A Manoel Curvelo
I
Do lado de leste,
do mais alto cabeço da penedia, o vigia rompera a acenar com a sua camisola
vermelha. Era um magote de tainhas que negrejara ao longe, à superfície do mar
verde, caminhando na direção de terra.
No rancho do Amaro,
a muitas braças distante, estavam as duas canoas grandes, carregadas de redes,
puxadas de popa até meia praia, sobre grossos rolos enormes, com as suas proas
finas e alterosas de gôndolas que cortam as vagas iradas. Voltadas para o mar,
na maré que subia às vezes arrancavam por si mesmas, investindo contra o
oceano, na arrebentação espumosa. Então os tripulantes, camaradas e ajudantes
das redes, que se achavam deitados, à espera que o peixe aparecesse, fumando e
palrando à sombra do rancho que o vento do mar refrescava, acudiam correndo e,
atirando-se às ondas revoltas que os enchiam até a cintura, voltavam com elas
de rastos, praia acima, segurando-as pelas toleteiras e bancos, todos curvos e
rubros naquela rude aplicação muscular.
De repente, o
Delfino, um dos proprietários das redes, que estava de pé sobre um cômoro, a
fixar o mar e vários pontos da costa com os seus olhos de grande visão, deparou
com a enorme manta de peixe, ao mesmo tempo que dera com o sinal do vigia: e no
atabalhoamento constante de nervoso, os braços no ar, botou-se a toda para o
rancho, a gritar:
— Lá estão abanando! Lá estão abanando! Repontou agora, na altura dos
Ganchos, uma manta de peixe que é um Deus nos acuda! Corram! Olha as canoas que
larguem. Depressa!...
Todos ergueram-se a
uma, olhando o mar, com as mãos arqueadas sobre os olhos. Gritos estrugiam de
todos os lados:
— É verdade, que alentada que era, Nossa Senhora! Nunca se vira tanto peixe
assim! Eram para mais de cem mil! Aquilo ia coalhar tudo...
Além, de pé, sobre
a rocha alta, o vigia continuava a acenar.
As canoas largaram
imediatamente para as bandas da Ilhota, afogadas em rolos de espuma que
rebentavam ruidosamente à proa, levantando-as no ar. O pessoal das redes deitou
a correr por terra, abanando também. O peixe vinha pouco a pouco acostando,
entre a ponta do Rapa e as Feiticeiras. Aí as canoas aportaram por instantes,
largaram em terra o calão, que um camarada segurou logo e fizeram-se ao largo,
contornando por fora, em perpendicular à praia, o magote inteiro, agora mais
conglobado na volta da enseada.
À proporção que se
afastavam as canoas, o patrão, à popa, ia dando cabo — e a beta negra desenrolava-se, o chicote em terra, o seio a riscar as
águas balançantes. Depois, lá fora, além, as embarcações descreveram uma curva
em direção ao Canto das Pedras e as cortiças redondas começaram a flutuar,
espaçadas na tralha, como um cordão de enigmáticas reticências, que os
vagalhões sacudiam e desalinhavavam no seu dorso espumoso.
As canoas aportaram
de novo, vazias, alagadas das invasoras ondas hostis, conduzindo a outra ponta
da beta, que traçava sobre o mar como o desenho gigantesco de uma ferradura.
Naquele dia era
esse o primeiro lanço.
Os ajudantes e
camaradas, arrumados em duas turmas, uma a cada ponta do cabo, entraram a puxar
as redes em fila, a um de fundo, com os pés fincados no chão, caminhando de
costas, num esforço lento e poderoso de bois de canga, como se estivessem a
arrancar alguma pesada, invisível riqueza do fundo torvo do mar. Mas parecia
trabalharem esterilmente, porquanto o serviço não avultava senão em rolos
infindáveis de cabo, que rapazinhos arranjavam, aqui e ali, por sobre a faixa
branca da praia.
Entretanto o enorme
disco preto de ferradura diminuía aos poucos e as cortiças balançantes se
aproximavam mais...
