O CARRO DA SEMANA SANTA
A Elísio de Carvalho
Para nós, vindos de
peregrinar pelas igrejas, a luz Auer que iluminava o café era talvez desagradável.
Ficáramos todos lívidos, com uma face de orgia. Sob o teto baixo, entre as
mesas de mármore lustroso, os criados arrastavam os passos já meio exaustos, e
como a sala fosse forrada de espelhos, velhos espelhos que reproduziam
apagadamente os perfis, estávamos como num aquário, esquisitos, espectadores de
uma cena em que tomávamos parte, em que nos víamos a representar noutro mundo —
um mundo sem data, sem tempo, sem fim. Algumas vezes dávamos com um gesto nosso
a desaparecer de súbito esburado pela falta de aço num pedaço de espelho, e era
desinteressante, desoladoramente desinteressante. De resto, a noite fora
curiosa. Éramos um pequeno grupo : dois homens que riam de tudo e pagavam a
despesa, um menino com ares de Antino191 viçoso, cujos princípios todos ignoravam, um
poeta obrigado a ser espirituoso, dois jornalistas, eu. Havia também um homem
chamado Honório. Tomavamos uma mistura repugnante de álcoois variados e
tínhamos vindo cansados de dar encontrões na última igreja. A quinta-feira
santa dissolvera na cidade a impalpável essência da luxúria e dos maus instintos.
Quanta coisa de profano, de sacrílego, de horrível havíamos visto no
redemoinhar da turba pela nave dos templos? Fúfias dos bairros sórdidos
esmolando com a opa das irmandades para o Senhor morto, bandos de rapazes
estabelecendo o arroxo junto do altar-mor para beliscar as nádegas das
raparigas, adolescentes do comércio com os olhos injetados roçando-se
silenciosamente entre as mulheres, e mulheres, muitas mulheres, raparigas
vestidas de branco de azul, de cores vivas, matronas de luto fechado, pretas
quase apagadas em panos negros, mestiças cheirando a éter floral, com
gargalhadinhas agudas, o olhar ardente, todas como que picadas pela tarântula
do desejo. A dolorosa cerimônia tinha qualquer coisa da orgíaco, como em geral
as cerimônias religiosas deste fim de raça, em que os instintos inconfessáveis se escancaram ao atrito dos
corpos, nos grandes agrupamentos. Na Candelária, junto a uma das colunas, o
rapaz que lembrava Antino tivera a lembrança de se colocar entre uma cabrocha e
um alentado sujeito “para verificar o escândalo” dizia ele. Em S. Francisco, o
cidadão Honório batera no ombro de uma espanhola de mantilha, apontando-lhe a
porta, para dizer-nos quando já ela se sumia: “Uma nevrosada gatuna de
carteiras pela semana santa.” E nós estávamos afinal, naquele café do Carceler, perto de duas
igrejas a comentar a extravagância sensual da multidão.
— Fazer horrores junto ao
corpo do Senhor morto! Mas deve ser uma delícia! paradoxou o jovem ambíguo.
— Pois está visto! gaguejou
um dos desconhecidos que pagara.
Nós sorriamos, fartos de
igrejas e de sacrilégios, e íamos sair, quando o cidadão Honório, que até aquele momento não falara, murmurou:
— Tudo na vida é luxúria.
Sentir é gozar, gozar é sentir até ao espasmo. Nós todos vivemos na alucinação
de gozar, de fundir desejos, na raiva de possuir. É uma doença? Talvez. Mas é
também verdade. Basta que vejamos o povo para ver o cio que ruge, um cio vago,
impalpável, exasperante. Um deus morto é a convulsão, é como um sinal de
pornéia192.
As turbas estrebucham. Todas as vesânias193 anônimas, todas as
hiperestesias ignoradas, as obsessões ocultas, as degenerações escondidas, as
loucuras mascaradas, inversões e vícios, taras e podridões desafivelam-se,
escancaram, rebolam, sobem na maré desse oceano. Há histéricas batendo nos
peitos ao lado de carnações ardentes ao beliscão dos machos; há nevropatas
místicas junto a invertidos em que os círios, os altares, os panos negros dos
templos acendem o braseiro, o incêndio, o vulcão das paixões perversas. A
semana santa ! Tenho medo desta quinta-feira. Para quem conhece bem uma grande
cidade, esse dia especial sem rumores, sem campainhas, é um tremendo dia em que
os súcubos194 e os íncubos195 voltam a viver. Até as ruas cheias de sombra parecem
incitar ao crime, até o céu cheio de estrelas e de luar põe no corpo dos homens
a ânsia vaga e sensual de um prazer que se espera.
