhos desfolhou-se
Na voz
cheia de amor,
Da mãe que
ensina a Prece
Ao filho
pequenino,
De olhar
meigo e divino
E lábio
aberto em flor.
Ah! como a
Noite encanta!
Parece um
Santuário,
Com o
lindo lampadário
De
estrelas que ela tem!
Recorda-me
a luz santa,
Imaculada
e pura,
Da grande
noite escura
Do olhar
de minha mãe!
Ó noite
embalsamada
De castas
ambrósias...
No mar das
harmonias
Meu ser
deixa boiar.
Afasta, ó
noite amada,
A dúvida e
o receio,
Embala-me
no seio
E deixa-me
sonhar!
AO MEU BOM ANJO
Dizem que
a vida não é mais que um sonho,
Meu Deus,
quero sonhar!
Empresta-me,
anjo bom, as tuas asas,
Guarda no
seio a minha fronte em brasas,
Ensina-me
a rezar!
Vamos,
vamos, além... foge comigo!
Procuremos
bem longe um doce abrigo,
Na pátria
dos arcanjos...
A vida é
sonho e como um sonho passa...
Pois bem!
vamos viver no Céu da graça,
Meu Deus,
como dois anjos!
Quero
fugir do mundo tenebroso,
Labirinto
de dores...
Mensageiro
divino, vem comigo,
Quero
sonhar, viver, sorrir contigo,
No Éden há
só flores!
Minh’alma,
casta rola abandonada,
Desfalece
sozinha pela estrada,
Não pode
mais voar...
Empresta-lhe,
anjo bom, as tuas asas:
Sinto
estalar-me o coração em brasas,
Cansado de
chorar.
Assim
voando pelo espaço em fora
E vendo-te
a meu lado a toda hora,
Quero -
fugindo d’este mundo agreste,
Unida ao
seio teu,
Embalada
por ti, anjo celeste! -
Buscar meu
ninho pelo azul do Céu!
AO PÉ DO TÚMULO
Eis o
descanso eterno, o doce abrigo
Das almas
tristes e despedaçadas;
Eis o
repouso, enfim; e o sono amigo
Já vem
cerrar-me as pálpebras cansadas.
Amarguras
da terra! eu me desligo
Para
sempre de vós... Almas amadas
Que
soluças por mim, eu vos bendigo,
Ó almas de
minh’alma abençoadas.
Quando eu
d’aqui me for, anjos da guarda,
Quando
vier a morte que não tarda
Roubar-me
a vida para nunca mais...
Em pranto
escrevam sobre a minha lousa:
"Longe
da mágoa, enfim, no céu repousa
Quem
sofreu muito e quem amou demais".
ALGUÉM NA ESTRADA
Alguém te
espera o amor, estrada afora,
Seja o dia
translúcido ou cinzento,
Para
extinguir a sobra e o sofrimento,
Nas
empedradas trilhas de quem chora!...
Não te
detenhas!... Vem!... O tempo é agora,
Há quem te
arrase ao temporal violento,
E corações
ao frio, à noite e ao vento
Ante a
descrença que se desarvora...
Vem à
estrada do mundo!... Ampara e ama!...
Esclarece
e consola, alça por chama,
O próprio
coração fraterno e amigo!...
Esse
alguém é Jesus que te abençoa!...
Trabalha,
serve, esquece-te, perdoa
E o Mestre
Amado seguirá contigo!...
ANO BOM
Hoje
começa o ano. Na alegria
De nívea
pomba quando nasce a aurora,
Deixa,
minh’alma, a tua fantasia
Subir,
cantando, pelo espaço a fora...
Deixa-a
sumir-se além, rompendo gazas,
Subindo em
busca de ideais queridos:
Há de
trazer nas pequeninas asas
Todo o
perfume dos meus dias idos!
Há de
trazer o sonho transparente
Da inocência
feliz (quanto eu sonhava!)
E o eco
virginal da voz dolente
Que o meu
sono de arcanjo acalentava.
E o meu
sorriso e as minhas esperanças,
Essas
ingênuas ilusões de um dia,
Toda essa
luz que as almas das crianças
Num raio
de luar acaricia...
Que tudo venha
sobre mim cantando
O salmo
doce da recordação.
Qual se
pousesse um luminoso bando
De
passarinhos no meu coração...
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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