II
Era em princípios
de junho, um domingo de tarde. No alto, o céu límpido e azulado arqueava-se
numa translucidez magnífica. À margem das estradas arenosas e brancas os
coleiros dobravam nas ramagens altas. Sopravam leves aragens de norte, cálidas
ainda neste começo de inverno. Os cafezais tufados cercam as casas de basta
verdura carinhosa, e os laranjais estrelados de frutos de ouro murmurejam e
lançam perfumes capitosos, que enlanguescem as lindas raparigas alegres que
perpassam, aos grupos, faceiras e de mãos enlaçadas, convidando-as a amar pelos
caminhos agrestes. Os campos de Canasvieiras verdejam e criam, com os seus
altos capões de mato, banhados de sol, adormecidos e cheios de silêncio numa
paz luminosa.
As filhas do Amaro,
como haviam combinado pela manhã, na missa, com as primas da Cachoeira, estavam
já à espera, sentadas ao paredão do terreiro, com os seus paletós brancos
bordados, vestidos de chita em cassa e fitas azuis no cabelo. Iam até a praia
ver as redes cercar, porque o dia estava admirável. Tinham-se juntado as duas
redes, a do pai e a do Delfino, da Várzea de Baixo. Depois o Justino, o primo
da cidade, o filho da tia Josefina, havia chegado na véspera à noite, com uns
moços, para o batizado do filho do Chico Abreu e, segundo tinha dito, na
igreja, talvez fosse até a praia, de tarde, com os companheiros, que desejavam
assistir ao lancear das redes.
E as raparigas do
Amaro tinham logo ferrado namoro com dois dos rapazes, apesar de uma delas, a
Candoca, achar-se comprometida com o Zé Souza, um rapaz moreno e robusto que
era patrão das redes.
Eles já tinham
passado, os rapazes, pois que a Rosa do Albino os avistara lá do morro, quando
fora mudar a vaca.
As primas chegaram
dali a instantes; mas antes mesmo de se beijocarem, as outras, que já estavam
inquietas, romperam a se queixar da tardança:
— Ave Maria, que tempo levaram! Já pensavam que não vinham!
Tanta demora! O que tinham feito até aquela hora, as preguiçosas?...
As primas atalharam
logo, sorrindo:
— Cruzes, mulheres! Que impaciência! Pois a que horas queriam que
viessem? Aquilo também não era sangria desatada...
E todas juntas
desceram a escada de pedra, apressadas, a cochichar ao ouvido umas das outras,
com risadinhas sonoras: tomaram à direita, muito alegres, pela estrada a fora,
com as fitas ao vento, numa palração animada.
Homens a cavalo,
vindos de longe, das Aranhas, dos Ingleses e das Capivaras, passavam por elas,
dando-lhes “boas tardes”, trotando.
As raparigas não respondiam quase, gracejantes, tolhidas por ondas de riso
torrencial, zombeteiro e cristalino, riso perene e roceiro das moças em bando.
E prosseguiam, enchendo o caminho de gorjeios e sonoridades inefáveis, a se
beliscarem entre si, aos empurrões e aos saltos, sentando-se às vezes na areia
clara a repousar por instantes, outras disparando loucamente, numa inquieta
expansão adorável. Assim chegaram à praia.
O sol ia rolando no
poente dourado: a praia branca faísca e um canto de mar reluz fantasticamente,
coalhado de ouro, com intensas espelhações cor de brasa.
III
Os camaradas e
ajudantes das redes colhiam, agora, com admirável trabalho de destreza, as
primeiras malhas. O peixe sentindo-se em seco, entrou a saltar, aos milhares,
com relâmpagos cor de prata, indo caído outro lado da tralha, com um ruído de
mancheias de pedras arremessadas à água. Cavaleiros, homens a pé, mulheres,
crianças, afluíam, correndo de toda a parte. E o peixe começou a alastrar a
praia, numa onda viva e colossal de corpos fulgurantes, torneados, polidos,
como formados de aço, a se debater, aos roncos, numa angústia e convulsão de
morte, as bocas abertas, ofegantes, como exalando almas. Eram tainhas do corso,
de mais de meio metro, lançadas ali aos milhares, de barriga argêntea e dorso
verde negro, a cabeça alentada, a chicotear tremulamente, com as escamosas
caudas de prata, o pó alvo, granulado da areia. As redes rojavam agora, em
desordem, naquele pedaço da costa, com o seu esburacado tecido de malhas, à
maneira de velhas bambinelas rasgadas, sacudidas à babugem e lixaria das
praias.