Às palavras do cidadão
Honório fizera-se em torno um espectante silêncio O homem era pálido, de uma
palidez bistrada. Estava vestido de preto e a sua mão exangue tinha no dedo
mínimo como a quebra-lo um negro morcego
de aço prendendo entre as garras o turvo brilho de uma opala. Só então reparamos
que não ria e talvez assustasse almas menos céticas. Ele, de resto, após uma
pausa, continuou sem que lho pedissem.
— Oh! sim! Tenho medo desta
quinta-feira porque vocês vêm o vício aparente, o vício às claras, o vício que
os jornais não noticiam apenas em atenção ao arcebispado. Eu vi o vício que se
não vê e dá o calafrio do supremo
horror, o vício misterioso e devorador rodando em torno das igrejas. Há três
anos acompanho-o. Ainda agora, ao sairmos da Candelária, lá estava ele na
praça, fatal, definitivo, cruel, esperando...
Aquela confissão era a de
um doente. O pequeno Antino abriu a polpa carnuda do lábio num sorriso de flor
que desabrocha
— Honório, que vício é
esse? Fale. Morremos de curiosidade,
— O vício que ninguém vê?
Conta lá.
— É o carro da semana
santa.
— O carro? regougou196 um dos cavalheiros, é boa, é muito boa!
— Quem sabe? fez Honório
pensativo. Depois, num repente: Há três anos, quinta-feira de endoenças197,
resolvi sair à noite. Não deveria ter saído. Neste dia a cidade visita igrejas.
Além das igrejas só a impressionam as confeitarias com os seus balcões de
bombons e os botequins. Saí, entretanto, assim de preto, com um fraque
idêntico. Estive numa confeitaria, hesitei alguns minutos, e afinal, como estivesse
no largo da Carioca, comecei a subir para a igreja da Ordem 3ª.
Ia inconscientemente quase.
Ao deixar a confeitaria, tinha o vago desejo de ver se encontrava qualquer
coisa de interessante, e estava ali, de repente, com vontade de uma perversão
qualquer, com o instinto de qualquer coisa de bem baixo, de bem vil, de bem
indigno, em que refocilar o meu temperamento à solta. Talvez as luzes trêmulas,
aquela gente que subia devagar e descia depressa, o cheiro de suor, de perfume
barato, de cosméticos e de cera, o roçar da canalha, o contato do meu corpo com
outros corpos, peles de mãos ásperas umas, algumas macias, sugestionassem os
nervos do meu pobre ser; talvez apenas fosse o fundo de lama com que fomos
todos feitos... O fato é que ao voltar a rua da Carioca, eu era um homem que
deseja, cuja percepção da luxúria é mais aguda, cujos nervos vibram mais. Uma
saia repuxada, o relevo forte de uma anca, Os encontrões brutais dos marçanos198 em traje de ver a Deus, dois olhos mais
acesos, faziam-me parar, retroceder, pensar em frases, morder o bigode, andar
devagar em torno dos vendedores de doces e de refrescos, excitado pela frescura
das peles, pelos trechos de carne ocultos, com as têmporas a suar frio e um
calor nas faces, uma palpitação... A vontade do acanalhamento devorava-me, e eu
ao mesmo tempo que queria satisfaze-la, queria oculta-la.
Ninguém, todavia, dera
ainda por aquela nevrose, quando senti perfeitamente dois olhos pregados nos
meus movimentos. Onde esses dois olhos? Eu os sentia, eu os sentia bem. Onde?
Voltei-me, observei, desconfiado. A turba rumorejava na semi-penumbra. Não
havia ali cara que me olhasse. Só, perto do chafariz, dando àquele canto uma
nota anormal, uma velha berlinda199 com os stores200 arria- dos, parecia esperar alguém. Que
berlinda, filhos! Lembrava um velho carro da Assistência. Era suja, era grande,
era vasta, quase um leito. Na boléia o cocheiro parecia de pedra, e os
stores de pano vermelho estavam imóveis. Estaria vazia? Esperava mesmo
alguém? Dei uma volta indagadora em torno, e tive, oh! sim! tive a certeza de
que ali dentro havia uma criatura, que ali vibrava estranhamente alguém, porque
assim como sentira o calor, o fluido ardente de dois olhos fixos sobre mim, a
descobrir-me a alma, sentia agora que a minha observação perturbava esses
olhos. Quem estaria naquele carro? Quem? Um homem? Uma mulher? Quis falar ao
cocheiro, mas, de repente, a berlinda pôs-se em movimento, desaparecendo
pesadamente na rua do Uruguaiana.
Fiquei um instante
trepidante, nervoso. Mas é um fato que quando as crises de pornéia da multidão
agem sobre os nervos dos fracos, esses começam por desejar seguir alguém, seja
quem for, com desejo flutuante, o seio indeciso e como que tocado também de uma
curiosidade malsã pelo vício dos outros. O carro desaparecendo caiu-me uma vaga
tristeza. Como seria agradável o que se
fazia dentro, nas suas velhas almofadas! Larguei-me para a Candelária, que me
pareceu um teatro tanta era a gente e tanta a luz elétrica, e estava lá
roçando-me à turba, quando vi um conhecido. Saí então, à pressa, sem lhe dar
tempo aos cumprimentos e às fatais perguntas ; saí, mergulhei de novo nas ruas
mal iluminadas, em que o luar punha uma suave pulverização de sonho. Iria a S.
