quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Humberto Del Maestro: "5 Poemas"

ITABIRA

Erecto, sobre o púbis da colina,
exibe altivo o excesso de vigor
pela manhã, à noite e no rubor
da tarde voluptosa que declina.

Granítica figura, tem por sina
vencer o tempo, as águas e o calor.
E qual um deus pagão, em rico andor,
da base ao topo a vastidão domina.

Orgulho-me de ti, rude Itabira
(denso bastão no cio que delira
de luxúria, num hábito griséu),

porque entre nuvens, qual tensor jucundo,
não te intimidas de mostrar ao mundo
o imenso falo a deflorar o céu.

  

BASÍLICA DE SANTO ANTÔNIO

Suntuosa e bela, no alto da esplanada,
fruto do amor cristão, pérola rara,
ergue-se altiva, em placidez que aclara,
do paduano a esplêndida morada.

Prônuba chama, vênera, cercada
do orvalho de orações, alva, preclara.
Mira-lhe o voo o milenar Mochuara;
busca o infinito, sobe, indene, alada.

E lá no espaço, esbelta, compassiva,
aio divino que, às manhãs, aviva
toda a doçura do azulado véu,

branda, sorrindo ao coração da gente,
parece mais as emoções de um crente
a vasculhar as amplidões do céu.



O FRADE E A FREIRA

Quando passo na estrada e vejo no alto
esses dois monumentos de granito,
meu pensamento empolga-se e, contrito,
não contém repentino sobressalto.

É mensagem divina ou simples mito
que distingo surpreso deste asfalto?
Tocou a mão de Deus nesse planalto
ou mera fantasia agora fito?

O que sei é que o coração risonho,
enlevado talvez por almo sonho,
impulso ganha e ao topo me conduz

para escutar a confissão serena
desses amantes castos, cuja pena
sublime cumprem, num altar de luz.



O PENEDO

Monumental e másculo gigante
a contemplar a terra da vitória.
És testemunha vívida da história
desta gente operosa e cativante.

Quem, senão tu, conhece de memória
os feitos deste povo edificante
e a beleza desta ilha fascinante,
onde o cantor consegue palma e glória!?

O mar beija teus pés; a brisa, a fronte.
Imponente, mais alto que o horizonte,
num silêncio profícuo, sem cansaço,

vigias a cidade, frente a frente...
E aí tu ficarás, eternamente,
como um dedo granítico, no espaço.



DESPEDIDA

Quero morrer ao sol de um dia lindo,
ao contato de brisas perfumadas,
quando a orquídea de luz do espaço infindo
se abraça ao mundo em doces gargalhadas.

Pouco valor verei nas madrugadas
com aromas de pétalas se abrindo,
se não me encontrarão sereno, rindo
junto às cores que eu amo, derramadas.

Quero morrer assim, em pleno alento,
entre afagos de rosas, lírios, vento
num momento em que julgue estar feliz.

Ao lado de quem amo, um terno evento,
sem rancores, sem mágoas, sem tormento,
mas longe da mulher que não me quis.


Fonte:
Revista da Academia Espirito-santense de Letras: Novembro, 2014.

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