Mas os remadores
das canoas volveram logo a cuidar das redes, lavando-as e embarcando-as com
prodigiosa atividade, enquanto o resto do pessoal pegava as tainhas no lagamar
e sacudia-as ao alto da praia, contando-as aos pares, num enorme montão que
aumentava.
— Cem mil! gritou o Zé Souza, erguendo-se e mandando botar
para baixo o canoa que patroava.
As filhas do Amaro
e as primas olhavam, de cima de um cômoro, palrando alegremente, ao lado do
Justino e dos outros rapazes, que comentavam com admiração o prodigioso lanço.
Filhos da cidade, assistiam pela primeira vez, encantados, àquele belo
espetáculo. Só o Justino, que ali nascera e ali se criara até os quatorze anos,
havendo capinado outrora a sua terra e puxado a sua rede e o seu carro, e que,
não fazia muito tempo, deixara o sítio para se ir empregar na cidade — mostrava-se indiferente
a tudo aquilo. Contudo, às vezes, nos momentos de desânimo, que de saudades!
dizia. Os outros afirmavam que aquela vida era incomparável, não havia melhor.
E diziam querer envelhecer e morrer, serenos e cheios de paz, em um sítio como
aquele, com uma rede de pesca, uma roca, um cavalo de montaria, uma junta de
bois e um jarro, numa casinha branca, com o engenho da farinha ao lado, entre
pomares, ouvindo os sabiás cantar nas laranjeiras em flor.
As moças riam,
replicavam:
— Qual! Era o que eles diziam. Não havia nada que se comparasse
à cidade. Aquilo era um deserto, cheio de tristeza e miséria. Nem bailes havia!
nem festas! nem procissões! nem nada! Bem o podiam dizer elas, que ali passavam
a vida...
Mas o Zé Souza dera
com as raparigas e ficara a espreitar um bocado, surpreendido, por trás de uns
cavaleiros apeados — roído de ciúme, com uma palpitação repentina e
relâmpagos de ira no olhar. Já desde a véspera, à noite, em casa do tio Amaro,
na varanda, quando chegara e encontrara aqueles pacholas, tinha notado que a
Candoca não tirava os olhos de um deles. Marcara bem o sujeitinho, muito
disfarçado, a rir e a contar proezas. Aborrecido, quisera-o rebentar a murros,
logo à saída de casa, mas não o fizera por atenção ao Justino, que era seu
amigo, mesmo porque pensara, que a história não fosse adiante, pois eles
retirar-se-iam naturalmente após o batizado. Mas ali estavam ainda — ele muito tolo, ela muito derretida, a lambisgoia. O rapaz que não se
fiasse, entretanto, e se pusesse bem com Deus, porque ele já se ia azedando e
era muito capaz de lhe acabar com a casta.
Com efeito o Zé
Souza andava triste, sombrio passara a noite em claro e amanhecera desfigurado,
cavado, com uma grande agitação.
Os camaradas, que
haviam notado o transtorno perguntavam-lhe:
— Oh! Zé, o que é que tens, rapaz? Olha que estás hoje com uma
cara... Vá se ver que te fizeram por ali alguma!
O Zé Souza
desculpava-se:
— Que não! Nem sempre se estava para rir. Depois era melhor
que o não incomodassem...
Os amigos não lhe
tornaram a falar mais nisso, mesmo porque a faina das tainhas, absorvendo-os,
apagara de todo aquelas impressões...