Bento, que tem um morro, árvores, mais sombras, mais recantos sugestivos, o
Arsenal pegado e a vista do mar — o pai de todos os grandes vícios
incomensuráveis...
Quando, porém, ia chegando
ao Arsenal, lá dei com o carro outra vez, vasto como um quarto, com o cocheiro
impassível e os stores vermelhos. A sombra cobria a calçada; no céu
andava a lua num estendal201 de
ouro pálido. Que esquisito peregrinar! que estranha peregrinação ! Abriguei-me
no desvão de uma porta. Passaram-se dez minutos assim, e era impossível apagar
a ansiedade dos meus nervos para descobrir o enigma. A berlinda parecia tremer
a capota empoeirada sob o sudário do luar. Depois, rodou devagar, como se
tivesse uma alma e estivesse a disfarçar uma ação feia. Ao chegar ao escuro beco
de Bragança parou, a portinhola abriu-se, uma sombra golfou, a então aí a
berlinda precipitou a marcha. Deus! que seria aquilo? Um crime? Uma
extravagância? A passeata de algum crente agonizando, que tivesse feito a
promessa de arrastar a sua agonia aos pés de todos os corpos de Jesus expostos?
Mas a sombra? Eu amo o horror das coisas inacreditáveis. Meti-me quase a correr
pelo beco. No meu cérebro havia um escachoar de idéias...
Não encontrei a sombra, o
vulto que eu vira sair do carro. E a procura-la, de rua em rua, com a face a
queimar, fui até a igreja do Rosário. Como? Não sei. O sangue latejava-me nas
têmporas, um suor viscoso molhava-me a pa1ma das mãos. Quando dei por mim,
tinha diante de mim a velha igreja, e ao canto esquerdo do templo, exatamente
igual, tal qual, a velha berlinda. Concidência... Há desses encontros de gente
que nunca se falará, em reuniões dominadas pelo vício. Não filosofei, porém.
Fui ao cocheiro, querendo saber. — “Olá, camarada, desocupado?” — “Não”,
respondeu ele seco. — “Pago bem.” — “ Não posso, já disse.” — “Tem alguém aí
então?” O cocheiro cuspiu para o lado. “Ó seu, vá se pondo fora, se não
quer que lhe aconteça alguma.” Fiquei sem palavra e ele tocou.
Mas o desejo de conhecer a
razão daquelas paradas à beira das igrejas era muito. Segui por onde vira
perder-se a berlinda. “Ainda a vejo hoje!” pensava. E de fato, fui encontra-la
quase ao fim da noite, em frente à catedral. do lado do largo do Paço. Não me
aproximei. Era melhor esperar de longe. O trecho da rua ardia em luzes, tal
qual como hoje. Vendedores ambulantes serviam com estrépito refrescos e doces.
Gente de preto ia, vinha, passava, desdobrando pelas calçadas negras serpentes
intérminas. Fuzileiros navais ébrios, malandros de calça bombacha, marinheiros,
formavam grupos perigosos, fora da calçada. Criaturas ambíguas chispavam
olhares desvairados de esguelha, no borborinho da populaça. De repente, o carro
começou a mover-se, foi até a Rua Sete, depois embicou para a esquerda, para o lado
dos jardins. Precipitei-me. A berlinda misteriosa acompanhava um marinheiro,
forte homenzarrão hercúleo e jovem. Não havia dúvida. Era. Oh! se era! Ia
devagar, devagar... O marinheiro, a princípio hesitava. Em seguida pareceu compreender
a ínutilidade de fugir, relanceou os olhos a ver se o espreitavam, e seguiu
bamboleando o passo, —um passo que espera o chamado. Em frente ao Telégrafo parou,
cortou pelo jardim, como se fosse para o ex-mercado. A berlinda rodou mais
depressa pela primeira quebra dos jardins, e foi encontra-lo, já atravessando a
rua para a rampa. Aí o rapagão estacou.
O carro também. De dentro
falaram, deviam ter falado, porque o marinheiro aproximou-se da portinhola que
se abriu, tragando-o. Fiquei estarrecido, com tais palpitações que sentia no
pescoço a artéria bater. Já a berlinda descia lentamente, como quem dá uma
volta à espera de freguês. Perto de mim, meia
dúzia de catraeiros olhavam com esse ar de mordente complacência que a
canalha tem para receber as fraquezas da gente da alta. Compus a fisionomia,
indaguei.
