FANTASIA
MÍSTICA
A flor, pálida e triste,
esmorecida na solidão gelada; o sol passou; e o seu calor deliu o gelo.
Do dia em meio ao solar
ardente passava na solidão, — a flor, o raio seu beijou; a flor corou,
tremeu...
Lá no Infinito, nuvens
escuras, nuvens de tormenta, entanto perpassavam; talvez o vendaval, talvez o
raio...
Mas o sol vira a flor
pálida e triste; o branco seio gotejava lágrimas; o sol secou-as; a flor corou,
sorriu...
E o branco seio derramou
perfumes, e a solidão se revestiu de encantos, e no perfume e na doçura grata,
sonhava o sol, sonhava...
Mas, lá no Infinito se
agrupavam nuvens... era talvez o raio, talvez o vendaval!
A nuvem o sol cobriu e tudo
escureceu; uma lágrima de ouro foi cair da flor no branco seio, lágrima que a
luz do sol tornava ardente...
E a flor guardou no seio a
gota incandescente e tão mimosa, — alma de luz, que, envolta em seu perfume,
ficou no seio dela.
De novo a solidão, o gelo,
e a flor mais desmaiada e triste; ai! Quando volveria o sol que a alma lhe
deixou no seio...
Quem sabe!... ficou-se luz
de esperança, foi uma estrela pálida e chorosa errante pelo Céu!
Viajor, viajor da vida, tu
foste o sol; a flor que viste em teu caminho de urzes, guardou o teu amor, e o
Céu guardou-lhe a esperança...
Segue teu rumo viajor da
vida, mas ergue a fronte e o olhar: — não vês, lá no Infinito, uma estrela
brilhando?...é a Esperança!
---
---
Nota:
Delminda Silveira: "Lises e Martírios" (1908)
Nenhum comentário:
Postar um comentário