Mas na canoa, que
estava a largar, os tripulantes entraram a gritar pelo Zé Souza. Ele voltou-se
de súbito:
— Já lá vou!
Em seguida, de um
pulo, galgou o espelho da popa, e caiu em pé no paneiro, governando a canoa,
que saltava na vaga — intrepidamente, com agilidade de profissional e de
artista.
A outra canoa já se
fizera também ao mar.
Iam dar o segundo
lanço. Mantas de peixe sucessivas vinham demandando a costa, à aproximação da
noite.
Na praia, havia
agora uma aglomeração de povo. A notícia das cem mil tainhas mortas à tarde — o maior sucesso da pesca naquele ano, no lugar — levada de boca em boca para o interior, despertara a boa
gente dos sítios, entediada e vazia nesse longo dia de descanso. E a população
das freguesias mais próximas parecia vazar-se toda para ali, à maneira desses
pequenos riachos que a baixa-mar entope, mas que nas grandes marés abrem foz e
se expandem para o mar.
IV
O sol desfalecera
de todo, entre púrpuras luminosas, quando teve lugar o segundo lanço das redes
e desta vez cento e cinquenta mil tainhas foram arrancadas ao seio inesgotável
do oceano. Imensos montões de peixe juncavam a praia, semelhando prateadas
dunas, que nesse instante imergiam na poeirada negra e invasora do crepúsculo.
Uma aragem fria agitava os palmeirais e o céu no alto começava a se dourar de
estrelas.
As raparigas do
Amaro e as primas, alegres e palradoras naquele prazer e bom humor que o namoro
produz, acompanhadas pelo Justino e os amigos, tinham-se ido recolher ao
rancho, onde o velho pai se achava e ardia o lume confortante e doce de uma
fogueira. Aí acomodaram-se todas, e mais as da Luíza Théa, que iam chegando, em
duas pequenas canoas que havia, enquanto os rapazes ficaram à porta, encostados
ao esteio grande da frente.
O Delfino tinha
dado ordens para que fossem à Rua Velha arranjar os carros para a condução do
peixe. As redes já estavam a enxugar, recolhidas aos varais. E as canoas
grandes de voga carregavam, prontas a seguir para a cidade, pela madrugada.
Mas o Zé Souza, que
seguira tenazmente do mar, da alta popa da sua canoa, num ódio surdo, oculto e
oprimido no peito como o explosivo das bombas, o triunfo do rival, sentindo o
coração amantíssimo num despedaçamento supremo à ruinaria daquela paixão que
era a alegria e o encanto de toda a sua vida — mal
largara o trabalho, viera encostar-se sorrateiramente a uma das empenas do
rancho, do lado dos fundos, a espreitar, por entre a tiririca espessa do teto
achaletado e baixo, a fim de melhor certificar-se daquela imerecida traição que
o alanceava e torturava tanto. E vendo a maneira por que o rapaz e ela se
entreolhavam e sorriam, cheios de ternura, à chama saudosa daquele fogo, que
estava para ali a arder, entrou a sentir um grande dolorimento e uma grande
saudade do tempo em que fora tão querido e tão amado por ela que, muitas vezes,
se encontravam sozinhos, aos abraços e beijos, à sombra dos laranjais...
Acometeu-o uma
horrível aflição, que lhe traspassava o peito com um regelamento de gume
afiado, quase a sensação arrepiante e mortal de mil lâminas elétricas,
espetando-lhe furiosamente as carnes. Veio-lhe um acesso de lágrimas, e
enterrava nervosamente as unhas no esteio onde se apoiava para poder sofrear os
soluços contínuos que lhe estrangulavam a garganta. E, por instantes, os
objetos em volta começaram a dançar-lhe sob os olhos alagados, onde toda uma
fileteação de cristal lhe raiava as imagens, roubando-lhe a nitidez da visão.
