PSICOLOGIA DE UM VENCIDO
Eu, filho
do carbono e do amoníaco,
Monstro de
escuridão e rutilância,
Sofro,
desde a epigênese da infância,
A
influência má dos signos do zodíaco.
Produndissimamente
hipocondríaco,
Este
ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à
boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se
escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme
— este operário das ruínas —
Que o
sangue podre das carnificinas
Come, e à
vida em geral declara guerra,
Anda a
espreitar meus olhos para roê-los,
E há de
deixar-me apenas os cabelos,
Na
frialdade inorgânica da terra!
SOLITÁRIO
Como um
fantasma que se refugia
Na solidão
da natureza morta,
Por trás
dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui
refugiar-me à tua porta!
Fazia frio
e o frio que fazia
Não era
esse que a carne nos contorta...
Cortava
assim como em carniçaria
O aço das
facas incisivas corta!
Mas tu não
vieste ver minha Desgraça!
E eu saí,
como quem tudo repele,
- Velho
caixão a carregar destroços -
Levando
apenas na tumba carcaça
O
pergaminho singular da pele
E o
chocalho fatídico dos ossos!
VERSOS ÍNTIMOS
Vês!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de
tua última quimera.
Somente a
Ingratidão – esta pantera –
Foi tua
companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O Homem,
que, nesta terra miserável,
Mora entre
feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma um
fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo,
amigo, é a véspera do escarro,
A mão que
afaga é a mesma que apedreja.
Se a
alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
SONETO
Ao meu primeiro filho nascido morto com 7 meses
incompletos.
2 fevereiro 1911.
2 fevereiro 1911.
Agregado
infeliz de sangue e cal,
Fruto
rubro de carne agonizante,
Filho da
grande força fecundante
De minha
brônzea trama neuronial,
Que poder
embriológico fatal
Destruiu,
com a sinergia de um gigante,
Em tua
morfogênese de infante,
A minha
morfogênese ancestral?!
Porção de
minha plásmica substância,
Em que
lugar irás passar a infância,
Tragicamente
anônimo, a feder?!...
Ah! Possas
tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente
dissolvido
Na
noumenalidade do NÃO SER!
AGONIA DE UM FILÓSOFO
Consulto o
Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda.
E, ante obras tais, me não consolo...
O
Inconsciente me assombra e eu nele tolo
Com a
eólica fúria do harmatã inquieto!
Assisto
agora à morte de um inseto!...
Ah! todos
os fenômenos do solo
Parecem
realizar de pólo a pólo
O ideal de
Anaximandro de Mileto!
No
hierático areópago heterogêneo
Das idéas,
percorro como um gênio
Desde a alma
de Haeckel à alma cenobial!...
Rasgo dos
mundos o velário espesso;
E em tudo,
igual a Goethe, reconheço
O império
da substância universal!
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Fonte
"Toda a Poesia: Antologia Poética". Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2015.
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