AO SOL
(Poemetos em prosa)
A Fernando A. da Silva
Ó tu, que rolas por cima de
nossas cabeças, resplandecente como o escudo de nossos pais; donde saem os teus
raios, ó sol? Donde vem a tua luz? Caminhas em tua majestosa formosura.
Vendo-te, escondem-se as estrelas no firmamento; pálida e fria, a lua afoga-se
nas ondas do ocidente. Ficas sozinho, ó sol: quem poderia acompanhar-te o
curso?
Caem os carvalhos das montanhas;
as próprias montanhas são minadas pelos anos; o oceano eleva-se e abaixa-se
alternadamente; a lua eclipsa-se no fundo dos céus; só tu és sempre o mesmo.
Alegras-te sem cessar em tua
brilhante carreira. Quando o mundo está sombrio pelas tempestades, quando o
trovão ribomba e voa o raio, sais radiante do meio das nuvens e ris do furacão!
Mas, ai! em vão brilhas para mim!
O velho bardo já te não vê os raios, quer fulja a tua doirada cabeleira entre
as nuvens do oriente, quer trema ás portas do poente a tua luz bruxuleante.
Mas talvez, como eu, só possuas
uma estação e teus anos terão um termo: virá talvez um dia em que empalideças
no meio da carreira e a aurora próxima em vão esperará o teu regresso.
Regozija-te, portanto, ó sol, na
força da tua juventude! A velhice é triste e aborrecida: parece-se com as
tíbias claridades da lua, as quais perdem-se entre nuvens dilaceradas pelo
vento norte, quando este semeia ao longe as estevas murchas, quando o úmido
nevoeiro envolve a colina e o viajante transido tirita nos caminhos
desertos....
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Nota:
João Marques de Carvalho: "Contos Paraenses" (1889)
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