Muito perturbado, a esfregar desesperadamente as pálpebras, com a cabeça a
latejar de dor sob o acelerado martelar das artérias, que uma forte circulação
produzia, teve de repente uma ideia cruel de vingança — esbofetear ou destripar ali mesmo, em presença de todos, o miserável
que ousava destruir os seus afetos e perturbar a paz do seu coração. E
alucinado, investiu para a porta do rancho. Mas estacou de chofre, porque os
rapazes haviam agora entrado, e o tio Amaro estava lá dentro para impedir o
plano. E mordendo os beiços, numa fúria e numa medonha irritação animal,
resolveu aguardá-los, mas sem ser visto, do lado de fora, firme e de pé como
uma sentinela.
Vinham chegando os
primeiros carros, que faziam uma volta perto do rancho, rolavam para trás, indo
encostar o arcavero de encontro aos montões de peixe. E ouvia-se no escuro a
voz grossa do carreiro:
— Eh
Cativo! Eh Estrela! Fasta... fasta...
Os homens das redes
entraram então a jogar o peixe para dentro das sebes, sobre o estrado do carro,
aos trambolhões, numa faina de mil diabos. E de tudo aquilo exalava-se um
cheiro acre de maresia.
O Amaro saiu então
a dar ordens, enquanto o Delfino, por outro lado, despachava a multidão de
compradores de peixe, repartia o quinhão dos ajudantes e dos camaradas,
jubiloso e risonho, continuamente a bracejar e a falar, na sua grande animação,
daquela pesca opulenta. Na escuridão, ora mais condensada, havia um movimento
ruidoso, uma completa confusão de silhuetas que se cruzavam fantasticamente,
como num pesadelo dantesco. E através de tudo, ouvia-se, de vez em quando, um
intenso rosnar de cães esfomeados, que disputavam o sustento.
Era uma lufa-lufa.
Todos queriam ser simultaneamente servidos. Uns apossavam-se dos quinhões dos
outros e vice-versa. Ninguém se entendia.
O Delfino então
protestava, opunha-se:
— Que esperassem, os diabos! Que esperassem...
As raparigas e os
rapazes acudiam à matinada, iam deixando o rancho, quando o Zé Souza saltou de
repente de um canto, segurou o rival pela garganta, meteu-lhe um joelho no
peito, sacudindo-o longe, por cima de um montão de peixe. Em seguida
cavalgou-o, crivando-lhe a cara de punhadas hercúleas, sob as quais o sangue
espirrava, em jorros...
Todos então
correram, gritando
— Não o mates! Não o mates!
E seguraram o Zé
Souza, que debalde se debatia, rosnando:
— Deixem-me! Deixem-me! Quero ensinar este cão!
O Amaro e o Delfino
intervieram também:
— Tu estás doido, ó Zé? Toma juízo. Tu não tens vergonha?
O Zé Souza
afastou-se então, de cabeça baixa, silenciosamente, metendo a camisa para
dentro das calças. O outro, cercado pelos amigos, levantou-se, tonto, todo
sujo, a cara devastada, ensanguentada, empastada de areia, os cabelos revoltos,
à procura do chapéu.
As moças,
acometidas de grande susto, muito nervosas, tinham-se refugiado no rancho, sem
terem podido perceber bem o barulho — e
permaneciam ainda
inquietas, trêmulas, todas pálidas, a perguntar:
— Que fora? Que acontecera, Virgem Maria?
O Amaro apareceu ao momento, com o seu rijo
carão severo:
— Andem! Vamos! Só tinham vindo ali para aquilo... E até aquelas horas!...
As moças, muitos
sérias, muito tristes, puseram-se a caminho, sem uma palavra.
A multidão
principiava a retirar-se.
Os carros,
completamente atulhados, rolavam já pela praia acima, os rodeiros enterrados na
areia, chiando monotonamente. Os carreiros, na frente, a aguilhada ao ombro,
iam cantando a Tirana. E além vinha despontando a lua, redonda e
branca, a iluminar tudo com a sua luz fria e de prata.
Rio, 1891.
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Fonte:
Virgílio Várzea: Mares e campos. Poeteiro Editor Digital. São Paulo, 2014.
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