— É boa aquela do carro,
hein?
— É danada! respondeu um
dos tipos.
-— O que admira é a
resistência dela! exclamou outro.
— Como resistência?
— Pois v. s. não sabe? É a
mulher do carro da semana santa. Já está muito conhecida. Vem sempre naquele
carro e chama os que lhe agradam...
— E vocês vão?
— Rapaziada não respeita...
ela paga bem.
— E são muitos?
— Ela só aparece na semana
santa. Mas é até pela manhãzinha.
Recuei. Ali, naquele velho
carro, rodando à beira das igrejas, uma Górgona de vício abria a fauce tragando
as flores da ralé, gente que lhe servia de pasto a troco de dinheiro; naquele
carro silencioso estorcia-se uma nevrose desesperada; naquela berlinda,
misteriosamente a fúria de um súcubo, a ânsia de uma diabólica fundia nos
braços um bando de homens com o desespero sensual despedaçador! Oh! o vício que
se não vê! Essa criatura, essa criatura! E, há três anos, todas as
quintas-feiras santas, acompanho a berlinda procurando vê-la, procurando
encarar o polvo de luxúria, que lá dentro distende os tentáculos. Quem será?
Uma senhora de sociedade? Uma perdida? Sei lá! Uma louca, uma desvairada, uma
desgraçada, de que ninguém sabe o nome, de que ninguém talvez possa reconhecer
o semblante, na rua, quando passa...”
— Delicioso caso! fez o
efebo literato erguendo o corpo airoso, que recordava os pagens dos Valois.
Honório pôs-se de pé. Todos
nós fizemos o mesmo em silêncio. A história impressionara, e principalmente a
ele, ao Honório, ao próprio narrador. Talvez quisesse ainda rever a berlinda. O
fato é que chegou à porta, consultou o relógio, e ia despedir-se, quando de
súbito esticou a mão exangue, onde a opala lembrava o perturbado brilho de sua
alma.
— Olhem, lá está ela, lá
está... Era fatal... Ninguém sabe o que encerra. É o segredo das vítimas. Não.
É o segredo dela apenas... Espera de certo alguém. Estão vendo? Naquele pedaço
de sombra, junto à igreja... Ao lado há um beco. A vítima sairá do beco...
Espantoso. Já ouvi dizer que é uma mulher com bexigas, outrora bela. Um dos
convidados conseguiu, disse-me, ver-lhe a cara através do véu. Conta que é
queimada. Mas não. Outros asseguram que tem pústulas. É a lenda. A opinião
geral é mesmo a de ser uma formosa senhora de alta posição. Não! não é nada
disso. É apenas o horrível vício que se não vê. A luxúria exasperada...
Nós olhávamos a sombra,
nervosos, como à espera. Honório falava entrecortado, estava quase de cera, e
parou subitamente de falar. Uma camisa branca surgira à portinhola da berlinda,
parara. Era um adolescente. Vimos um gesto de negativa, vimos, apesar do gesto,
a portinhola abrir-se, vimos o rapaz pôr o pé no estribo, ser como que puxado,
e logo o ruído seco da portinhola.
— Mas é um crime! ganiu um
dos senhores que pagavam as despesas.
— Quem sabe? fez frio o
cidadão Honório.
Nesse momento as luminárias
da igreja apagaram. Acabara a visitação ao Senhor morto. Havia a confusão
natural nos fins de tais solenidades: gente apressada, senhoras nervosas por
apanhar conduções, homens parados a ver se lhe agradavam as mulheres, gritos
mais fortes de vendedores ambulantes, estalar de chicotes, carros, chamados,
pragas. E, como a rua tivesse caído na sombra, já se sentia o luar da noite
esplêndida iluminar os jardins intérminos, lá, mais longe.
O cidadão Honório
despediu-se. O carro rodava devagar no meio da turba compacta. Era o mesmo
carro de que ouvíramos a história, velho, sujo, vasto, lembrando a Assistência,
o mesmo a levar o horror desesperado, a fúria da volúpia voraz. O pavoroso
mistério do vício delirante...
Notas:
Notas:
191 - Adolescente grego,
favorito do imperador romano Adriano. Exemplo de beleza andrógina.
192 - Devassidão.
Libertinagem.
193 - Doença mental.
194 - Demônio feminino que
faz visitas noturnas aos homens adormecidos para copular com eles.
195 - Demônio masculino que
faz visitas noturnas às mulheres adormecidas para copular com elas.
196 - Som emitido pelas
raposas.
197 - Quinta-feira da Semana
Santa.
198 - Aprendiz de caixeiro.
199 - Coche de quatro rodas,
de quatro a seis lugares.
200 - Cortina. Persiana. Em
francês no texto.
201 - Superfície ampla.
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Nota:
João do Rio: "Dentro da noite" (1910)
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