O PÁROCO DA ALDEIA
(Poemetos em prosa)
Ao Padre Dr. Leorne Menescal
É a providencia da pobre aldeia
aquele jovem sacerdote de tez morena e olhar carinhoso como um conselho de
Jesus.
A sua parca mesa está sempre ás
ordens dos mendigos, a sua porta aberta sempre aos viajantes, a sua boca
incessantemente murmura consolações ás pessoas que sofrem.
Muitas vezes, alta noite, vão
chamá-lo para ministrar os socorros da religião a algum enfermo, em qualquer
das aldeias que formam a serrana freguesia. Então, levanta-se ás pressas, monta
a cavalo e lá vai montanhas fora, a galope, ladeando tenebrosos precipícios,
sob a chuva, tiritando de frio, impassível como um herói e contente consigo
mesmo, sentindo-se alegre por ir cumprir um dos misteres que lhe impõe a sua
profissão, tão bem compreendida por sua bela alma!
Nada o assusta, nada o intimida,
pois tem a certeza de que todos aqueles montanheses simplórios amam-no sinceros
e respeitam-lhe os conselhos de paz e bondade.
Quando começou o movimento
abolicionista na Fortaleza, o reto sacerdote arvorou-se em defensor dos
escravizados na sua modesta paróquia da serra de Baturité. Em poucos meses,
graças a seus esforços e á ilimitada simpatia que a todos inspira, as aldeias
sob o seu vicariato não tinham um ser cativo: todos eram iguais!
Quando sai de casa,
encaminhando-se á pequena igreja, cuja torre branca de neve lança-se para o
firmamento no alto de verdejante colina, as criancinhas, que brincam ás portas
das casas, acodem a beijar-lhe a mão e as mães saúdam-no respeitosas,
balbuciando uma benção....
Aos domingos, á prédica do
Evangelho, vi-o, por diferentes ocasiões, fazer com a unção de sua palavra, que
as lágrimas borbulhassem nos olhos dos assistentes. Domina-os a todos com o seu
irrepreensível modo de viver, fertilíssimo em bons exemplos.
Nada possui: dá tudo aos
necessitados, sem ostentação, naturalmente!
Ah! bendito sejas tu, Providencia
da pobre aldeia, ó caritativo sacerdote de tez morena e olhar carinhoso como um
conselho de Jesus!....
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Nota:
João Marques de Carvalho: "Contos Paraenses" (1889)
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